Francisco da Silva |
“(…) não se trata de uma ‘história oficial’ nem de uma apologia. Como marxistas, consideramos que a ciência da história não está sujeita a votação de organismo algum, senão a investigação crítica e a comprovação científica.” Ernésto Gonzáles, Apresentação ao Primeiro Tomo[1]
Apresentamos o primeiro artigo de uma pequena série na qual pretendemos cobrir um período correspondente acerca de 30 anos de história política de uma corrente distinta do trotskismo argentino e latino americano, desde o Grupo Operário Marxista (GOM) fundado em 1943/4 até o Partido Revolucionário dos Trabalhadores (PRT) – A Verdade de 1971. Com foco na história de uma tendência específica do trotskismo conhecida como morenismo – em função de seu principal líder Nahuel Moreno -, o estudo possui como fonte exclusiva a obra “El Trotskismo Obrero e Internacionalista em la Argentina” de Ernesto Gonzales, dirigente de longa data da corrente e quiçá autor insuspeito. A obra possui 4 tomos, um com 2 volumes e assim é sistematizada a apresentação deste trabalho. A obra está disponível no site Marxist.org[2] para livre consulta.
Acreditamos que há muita confusão entre os socialistas brasileiros sobre como deve ser o comportamento de uma corrente revolucionária com as outras tendências revolucionárias e ou do movimento dos trabalhadores e por isso decidimos fazer esta pesquisa. Esta investigação histórica, com pretensão científica, procura averiguar a relação do morenismo com as outras tendências do movimento dos trabalhadores e tem como finalidade ajudar a desfazer a confusão instaurada na esquerda brasileira e divulgar a história dessa importante corrente do trotskismo mundial, cujos dois autores deste trabalho são membros, resgatando uma de suas principais virtudes: firmeza nos princípios e máxima flexibilidade tática.
Queremos fazer dois alertas aos leitores. O primeiro é que fomos deliberadamente unilaterais nesse estudo: ainda que tenhamos estudado todo o comportamento da corrente morenista na luta de classes, por ora apresentamos apenas a parte em que as atitudes buscaram a convergência com outras tendências. Escolhemos apenas esta parte porque queremos polemizar com uma falsa tradição que vem ganhando terreno na esquerda brasileira, tão perigosa quanta a oposta, que é o sectarismo.
Julgamos importante fazer este alerta porque não é verdade que a história do morenismo se resume à convergência. Sua história também é marcada pelas divergências, rupturas e delimitações com as outras correntes. Essa unilateralidade está subordinada à finalidade deste trabalho e também em função do tamanho, pois caso fôssemos abordar a postura comportamental do morenismo em sua totalidade o trabalho ficaria enorme.
O segundo é que não necessariamente validamos todos os comportamentos que o morenismo argentino teve, na verdade muito pouco entramos nesse julgamento e em alguns casos até ficamos um pouco surpresos ao saber de posições um tanto extravagantes. Apresentamos esta investigação para levantar mais dados e informações sobre os limites e as possibilidades de intervenção dos revolucionários na luta de classes em relação às outras tendências do movimento dos trabalhadores apresentando todo o leque comportamental do morenismo nessas 3 décadas de estudo. Com isso também queremos afirmar que não somos daqueles que dizem amém para tudo que os grandes líderes do movimento dos trabalhadores fazem ou fizeram. Não! Decididamente eles não tem a palavra final apenas por sua autoridade histórica! Sobretudo quando sequer são vivos para opinar sobre os fatos concretos da realidade, afinal não existem respostas prontas. Elas dependem da análise concreta da realidade concreta. E como trotskistas não adoramos ídolos. Mas tampouco desprezamos a história dos grandes.
Estudar a história do movimento dos trabalhadores é uma necessidade porque precisamos conhecer o máximo possível de tudo que já foi feito em nome da bandeira do socialismo e da luta dos trabalhadores. Isso é muito importante porque a consciência histórica dos trabalhadores se preserva em sua vanguarda. Mas mesmo essa vanguarda, em determinadas circunstâncias, sob pressão das classes inimigas, pode sucumbir e se desviar. Daí que percebemos seus erros e acertos. E como somos revolucionários, estudamos o passado para melhor intervir no presente e nos preparar para o futuro.
