A importância e os limites do Dia Nacional de Luta convocado pelas centrais sindicais

SÃO PAULO

Por Pedro Augusto e Juliana Donato, de São Paulo (SP)

Na última terça-feira (16), nove centrais sindicais realizaram o Dia Nacional de Mobilização e Luta por Emprego e Garantia de Direitos, dentre elas a CUT, Força Sindical, CSP Conlutas e CTB. Ocorreram atos, paralisações e protestos em pelo menos 20 estados do país.

Em meio à tentativa do governo Temer de nos fazer trabalhar até morrer, de acabar com as garantias trabalhistas e de diminuir ainda mais os investimentos públicos em saúde, educação e os salários dos servidores, é questão de vida ou morte a unidade na luta das centrais que dirigem as principais categorias, além de diversos setores dos movimentos sociais.

Por isso, os militantes do #MAIS somaram-se e ajudaram a construir todos os atos e mobilizações que estiveram ao seu alcance em todo o país.

É importante reconhecer e valorizar que foi a primeira vez, em mais de um ano, que as centrais sindicais se uniram em torno a uma pauta comum, desde a luta contra a PL 4330, das terceirizações. No entanto, ficou flagrante que ainda estamos muito distantes de mobilizações à altura dos ataques que sofremos. E o quão distante estão boa parte das direções do movimento em relação às bases das suas categorias. O dia foi marcado por diversos atos, em sua maioria, só levaram às ruas os aparatos sindicais e os militantes da esquerda, enquanto poucas paralisações, atos ou assembleias ocorreram nas portas das fábricas, bancos ou repartições públicas.

As reformas e a privatização da Petrobras já estão em curso
Nesse momento, todos os ataques de Temer já estão em andamento. O PLP 257, que congela os investimentos públicos dos estados e municípios, já foi aprovado na Câmara dos Deputados e vai à votação no Senado. A reforma da previdência só aguarda o término da votação da PEC 241 que, por sua vez, estabelece um teto de gastos públicos da União, durante 20 anos, limitado aos gastos do ano anterior, corrigidos somente pela inflação. A PEC 241 acaba com os percentuais mínimos de gastos para a saúde e educação, estabelecidos na Constituição Federal. O fatiamento da Petrobras deu um salto com o anúncio da venda de sua participação no Campo Carcará, do pré-sal, por um terço do valor de mercado, significando uma perda de R$ 14 bilhões. Além disso, já foram colocados à venda o controle da BR Distribuidora e a totalidade da Liquigás.

Os atingidos por todas estas medidas são os trabalhadores, principalmente os setores mais oprimidos de nossa classe: mulheres, negros e negras e LGBT’s. Temer, seus ministros e este congresso de corruptos e reacionários querem que nós paguemos a conta da crise. Precisamos vencer essa guerra. Caso contrário, em questão de meses podemos ver retroceder direitos e perdas de patrimônio que os trabalhadores levaram décadas de luta e suor para conquistar.

A unidade das centrais é um primeiro passo, mas é preciso mais do que balões
O ato que ocorreu na Avenida Paulista, no dia 16 de agosto, terça-feira, às dez horas da manhã, com seus diversos balões e coletes das centrais sindicais, concentrou em sua grande maioria dirigentes sindicais liberados e pouquíssimos trabalhadores ativistas de base.

A CUT, principal central sindical do país, com mais de 2,7 mil sindicatos filiados, não buscou realizar um verdadeiro dia nacional de mobilizações. Poderia ter mobilizado os trabalhadores da Mercedes Benz contra as 2000 demissões, mas preferiu marcar a passeata da categoria para um dia depois. Por que não fazer um dia de mobilização dos petroleiros das bases da FUP e dos bancários, que estão às vésperas da campanha salarial? No momento em que ocorriam as passeatas, esses trabalhadores estavam trabalhando, ou mesmo em suas casas devido às férias coletivas e lay-offs, enquanto poderiam estar nas portas das fábricas, discutindo com os seus companheiros a melhor forma de preparar a resistência, que é tão urgente.

Construir pela base uma jornada unitária de luta, rumo à greve geral
É necessário que, mais uma vez, as centrais sindicais se reúnam, tal como fizeram no dia 26 de julho, para definirem juntas uma jornada unitária de lutas, com outros dias de mobilização nacional. Para que atinja o objetivo de dar ânimo e confiança aos trabalhadores, jovens e os setores explorados e oprimidos, preparando o espírito de nossa classe para uma necessária greve geral, será preciso preparar essas mobilizações pela base, para que sejam os trabalhadores a definir os rumos do movimento.

Uma iniciativa importante seria uma campanha nacional, realizada pelas centrais, de esclarecimentos aos trabalhadores, explicando os ataques que estão em curso. Também é necessário investir nas paralisações nos locais de trabalho, pois impactam a produção e tornam mais abrangente o alcance desses dias de mobilização. É preciso que os atos de rua sejam realizados em horários e condições em que os trabalhadores da base possam participar, e não somente os liberados sindicais. A não ser que ocorra uma verdadeira greve geral, ou um forte dia de paralisações, os atos devem priorizar o final da tarde ou início da noite.

Acreditamos que a greve dos trabalhadores da BR Distribuidora, que está em curso, é um exemplo que deve ser apoiado e seguido: um setor que não tem tradição de mobilização e que, diante de um grave ataque, reage e demonstra o caminho que os trabalhadores devem seguir para derrotar os ataques da patronal e do governo Temer.

Por fim, os trabalhadores dos Correios, os petroleiros e bancários estão prestes a entrar em campanha salarial e devem enfrentar uma negociação duríssima com o governo Temer e os banqueiros. Os petroleiros, além disso, terão ainda a responsabilidade de liderar um movimento nacional contra a privatização da Petrobras. Por isso, é fundamental construir desde já um calendário comum de mobilização destas três categorias, que consiga derrotar o arrocho, o governo e os empresários querem nos impor. Com muita organização, luta e mobilização, é possível derrotar a patronal e o governo.

Confira as mobilizações mais importantes que ocorreram no país no dia 16 de agosto:
Paralisações:
Os trabalhadores da GM e da Gerdau de São José dos Campos, base da CSP CONLUTAS, além de dezenas de fábricas metalúrgicas de São Paulo, base da Força Sindical, realizaram atrasos e assembleias. Os petroleiros das bases da Federação Nacional dos Petroleiros realizaram atrasos no São Sebastião/ SP, Santos/ SP, em São José dos Campos/ RJ, em Carmópolis/ SE, Rio de Janeiro/ RJ e Belém/ RJ. Na REPLAN, base da Federação Única dos Petroleiros/ CUT, também ocorreu paralisação de duas horas, após pressão da base sobre a direção do Sindipetro Unificado de São Paulo. Também houve assembleias com os trabalhadores da construção civil de Belém, base da CSP Conlutas.

Atos: Em diversos estados do país, houve atos de rua, a maioria deles em frente às Federações das Indústrias. Merecem destaque, pelo número de participantes, os realizados em Vitória/ES e Natal/RN. No Rio de Janerio, foi realizado um abraço no prédio da Transpetro. Os moradores da Ocupação Esperança, de Osasco/ SP também realizaram um importante ato no dia.