Por: Gleide Davis, colunista do Esquerda Online
Nos últimos dias, estamos vivenciando um cenário político de muita tensão. Para uns, o medo das conquistas populares cercam e fazem perder o sono. Para nós, a consolidação de um governo ilegítimo caracteriza a voz muda da classe trabalhadora no regime eleitoral. Sabemos que o governo anterior encaminhava-se para um processo de recessão do que outrora havia concedido, que o caminho a ser trilhado estaria entre ajustes fiscais, cortes na educação, na saúde e nos próprios programas sociais estipulados pelo PT.
A nossa reivindicação não é recente, nossa indignação nunca foi diferente, sempre soubemos o quanto a classe trabalhadora e o quanto as minorias vêm sofrendo nos últimos anos que se mesclam entre PT, PMDB e PSDB. O cenário sempre nos foi hostil, nunca tivemos o direito de baixar a guarda. As mulheres, homens, crianças e idosos da periferia nunca sentiram o gosto da democracia que é saboreada por quem vive fora da nossa realidade.
A realidade periférica sempre perpassou entre invasões de residências, estupros de crianças e assassinatos de jovens negros em operações policiais que na verdade são verdadeiros extermínios sociais. No governo do PT, houveram chacinas em todos os estados do Brasil, a população negra foi dizimada pela polícia com o aval do estado, o governador da Bahia, Rui Costa (PT) comparou os policiais responsáveis por matar 13 jovens numa mesma noite, com artilheiros que marcam gols em final de campeonato. Foi no governo do PT que a lei antiterrorismo foi sancionada, uma medida claramente tomada para conter as nossas denúncias de desvios de verbas para construção de estádios e estruturas nos eventos internacionais que foram realizados no país. A polícia nunca deixou de ser a mesma, a linha auxiliar da burguesia. Sempre agiu pelos interesses dos mesmos. A classe dominante sempre se utilizou da força para conter agitações populares, ou qualquer reivindicação que extrapolasse o senso comum.
A população LGBT morre por hora nesse país, as mulheres ainda são vítimas de violência a cada cinco minutos. As minorias não tiveram o direito de respirar o tal ‘comunismo petista’ que a classe média tanto prega. Não sentimos o sabor dos privilégios que a aristocracia tanto reclama sobre nós. Por este motivo, sempre estivemos prontos para batalhar, nunca baixamos nossa guarda, nunca abandonamos o campo de batalha. Para nós negras e negros da periferia, a repressão militar é só um cotidiano que nos faz pensar que a ditadura nunca nos abandonou.
Não existe política, economia ou quaisquer outras coisas burguesas sem que haja a força da classe trabalhadora, a nossa força determina as diretrizes sociais. Por isso, não devemos desistir de construir uma sociedade livre do racismo, machismo, LGBTfobia e dos desmandos da burguesia exploratória. A nossa realidade grita por uma sociedade construída plenamente para os nossos interesses. Esse é o momento de invadirmos as ruas mostrando que nós comandamos a dinâmica socioeconômica deste país, porque para nós, não existe temor, não existe resguardo, nossa luta é incessante, são todos os dias, pela nossa própria sobrevivência.
Como Marighella, guerrilheiro comunista, negro e baiano que lutou até o último suspiro pelo fim da Ditadura Militar disse: “Não temos tempo pra ter medo”.
Comentários