Como dizia o velho Ernésto:
“Acreditamos que hoje seja mais necessário do que nunca o estudo da nossa tradição partidária. Em toda a esquerda está colocado o debate e a reformulação de programas e orientações. A queda dos regimes stalinistas, os processos de restauração capitalista nos Estados dominados pela burocracia, o fim da ‘ordem mundial’ estabelecido no pós-guerra, levam – necessariamente – a essas reelaborações. A isso se soma que a burguesia em todo mundo impulsiona sua propaganda sobre a ‘morte do socialismo’ e, inclusive, o fim da luta de classes. Enfrentar esta verdadeira campanha de confusão e desmoralização lançada sobre as massas e a vanguarda, requer do ativismo a maior seriedade, tendo muito claro da onde viemos para ajudar a compreensão de onde estamos. Para não perder a bússola, é imprescindível analisar nossas origens e aprender dos erros e dos acertos do passado: como se construiu o partido nos distintos períodos, avançando ou retrocedendo nas diversas situações que se apresentaram.”[3]
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DO GOM À FEDERAÇÃO BONAERENSE DO PSRN (1943-1955) – TOMO 1 – PARTE 1
O GOM frente ao surgimento do peronismo e a reorganização do movimento operário
No início dos anos 40 grandes transformações estão ocorrendo na Argentina e no mundo. A 2ª Guerra Mundial significa a definição completa do imperialismo norte americano como o elo mais forte do imperialismo mundial e a partir daí todo mundo capitalista deveria aceitar a liderança yanqui como inquestionável. A Argentina se manteve neutra na guerra em função de sua histórica dependência e subordinação ao imperialismo britânico. Essa neutralidade favorecia o imperialismo britânico na medida em que havia um acordo entre Argentina e Inglaterra de fornecimento de produtos agrícolas (carne sobretudo) a preço fixo em troca de produtos manufaturados. Essa neutralidade era favorável também para que os navios que comercializavam esses produtos não fossem abatidos pela Marinha nazista. E era muito vantajoso para o imperialismo britânico na disputa comercial com o imperialismo yanqui na Argentina já que não entrava produtos agrícolas norte-americanos na Inglaterra (o que diminuía a dependência aos EUA) e ao mesmo tempo garantia exclusividade dos produtos manufaturados britânicos na Argentina. Mas a Guerra ia provando uma tendência: fortalecimento dos EUA como nação hegemônica do imperialismo em detrimento do inglês e da Europa e então os yanquis começaram a forçar a barra. Essa reorganização mundial em curso tinha reflexos na Argentina: os estancieiros e latifundiários pouco afetados pela guerra e representantes da velha sociedade defendiam os interesses britânicos. A burguesia industrial e financeira pendia para o lado yanqui já que a guerra estava devastando suas fortunas. Então, a União Industrial – entidade que representava os interesses da burguesia industrial – começou a lutar para que a Argentina entrasse na guerra. Quando Robustiano Patrón Costas (candidato pró yanqui e industriais) derrotou nas internas Rodolfo Moreno (candidato pró estancieiros e inglês) foi o sinal para que houvesse o pronunciamento militar a favor dos estancieiros e o imperialismo inglês. O coronel Juan Domingo Perón foi um dos militares alavancados com este golpe e começou a ganhar influência pois empalmava um sentimento antiyanqui de um setor importante da burguesia e do exército. Mas também começou a ganhar influência na classe operária:
“A partir de 1943 quando Perón assumiu no Departamento Nacional do Trabalho o governo começou a adquirir uma base de massas apoiando-se nos sindicatos que não eram dirigidos nem pelos comunistas nem pelos socialistas e impulsionando a formação de sindicatos independentes. (…) Perón soube aproveitar da situação reinante no seio do movimento operário [movimento operário dividido e seus sindicatos burocratizados, além da apatia e desconfiança da classe operária com suas direções] e das medidas totalitárias impostas pelo novo regime”[4].
Em 1944 Perón deixou claro o que defendia:
“Buscamos suprimir a luta de classe suplantando-a por um acordo justo entre operários e patrões amparado na Justiça que emana do Estado”[5].
Nesse processo o GOM, Grupo Operário Marxista, primeira organização fundada por Nahuel Moreno e outros na Argentina, teve uma política audaciosa e original:
“Foi então que o GOM começou a dar seus primeiros passos, intervindo no processo de reorganização do movimento operário, participando da criação dos novos sindicatos ‘peronistas’, formando parte dos corpos de delegados internos e comissões internas (…) Esteve também na Plaza de Mayo no dia 17 de outubro, sustentou posições frente às eleições de 1946 (…) Mas o fundamental foi nossa inserção no movimento operário ‘peronista’”[6].
E alguns anos depois esmiuçaria essa política de intervir nos sindicatos peronistas:
“Em cada sindicato, mesmo os que ainda estão sob a influência de Perón, basta que representem uma proporção razoável de operários, tenderemos a formação de oposições revolucionárias. Elas reconhecerão a todos os operários que queiram lutar por um sindicato de classe. Não nos interessará seu matiz político. Nos bastará que tenham reagido contra a reação e estejam dispostos a lutar contra ela (…) Dentro desta oposição a gente se moverá. Democraticamente, sem imposições, por apenas a força do nosso programa”[7].
“não apoiamos os sindicatos controlados pelos socialistas e comunistas, convertidos em cascas vazias, senão que formamos parte do novo processo que se abriu no país, mas sem ceder ao peronismo nem a burocracia. Este foi o grande acerto do nosso grupo”[8].
Ou seja, os primeiros passos da organização morenista na Argentina foram dentro do movimento operário Peronista, que começava a se desenvolver massivamente mas que tinha em sua principal figura o símbolo de um golpe militar reacionário, realizado para preservar os interesses das classes proprietárias mais atrasadas a serviço do imperialismo yanqui.
Que hacer? Ou El partido: um documento decisivo
Então, em meados de 1943 o grupo fundacional chegou a importantes conclusões. Moreno escreveu um documento chamado El partido que era como se fosse “o que fazer” de Lenin para Argentina como diziam os camaradas da época. O documento concluía que os males do trotskismo tinham raízes em sua base social pequeno burguesa e portanto se se queria construir um forte partido revolucionário era necessário se estruturar no movimento operário[9]. Outra conclusão está no prólogo da edição de 1944 em que Moreno escreveu:
“Respeitando a obra em seus aspectos gerais se demonstrará que nossa linha tem sido inflexível e clara: agitação e propaganda ao alcance de nossas possibilidades e unidade com outros grupos a partir das mais elementares tarefas comuns (…) Ultimamente se tem conseguido a unidade por iniciativa nossa em uma tarefa elementar, a ajuda a nossos presos. Através deste trabalho iremos capacitando-nos para a próxima tarefa comum: as publicações conjuntas”[10].
Depois, com o desenvolvimento do partido, em julho de 1944 o GOM começou a editar seu próprio “órgão oficial” chamado “Boletins de discussão do GOM”[11]. Então, em março de 1945 no Boletim número 6 se destaca duas principais atividades que o GOM vem realizado: a já citada política das oposições sindicais e a conformação de um Grupo Sindical Marxista:
“Esta frente sindical se realizou com o grupo Lanús-Liniers – que editava a mimeógrafo uma folha com o nome de Frente Obrero – para realizar tarefas de solidariedade com a greve da carne de 1945”[12]. O grupo de Lanús-Liniers é o mesmo grupo que, junto com o de Liborio Justo, dois anos antes Moreno atacou agressivamente[13] no famoso documento El partido.
Em relação as atividades internacionais daqueles anos o GOM mantinha correspondência com o POR chileno e à eles Moreno propôs publicar uma revista com os distintos grupos latino americanos[14]. Os chilenos foram contrários pois consideravam que não havia um programa comum.
A greve da carne de 1945[15]
Em 1945 estoura a greve da carne numa das principais fábricas do país com 12.000 operários. A postura do GOM foi se jogar com tudo para apoiar a greve. Primeiro foram se aconselhar com Mateo Fossa um grande sindicalista trotskista amigo do GOM que sugeriu que, assim como ele e seu sindicato, realizassem uma coleta de dinheiro para apoiar os grevistas e se colocassem incondicionalmente a serviço da luta.
Então o GOM foi aos bairros operários que moravam os grevistas (à essa altura várias outras fábricas já tinham aderido ao movimento) para fazer a coleta e distribuir seus panfletos. Após uma longa empreitada – já que desde 1941 estava declarado o estado de sítio no país e as lideranças da greve se encontravam clandestinamente – conseguiram conhecer os dirigentes da greve e se encontrar com Lucas Domínguez que era um operário anarquista com muito prestígio e o máximo dirigente da greve. Entregaram à ele 500 pesos e se colocaram à disposição dele de forma incondicional. Depois no boletim do GOM número 7 publicaram uma carta de Moreno que transcrevia as palavras deste dirigente operário anarquista. Durante a greve os militantes do GOM ainda se colocaram em contato com os companheiros do Grupo Sindical Marxista para fazer campanha financeira para os despedidos[16].
As eleições de 1946: por uma Frente Única Proletária
As eleições gerais de 1946 foram de intensa polarização política na Argentina. Marchava à cavalo a dominação mundial yanqui e a supremacia deste em relação às outras potências imperialistas. Então aumentava a pressão norte americana por conquista de novos mercados e obtenção de matérias primas. À essa altura os EUA já dominavam na América Central e no Brasil.
Então, nas eleições de 1946 estes dois blocos burgueses se enfrentam. Do lado pro yanqui com influência na classe trabalhadora estão o Partido Socialista e o Comunista. Do lado Peronista estava a Igreja Católica (se jogou com tudo nas eleições para que não votassem num partido que apoiasse o ensino laico), vários grupos nacionalistas de extrema direita e a maioria dos dirigentes sindicais reunidos na CGT (Confederação Geral do Trabalho) e no recém formado Partido Trabalhista, um partido reformista formado pelas lideranças sindicais do movimento operário, que foi decisivo nas eleições.
“Qual foi a atitude da nossa organização frente as eleições? Fizemos uma campanha propagandística pela ‘Frente Única Proletária’. Obviamente não tínhamos legalidade, de modo que apenas pudemos nos expressar através de panfletos e debates. Não fizemos nenhuma diferenciação entre a União Democrática e a frente peronista. Mas esta posição sectária não justifica a campanha que nos fizeram, depois, alguns grupos que lançaram a mentira de que o GOM havia chamado a votar pela União Democrática. Recordemos o que dissemos na primeira edição da Frente Proletária, outubro de 1946, o que não deixa dúvidas: ‘Quando os partidos de esquerda apoiavam Tamborini e Mosca [pro yanqui] como solução para os problemas dos trabalhadores, nós sugerimos claramente que o movimento operário não poderia estar vinculado a qualquer setor burguês. Nem Peron, nem Tamborini, Frente Única Proletária foi a nossa palavra de ordem’“[17].
Frente proletario, o novo jornal do GOM
O primeiro jornal do GOM foi “os boletins”. Mas não era de fato um jornal. A primeira tentativa de uma imprensa operária independente na verdade se deu com o jornal Frente Proletario, resultado da crescente influência do grupo. Segundo Moreno, o primeiro número do jornal foi concebido como uma publicação da “ala esquerda proletária do stalinismo e do socialismo de Avellaneda”[18] com o objetivo de que o grupo de companheiros recém captados do PC e do PS terminassem sua experiência com suas respectivas correntes[19]. Já no número 2 o grupo reivindicou o trotskismo e a Quarta Internacional.
Os primeiros esforços para superar a marginalidade
Nos primeiros anos de formação do GOM, o partido se dedicou com muita atenção e energia à questão da unificação dos trotskistas na Argentina. Havia três grupos principais que se consolidaram a partir do triunfo do peronismo, todos eles adotando as teses fundamentais do documento El partido (mesmo sem reconhecer publicamente), inclusive na questão da estratégia de construção do partido a partir da “proletarização” (inserção de jovens do movimento estudantil nas fábricas): a União Operária Revolucionária (UOR), cujo dirigente mais conhecido era Miguel Posse (“Oscar”); o Grupo Cuarta Internacional (GCI) com Posadas como principal dirigente; e o GOM.
A questão da unificação do trotskismo argentino era entendida como “o problema da formação do partido”, já que se considerava de extrema importância que existisse uma só seção argentina da Quarta Internacional:
“Mas essa unificação não podia seguir os passos administrativos do intento do PORS [antiga tentativa de unificação das tendências trotskistas na Argentina a partir de um impulso dado pelo SWP norte americano], senão que devia ser produto de um debate fundamentalmente político. Por isso o GOM fez denodados esforços para que se concretizasse essa unidade como um passo para também sair da marginalidade. Com esse mesmo fim se buscou desde o princípio a utilização da legalidade burguesa e sua combinação com o trabalho revolucionário. O primeiro antecedente da política unificadora do GOM é de julho de 1945, quando nas instâncias do grupo Zona Sud (ex Lanús) impulsado pelo dirigente operário Guevara (“Alvarez”), se concretizou uma Conferencia e se constituiu um Comité de Coordenação. Ainda que de vida efêmera, permitiu que o grupo impulsor ingressasse ao GOM em abril de 1946. Se fizeram reuniões, se trocaram cartas e documentos y se organizaram debates públicos sobre as distintas posições. Novamente em junho de 1946 se levou adiante um sério intento com a participação do GCI, o grupo Spartacus dirigido por Siburu, e a Liga Comunista Revolucionaria. Estas reuniões impulsionadas pelo GOM culminaram com o ingresso do grupo de Siburu. Ademais, se utilizou uma prática que durou muitos anos, quase até a ruptura da Quarta Internacional em 1953, que foi o convite, a todas as reuniões do CC e aos congressos, aos membros da direção do GCI e da UOR” [20].
