Por Gleide Davis, de Salvador
Existem diversos debates e fontes de opinião que respaldam a importância da representatividade para minorias atualmente. Esse termo tem se tornado latente e importante nos debates sobre racismo, ora casado com o termo “empoderamento”, ora associado à importância de lideranças dentro do espaços políticos.
Representatividade no seu sentido cru e literal, significa tudo aquilo que lhe é representativo, que lhe causa auto identificação e similaridade de imediato. Nos movimentos sociais, a representatividade ganhou um viés de associação de poder, de necessidade de “se enxergar” em cargos de alto escalão social, seja político, seja midiático, trazendo para os grupos de minoria (mulheres, negras(os), LGBTs) uma representação social.
No Brasil, onde cerca 55,5% da população é negra e parda (IBGE, 2015) e cerca de 51,5% é composta por mulheres (IBGE, 2012), não há na mídia um destaque suficientemente decente para a colocação de negras(os) e mulheres em papeis de novela, por exemplo. Os negros ainda são destaque em papéis antagônicos, ou em cargos subalternos onde há a romantização e reforço de estereótipos racistas; as mulheres como empregadas domésticas, com pouco estudo e que invejam suas patroas brancas; os homens, bandidos e/ou empregados de homens brancos bem sucedidos. Assim, entendemos que a representatividade se bem utilizada na mídia, traz um importante papel de demonstração da realidade da população brasileira e de auto estima estética e intelectual da população negra.
Porém, a representatividade vislumbrada apenas pela raça e gênero é insuficiente no que diz respeito ao combate efetivo do machismo e racismo na nossa sociedade que é portanto, capitalista. Nos EUA, o berço do imperialismo, um presidente negro foi incapaz de diminuir o racismo, os inúmeros casos de genocídio da juventude negra mostram claramente isso.
O próprio capitalismo se debruça sobre o tema, para a burguesia, é importante atualizar temas sociais para se manter enquanto classe dominante, por isso observamos o tema da representatividade aliado ao empoderamento como uma tática oportunista para criar novos moldes de consumo para novos nichos de mercado; a maquiagem como um item político para mulheres negras é um forte exemplo disto; sabemos que a grande maioria das mulheres negras não podem arcar com itens de maquiagem e que esta não é de forma alguma um item político e que portanto, o empoderamento é uma pauta que em diversos momentos ignora as problemáticas que beiram a opressões de classe.
A representatividade precisa estar para além dos fenótipos, a representatividade precisa ter viés político, precisa prezar pelo lado dos oprimidos e da classe trabalhadora, pois foram através de movimentos sociais da classe, que conquistamos o direito ao voto, a cotas, ao mercado de trabalho e afins, através de movimentos constituídos por mulheres e negros trabalhadores que juntos buscaram ideais políticos emancipatórios. Para nós socialistas, a representatividade política não pode se ater apenas ao fato de ser negra(o), mulher e/ou LGBT, é necessário que exista um programa político capaz de trazer medidas que a curto, médio e longo prazo, determinem gradativamente o fim das opressões na sociedade, para nós a representatividade puramente por fenótipos não nos representa, ao contrário, pode dar uma falsa ideia de que o capitalismo não nos é hostil, quando na verdade, apenas negros e mulheres que cedem aos interesses da burguesia estão no poder.
Enquanto mulheres estiverem usando poder de classe ou de raça para dominar outras mulheres, a sororidade feminista não poderá ser totalmente realizada. – Bell Hooks
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