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BRASIL

Era uma vez uma partida de futebol

Era uma vez uma partida de futebol entre os Azuizinhos e os Vermelhinhos. Os times disputavam a Copa do Brasil. Antes do início do jogo, as torcidas já estavam confiantes, vibravam e gritavam palavras de ordem uma a outra. O jogo iniciou e se manteve empatado o primeiro tempo inteiro. As torcidas continuavam empurrando seus times. No final do primeiro tempo, o camisa 13 dos vermelhinhos driblou o 45 dos azuizinhos num lance apertado, e, achando um pequeno espaço, chutou e marcou um golaço. A torcida vermelha bradou euforicamente o grito que estava entalado na garganta durante o primeiro tempo inteiro: “Gol!”.

Iniciou o segundo tempo, e, ganhando de um a zero, a torcida vermelha começou a calar a voz paulatinamente. Foi quando alguns líderes da torcida azul aproveitaram a oportunidade para ocupar os ouvidos de todos com os gritos de guerra. E de repente a torcida azul se uniu num uníssono que a fez parecer infinitamente maior que a vermelha. Os jogadores dos dois times sentiram a pressão, assim também o juiz. Quando os jogadores vermelhos tocavam na bola, as arquibancadas chiavam, especialmente quando o número 13 pegava na bola. A torcida vermelha nessa hora estava dividida, pois muitos estavam descontentes com o que seus jogadores apresentavam em campo, pois jogavam como se já tivessem ganhado. Outros esboçavam alguns cantos, mas que logo eram abafados pelas vozes da torcida azul.

Já no final da partida, o jogador 15 dos Azuizinhos armou um contra-ataque fatal. O 15 era um jogador experiente, conhecido por sua catimba, que desestabilizava os jogadores adversários. Levando a bola até a linha de fundo do lado vermelho, o 15 começou a tentar cavar uma falta. Quando entrava na grande área, ele foi desarmado pelo 13 dos Vermelhinhos. Nesse momento, o 45 se atirou em cima do 13 e caiu, e imediatamente a torcida azul gritava: “Penalty! É penalty”.

Atordoado, o juiz marca o penalty e expulsa o jogador 13 dos Vermelhinhos. Aí o jogo desandou. Ao passo que o 13 saía de campo, alguns jogadores vermelhos partiram para cima do 15, que revidou as ofensas com um soco num jogador vermelho e acabou expulso também. Outros jogadores partiram para cima do juiz, dizendo que não havia ocorrido falta. A torcida azul vibrava incessantemente quando a torcida vermelha foi obrigada a reagir; diziam: “É golpe! Esse penalty é golpe”. Sob os gritos das arquibandas, os jogadores discutiam em campo se o penalty era golpe ou não era. O juiz, querendo mostrar serviço, mandou que o penalty fosse cobrado de uma vez. Bola para um lado, goleiro para o outro, sem chances de defesa, os Azuizinhos empataram o jogo.

Já nos acréscimos, algo estranho acontece. O jogador 15 dos Vermelhinhos, que dominava a bola na grande área, deu um passe errado para os atacantes azuis, que aproveitaram a chance e viraram o jogo. O 15 havia iniciado a carreira no time adversário, no qual jogou desde as categorias de base. Nessa hora, as arquibancadas estavam incendiadas, e havia muitas brigas de torcida. Muitos torcedores azuis saíam do jogo, felizes com a virada, mas se perguntavam se era legítimo comemorar a vitória daquela maneira. Muitos torcedores vermelhos rasgavam o ingresso. Logo o juiz apitou e, numa virada sem precedentes e questionável, os Azuizinhos ganharam a Copa do Brasil.

Após o jogo, os comentaristas esportivos debatiam se havia sido penalty, ou não, se havia ocorrido falta, e se a falta teria ocorrido dentro da área. Diziam que era questão de interpretação do juiz. Que o juiz era experiente o suficiente para não sofrer a pressão da torcida. Que penalty não era golpe, pois era uma regra do futebol. Que não havia injustiça, pois todos os ritos institucionais foram respeitados. No meio das discussões, a imprensa noticia a decisão da direção vermelha de demitir o número 15, e informa também que, logo após a demissão, os Azuizinhos o contratam. Desde então, o 15 se tornou o capitão do seu velho time do coração.

Foto: Reprodução