Há ‘fraqueza emocional’ nos nossos atletas?

Rio de Janeiro – Por decisão unânime dos juízes, o lutador brasileiro Robson Conceição derrotou o francês Sofiane Oumiha e garantiu o ouro na categoria peso ligeiro, até 60 quilos (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Por: Pedro Renan Santos de Oliveira*, de Fortaleza, CE

 Os jogos olímpicos de 2016 trouxeram, além de muitas expectativas sobre os atletas brasileiros, algumas frustrações. Alguns dos que foram os grandes nomes das últimas disputas esportivas enfrentaram dificuldades em avançar nas competições, ficando, muitas vezes, para trás por conta de problemas físicos ou despreparo. A reação negativa dos espectadores brasileiros é imediata: em meio às lágrimas, muitos diagnosticam de ‘fraqueza emocional’ o grande motivo das derrotas do Brasil.
O já tradicional discurso psicologizante que, não à toa, tem se repetido nas disputas olímpicas, esconde questões preocupantes. Acreditar que a grande causa para a derrota de um atleta esteja em seu despreparo emocional, individualiza os problemas e negligencia os aspectos relacionais envolvidos no esporte e em toda atividade humana.
A baixa profissionalização do esporte brasileiro e isso inclui até mesmo o futebol masculino, o grande culto à celebridade em detrimento da perspectiva da saúde e da cidadania, a reduzida produção de políticas de incentivo ao esporte desde a escola, o raso investimento e a má distribuição de recursos, além da corrupção que atinge também o esporte e o seu entorno. Tudo isso fica escondido por trás do discurso do emocional.
É preciso trazer para as arenas públicas de debate os bastidores do desporto brasileiro. Porque, sim, o emocional tem fundamental importância nas condições para que os atletas possam atingir seus índices e marcas, mas o que garante seu bom desempenho ou a revelação de novos atletas é um país de incentivo ao desporto, com a garantia de políticas públicas para o desenvolvimento de atletas e produção de infraestrutura para o esporte, de modo a fortalecer o desenvolvimento econômico, social e também cultural.
Como pesquisador do campo da Psicologia, arrisco, com pouco medo de errar, que uma boa retaguarda nos bastidores do esporte fortalece muito mais o tão falado emocional dos atletas. Torcer para os atletas e pedir deles toda essa fortaleza emocional, desconsiderando seu  contexto, é querer que, além de atletas, eles sejam todos seus próprios patrocinadores, treinadores, engenheiros, psicólogos.
Mais preocupante que isso, talvez, seja querer que todos eles sejam seus próprios políticos, e nisso o Brasil não ganha nenhuma medalha, a não ser por meio de propina ou com a ajuda de grandes empreiteiros.
*Professor da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e diretor do Conselho Regional de Psicologia (CRP-11)

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil