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CULTURA

O futuro positivo de Star Trek

Por Mariana Rio

Star Trek venceu a batalha contra o tempo. São 50 anos de histórias para entrar no coração ou esquecer atrás da porta.

Nasci no começo dos anos 90 e não vivi o fenômeno Star Trek em seu auge, mas tive a oportunidade de assistir os filmes da série quando criança. Não vou mentir, sempre gostei mais da saga Star Wars. Achava que Darth Vader impõe mais respeito do que Khan, com aquele cabelo estranho e peito aberto. Mas hoje assistindo alguns episódios antigos de Star Trek e Star Trek: A Nova Geração, minha opinião mudou.

O primeiro episódio da série foi exibido em 08 de setembro de 1966, em plena Guerra Fria e durante a luta por direitos civis nos Estados Unidos. Era uma época em que a ficção científica era considerada um gênero menor. Um homem chamando Gene Roddenberry colocou uma mulher negra, um asiático engenheiro beberrão, um russo, um extraterrestre assexuado e um loirinho desconhecido dentro de uma nave espacial. Em cada episódio, os membros da frota tinham que enfrentar desafios que representavam uma alegoria para os conflitos contemporâneos.

Durante seus primeiros anos, a série não alcançou a audiência capaz de garantir facilmente novas temporadas. Sem a ajuda de Lucille Ball, a eterna Lucy de I Love Lucy, cujo estúdio bancou as filmagens e quase faliu, a séria nunca teria alcançado o fim do segundo ano.

Meio que sem querer, Star Trek ajudou a criar a cultura Pop e Geek como conhecemos. Sem ganhar o grande publico em sua época, a série conquistou significativos fãs, que de tão devotados à mitologia, começaram a fazer convenções, abrir lojas e editar revistas. Hoje podemos considerar Star Trek como o pai das fanfic e do universo compartilhado e expandindo.

Cinquenta anos depois da exibição do primeiro episódio da série Star Trek, foi lançado no início do mês o terceiro filme do novo reboot da série, “Star Trek: Sem Fronteiras”. Nessa nova versão, a nave Enterprise é comandada por Chris Pine (como o Capitão Kirk) e Zachary Quinto (Sr. Spock).  “ Star Trek: Sem Fronteiras” é um bom filme, os efeitos especiais são de qualidades e as atuações medianas. E o mais importante: respeito ao legado da série. Os primeiros filmes da nova franquia, dirigidos por J. J. Abrams, eram mais sombrios. Já esse “Star Trek: Sem Fronteiras” é mais cômico e leve. Teve até uma homenagem ao Leonard Nimoy, o Spock original. Teve gente que criticou essa nova leitura, mais achei uma ótima ideia o Hikaru Sulu ser gay. Achei que foi mais uma homenagem a uma série que sempre foi a frente de seu tempo e progressista.

Desde sua criação, vários é spin-offs e reboots da franquia foram lançados. Toda década tem uma nova safra de filmes e séries. A Netflix confirmou que ano que vem vai distribuir a nova série da CBS de Star Trek.

A cada 10 anos um crítico cria uma lápide imaginária para a franquia, mais ela sempre ressurge. Digamos que, nesses 50 anos de história, nem todos os filmes e séries que levaram o nome Star Trek tinham qualidades artísticas para se admirar e a série clássica durou apenas três temporadas e foi cancelada pela baixa audiência. Mas também quantas obras de arte foram injustiçadas em sua época e hoje são obras incontestáveis?

A atemporalidade de Star Trek só pode ser explicada pela sua fé e esperança na humanidade e por mostrar temas demasiadamente humanos. O legado da série vai além dos bilhões que Hollywood ganhou com franquias e spin-offs. O verdadeiro legado de Star Trek está em sua filosofia e coragem de tratar temas tabus de uma forma otimista. Sua influência é tão grande que algumas invenções tecnológicas provavelmente não teriam existido sem um empurrãozinho da série.

Numa época de Donald Trumps, refugiados, golpistas e terroristas fundamentalistas, o futuro imaginado por Star Trek está cada vez mais distante. Nunca fomos tão avançados e ao mesmo tempo tão primitivos. Star Trek foi uma boa representação do poder benéfico da cultura pop sobre as pessoas. Os apontamentos para o futuro, mesmos idealistas em alguns sentidos, mostravam um mundo para ser construído, um mundo de igualdade e diversidade.

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