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BRASIL

Impeachment: os dois julgamentos de Dilma e do PT

Brasília- DF 29-08-2016 Presidenta Dilma faz sua defesa no plenário do senado. Foto Lula Marques/Agência PT

Por: Gibran Jordão, de Brasília, DF |

Dilma e o PT estão passando por dois julgamentos nesse momento histórico. Um deles a esquerda por princípio não pode apoiar. O outro, além de apoiar, é preciso apontar uma alternativa. Esses julgamentos se confundem, mas para ser consequentes temos que desfazer a confusão.

O primeiro julgamento está nos marcos do processo de impeachment que, sem dúvida, é uma iniciativa política da maioria das frações burguesas, dos grandes monopólios, que através dos agentes no Congresso Nacional estão operando um processo de impedimento da presidente da República, que tem frágil base jurídica com apoio da classe média do país que, em manifestações de conteúdo nitidamente reacionário e impulsionadas pela grande mídia, tomaram as ruas aos milhares.

O objetivo central desse plano é retomar o controle direto do poder central do país para fazer as estruturas de decisão do estado, bem como modificar todo arcabouço jurídico legislativo e constitucional do país, para atender os interesses do capital que está em crise profunda. Desse ponto de vista, o impeachment não pode ter o apoio da esquerda combativa, deve ser denunciado, seja por aqueles que acham que é um golpe, seja por aqueles que não caracterizam o processo como golpe, ou seja qual tipo de golpe for. É uma capitulação à direita não ter posição categórica contrária ao impeachment nesse momento.

O segundo julgamento que corre paralelamente ao impeachment é a profunda decepção que a maioria dos trabalhadores tiveram com Dilma, Lula e o PT. Tanto é assim que dos milhares de trabalhadores que foram cheios de esperança na posse de Lula e dos milhões que votaram em Dilma por duas vezes, muito pouco, ou quase nada estão nas ruas hoje para defender Dilma e o PT. Não há disposição real para tais manifestações porque o povo trabalhador, que sempre votou no PT, se sente traído.

É assim porque a maioria do povo trabalhador que defendia o PT nas ruas hoje está constrangida em defendê-lo depois que três tesoureiros, dois ex-presidentes e vários outros parlamentares foram presos por corrupção. O funcionalismo, que sempre votou no PT, hoje está de bronca e não vai às ruas defender Dilma, porque o Plp 257/16 é obra do seu governo.

Os operários das montadoras não estão em greve geral contra o impeachment porque viram os governos do PT ajudarem as empresas com isenção fiscal, mas não viram esse mesmo governo amparar os trabalhadores quando começaram as demissões nas fábricas.

Os camponeses não estão em massa ocupando terra para defender Dilma, porque a principal política dos governos do PT privilegiou o agronegócios, e isso não é difícil de comprovar. Basta ver o discurso de Katia Abreu, a maior representante do agronegócio em defesa de Dilma, no Senado Federal.

O julgamento que o povo trabalhador faz de Dilma e do PT é progressivo e temos que apoiar, mas é preciso apontar uma alternativa para esses trabalhadores sob pena dos mesmos serem seduzidos pelos discursos hipócritas e demagogos das forças de direita desse país que até meses atrás estavam juntinhos com o PT governando e operando esquemas sinistros de corrupção.

Por isso, está colocada a necessidade de construir a unidade da esquerda socialista que ainda é minoritária mas que pode superar a trágica experiência de conciliação de classes liderada pelo PT.

Nenhuma organização de esquerda sozinha vai conseguir dar essa resposta. É uma necessidade política fortalecer uma frente de esquerda e socialista em todo país, que sirva como um ponto de referência para o povo trabalhador que não quer mais o PT e que também não confia em Temer.

Além dessa resposta no terreno da disputa política, é muito importante ampliar a unidade de ação em torno das lutas sindicais e populares contra as medidas do governo Temer. Dia 12, 13 e 14 de setembro está sendo convocado para Brasilia uma grande caravana para tomar a esplanada com milhares de trabalhadores e com a juventude, que não vão permitir a destruição dos serviços públicos e a retirada de direitos.

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dilma / impeachment