Na opinião de Ernésto Gonzales, autor da obra que estamos estudando, o balanço dessa prática é muito positivo. Ajudou a esclarecer as diferenças entre as organizações e a tomada de posições de muitos militantes que terminaram se decidindo ante os diferentes grupos, em que pese não aconteceu a esperada unificação[21].
O GOM e a relação com a legalidade
“No que diz respeito à legalidade e à utilização pelo partido revolucionário, em novembro de 1947, o GOM se pronunciou sobre a proposta Esteban Rey de formar um partido marxista legal que reunisse a vanguarda que estava fora do PS (onde Rey tinha acabado de ser expulso em Salta) e do PC. O CC do GOM resolveu nessa data: ‘Através de apoiadores e contatos dentro do PS, nesta emergência, fazer frente comum com Rey para quebrar com a direção do PS’. Pouco depois se avançou um pouco mais nesse sentido: ‘O companheiro Moreno informa (…) seguindo a linha estabelecida na última reunião geral do GOM, no sentido de que se aparecer um partido centrista, o GOM deve agir como uma organização independente, e coordenar o trabalho legal com o ilegal. O companheiro Moreno diz que há duas maneiras de entrar no partido centrista: ou entrando o GOM diretamente [no partido] ou usando a influência que tenha no PS, em simpatizantes e militantes. Propõe a utilização desta segunda medida’. No final, o projeto fracassou, mas as intenções eram claras.
Esta mesma intenção se demonstrou nas medidas tomadas para participar nas eleições municipais de Avellaneda em 1947, com o nome de Frente Única Proletária (…) Apesar de sua ingenuidade, desde o primeiro momento os jovens membros do GOM se propunham a superar a marginalidade e usar todos os resquícios possíveis para ampliar suas relações com a classe operária”.[22]
O caso das oposições sindicais com peronistas contra Perón e a burocracia
No auge do peronismo, impactados com o paternalismo com que Perón lidava com o movimento operário e também com as grandes concessões que fazia aos trabalhadores, o conjunto da esquerda – inclusive muitos trotskistas – apoiavam Perón. E neste momento Perón estava consolidando um controle totalitário sobre o movimento operário e liquidando toda a democracia operária. Entre outras medidas, estava estatizando na marra as organizações dos trabalhadores, designando interventores nos sindicatos e na CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores, principal Central do país) e fechando toda imprensa opositora, até mesmo a burguesa.
Assim, a partir de uma avaliação de que mais cedo ou mais tarde este controle totalitário provocaria rupturas no seio da CGT, o GOM se colocou uma tarefa: lutar pela independência do movimento operário. E daí surgiu a tática de construir oposições sindicais à burocracia.
“A experiência [na empresa] CIABASA durante as eleições da Comissão Interna —ainda que não foi a princípio reconhecida como uma verdadeira oposição, senão apenas como una frente eleitoral — demarcou una orientação que depois aplicaríamos conscientemente, a partir da formação da Lista Verde em têxteis em 1952. Daly, que trabalhava ali e que foi o impulsor desse acordo, nos relatou: ‘O secretário da seção Frutas era o ‘Flaco’ Peralta, peronista. O subsecretário era o ‘Cabezón’ Peralta, também peronista. Com eles fizemos uma lista de oposição, quando a burocracia chamou as eleições. O sindicato da fábrica estava controlado por José Prestas, gente adicta de Perón e íntimo de Evita’”[23].
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Notas:
[1] pág 9 tomo 1.
[2] https://www.marxists.org/espanol/tematica/trotskismo/argentina/trotskismo-obrero-internacionalista/tomo-1.pdf
[3] p 10 tomo 1.
[4] p 99 tomo 1.
[5] p 100 tomo 1.
[6] p 101 tomo 1.
[7] p 106 tomo 1.
[8] p 124 tomo 1.
[9] p 101 tomo 1.
[10] p 102 tomo 1.
[11] p 105 tomo 1.
[12] p 105 tomo 1.
[13] p 102 tomo 1.
[14] p 106 tomo 1.
[15] p 107-9 tomo 1.
[16] p 110 tomo 1.
[17] p 122, tomo 1.
[18] p 126 tomo 1.
[19] p 126 tomo 1.
[20] p 135 tomo 1.
[21] p 136 tomo 1.
[22] p 136,7 tomo 1.
[23] p 148-9 tomo 1.
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