Por: Kleber Marin, de Barueri, SP
Qual a relação entre o homem e a sociedade? Qual o impacto do capitalismo na vida das pessoas? Em que medida a tecnologia modificou a vida em comunidade?
O ser humano, na sua relação com o mundo e na maior parte da sua história, sempre procurou contato com a natureza. E nesse contato, através do seu corpo e da sua consciência, descobriu o que é o mundo e como transformá-lo.
Além disso, desta relação surgiu à sociedade e, por consequência, o modo de vida das pessoas, que por sinal em nosso país pelo que se tem notícia começou com os indígenas com uma cultura tribal e depois com os estrangeiros europeus, os quais impuseram um regime de escravidão que abrangeu gradativamente todo o território.
Por exemplo, em nosso país foram mais de três séculos de escravidão em que os índios e depois os negros, africanos e seus descendentes, serviram de mão de obra a portugueses e brasileiros que não só se impuseram em nome da coroa portuguesa, mas também se apoderaram de terras em que os índios viviam. E durante esse período, nunca houve uma relação pacífica de forma que fosse instaurado um diálogo amistoso entre esses diferentes grupos, pois o único objetivo era explorar os recursos naturais utilizando mão de obra escrava de modo a atender os anseios da colônia portuguesa.
Até a nossa independência, em que o território deixou de ser colônia e passou a ser um país. E década depois veio à abolição onde lentamente aconteceram mudanças na relação de trabalho cuja mão de obra passou a ser vendida em troca de um salário. Em outras palavras, se o capitalismo provocou mudanças na sociedade, logo as pessoas passaram a ser livres.
Bem como, quando se descobriu décadas depois quando já existia não só o jornal e o rádio, mas também a televisão, que o corpo se comunicava com o meio ambiente. Ou seja, além dos produtos e serviços serem oferecidos, também surgiu à propaganda com base no corpo, de maneira que as pessoas conhecidas da sociedade passaram a vender a sua imagem associada não apenas a um determinado produto, mas também um serviço, com o propósito que aquele produto ou serviço passasse a fazer parte do cotidiano das pessoas. O que quero dizer, o capitalismo não só modificou a relação de trabalho, mas também modificou a relação social. A pessoa além de vender a sua imagem, recebia certa quantia por isso.
Enfim, se o corpo que era alvo de escravidão no passado, com a mudança na relação de trabalho, o corpo passou a ser vendido com anuência da própria pessoa, uma ação praticada de forma livre.
Todavia, com efeito, as pessoas não passaram a ser livres com o capitalismo. Muito pelo contrário, pois se antes o homem tinha contato com a natureza, que o fez não apenas conhecer o mundo, mas também escravizar outras pessoas, atualmente isso se modificou, de modo que o homem ao invés de se tornar livre, passou a ficar preso ao seu próprio consumo, sobretudo, o tecnológico.
Isto é, deixou de existir uma relação homem – natureza, e passou a existir uma relação tecnologia – homem, de modo que inconscientemente se dissociou dos seus aspectos humanos, um ser de sentimentos e emoções. E se tornou não só refém de um sistema em que outros decidem sobre o que deseja, mas também ficou cativo a um comando para encontrar a sua felicidade.
Dito de outro modo, o ser humano ao se afastar da natureza mudou o seu comportamento na sociedade, por exemplo, se antes o homem tinha contato com o que produzia, hoje não é mais desta maneira, existe um desconhecimento não só do que se produz, mas também do que se consome. Haja vista os alimentos industrializados e, ou os serviços oferecidos, que no cotidiano, afasta o ser humano de uma relação de convivência entre o que se produz e o que se consome. Enfim, tudo passou a ser determinado por outrem. E o ser humano simplesmente consome, atingindo assim o objetivo fim do capitalismo.
Além disto, essa mudança de comportamento provocou alterações nas pequenas estruturas sociais, ao passo que se antes a ideia de coletivo conferia como o modo em que as pessoas se reuniam para decidir os problemas comuns, hoje não é mais assim, pois estamos ancorados não apenas no individualismo, mas também em um modelo próprio de hierarquia. Um individualismo que enfraquece o conceito de coletivo, grupo, comunitário e, atribui a outros resolverem os problemas comuns. E um modelo de hierarquia para que o ser humano não tenha mais opinião própria.
Portanto, a mudança que o capitalismo propôs a sociedade não contribuiu para a liberdade do ser humano.
*professor de Educação Básica I e professor de Filosofia no município de Barueri, região metropolitana de São Paulo.
Comentários