Por Eli Moraes
O debate eleitoral entre os candidatos à prefeitura de São Paulo, na noite de 22 de agosto, veiculado pela Rede Bandeirantes de Televisão chamou atenção, sobretudo, pela ausência das candidaturas de esquerda. O debate excluiu o terceiro lugar nas intenções de voto expresso na candidatura de Luiza Erundina (PSOL), com 10% segundo o Datafolha, e a candidatura do metroviário Altino Prazeres (PSTU). A ausência das candidaturas de esquerda deixou o debate marcado pelo conforto com que projetos conservadores foram expostos.
O conjunto da mídia que cobriu o primeiro embate entre os candidatos limitou-se aos comentários acessórios. Optou por discutir a tática de disputa por uma vaga no segundo turno entre João Dória Júnior (PSDB), Marta Suplicy (PMDB), e Fernando Haddad (PT), que passaram o debate trocando acusações. Ao mesmo tempo, estabeleceu uma verdadeira redoma em torno da candidatura de Celso Russomano (PRB). Na mídia, na cobertura do debate, o candidato foi apresentado como “bom moço”, que não entrou nas polêmicas, já que é hoje o preferido a terminar o primeiro turno com maior votação.
Dessa maneira, os espectadores que assistiram ao debate ou aqueles que tentaram se informar e obter análises sobre o primeiro enfrentamento entre os candidatos nos portais de notícias, só encontraram uma tempestade de temas e propostas que, aparentemente, tocam os problemas mais sentidos pela população paulistana. Mas não houve qualquer exposição profunda dos reais projetos que estão por trás de cada uma das candidaturas. Resumiu-se, assim, a um show de retórica, dirigido a confundir e impressionar o eleitor.
Por trás da retórica
Dória e Russomano defenderam uma cidade voltada aos negócios. Uma cidade que beneficia o empresariado e a parte mais rica da população, através, por exemplo, da defesa dos cortes de gastos da prefeitura e isenções de impostos para empresas. Educação e Saúde apareceram inúmeras vezes em seus discursos, mas não houve nenhuma defesa de que fossem 100% prestadas pela prefeitura de maneira gratuita para a população. Dória chegou a reafirmar que a Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres e a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial não seriam “penduricalhos”. Enquanto Russomano se apresentou como o futuro “zelador” da cidade.
Marta apresentou-se, em grande medida, como uma candidatura que conhece São Paulo e tem experiência para governar, numa tentativa de diferenciar-se de Dória e Russomano. Mas sem conseguir realmente esconder que possui o mesmo projeto. Em especial, porque não se pode esquecer que seu vice é Andrea Matarazzo, que deixou o PSDB por ter sido derrotado por Dória nas prévias do partido para estas eleições.
Haddad ficou à vontade para se aproximar de uma suposta candidatura mais identificada à esquerda. O candidato usou o discurso de defesa dos serviços públicos, que alega ter melhorado em sua gestão. Isto porque, nenhuma das candidaturas presentes iria contrapor-lhe o fato de que enquanto prefeito não deixou de atender aos interesses da máfia dos transportes, com recorrentes aumentos da tarifa. Assim como, no caso da Educação e da Saúde, optou por beneficiar a iniciativa privada através de convênios e Organizações Sociais.
Show de horrores
Durante o debate, impressionou a tranquilidade com a qual se apresentou a candidatura de Major Olímpio (SD), de caráter nitidamente reacionário. Fazendo um discurso que gerou comentários negativos até mesmo na grande mídia, o candidato tenta reeditar uma política de “tolerância zero”, ampliando funções repressivas da Guarda Civil Metropolitana. Especialmente, apresentou uma política de guerra ao tráfico que comprovadamente não funciona, propondo mais repressão policial à “Cracolândia” e nenhuma medida de saúde pública e antiproibicionista.
Fuga do tema
Pouquíssimo se falou da conjuntura nacional. Nenhuma palavra sobre medidas que podem ser tomadas, em breve, pelo governo de Michel Temer (PMDB), como a Reforma da Previdência. Pelo contrário, o que se viu foi uma tentativa do conjunto dos candidatos de não se identificarem com nenhum dos lados da crise política do país.
Haddad não aproveitou a audiência do debate para criticar Temer e a manobra conservadora do impeachment. E os demais candidatos devem ter esquecido que o governo federal ilegítimo e impopular é capitaneado e apoiado por seus partidos.
Eleições sem democracia
Nenhum dos candidatos ensaiou qualquer crítica às regras antidemocráticas que excluíram a esquerda do debate na TV. Por essa falta de democracia nas eleições, o povo paulistano não pode conhecer as propostas da esquerda para a cidade. O que poderia ter modificado esse quadro, seria a presença uma candidatura da Frente de Esquerda Socialista, capaz de apresentar um projeto alternativo e de fato independente do grande empresariado da cidade. Identificado aos interesses dos trabalhadores, da juventude e dos setores oprimidos de São Paulo. Que tivesse como centro de suas preocupações um projeto de combate à desigualdade social e ao sistema da dívida pública que pesa sobre os cofres públicos. Na impossibilidade da constituição da Frente de Esquerda, é necessário reconhecer que as presenças de Erundina (PSOL) e Altino (PSTU) são indispensáveis para o cumprimento mínimo de critérios democráticos.
Estas regras são a demonstração de que existe uma contrarreforma eleitoral em curso no país. Em determinada altura, ela chegou a contar com o apoio equivocado de deputados federais do PSOL. Mas seus reais efeitos foram sempre nítidos: nada de democratizar o processo eleitoral no país ou diminuir efetivamente o peso do poder econômico na escolha de governantes. A verdadeira intenção é calar as vozes discordantes, especialmente a esquerda, deixando parecer que só se pode governar primeiro em favor dos ricos.
Foto: Lucas Ismael/BAND/Divulgação
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