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Sobre o texto do prof. Roberto Leher (UFRJ). Uma nota

Tânia Rêgo/Agência Brasil

Romero Venâncio

Romero Venâncio é Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco e professor da Universidade Federal de Sergipe (Departamento de Filosofia e Núcleo de Ciências da Religião). Atua em pesquisas sobre: Marx, Sartre, F. Fanon, Enrique Dussel e o pensamento Decolonial Latino Americano.

O texto/ensaio do prof. Robero Leher (UFRJ) vem em hora difícil, mas boa hora. A nossa luta não é só contra o governo Lula/Arcabouço fiscal mas travamos ainda uma luta dentro das próprias universidades com nossos colegas docentes (sei que não deve ser muito diferente entre os técnicos e estudantes). O texto do Leher tem uma força a mais diante da situação da UFRJ e de como a direção da ADUFRJ conduziu tudo contra a greve. Entre a presidência do ANDES e a reitoria da UFRJ, Leher se dedicou a estudar alguns temas importantes da universidade pública brasileira e latino americana. Financiamento, desmonte, impacto neoliberal, limites orçamentários, cotidiano degradado e gestão, relação com movimentos sociais, guerra cultural e projeto pedagógico… Com vários textos e livros disponíveis.

O texto publicado no site “A terra é redonda” merece leitura cuidadosa e reflexão naqueles pontos fundamentais que interessam demais quem está na luta cotidiana e nos comandos locais de greve. O ponto de partida é o papel do PROIFES, a relação com o governo, o acordo vergonhosamente e equivocadamente assinado pelo governo com uma entidade sem representação legítima (e agora, sem base legal!) dentro da própria categoria docente. O proifes, no máximo, representa uma mentalidade elitista, anti-sindical e empreenderora que povoa vários cérebros que estão na universidade pública brasileira. Mentalidade esta que encontrou abrigo no “castelinho” de uma pós-graduação adoeçedora e produtivista que perdeu o contato com o chão histórico do país. Os mesmos/mesmas que fazem regredir à pós-graduação ao modelo de empresa Jr. Triste fim!

Destaco no texto do prof. Leher, três temas que em muito podem nos orientar nesta atípica e difícil greve: Desmascara a incapacidade do governo e seus aliados mais próximos de entender o atual momento histórico e saber para onde deve ir uma direção segura diante dos fatos: “Este pequeno texto propugna que falta direção política, no sentido gramsciano de direção intelectual e moral, que conecte o governo Lula com sua base social efetiva e, por isso, o intento de afastar do tabuleiro político os que lutaram contra Jair Bolsonaro e os que foram às ruas em defesa de sua eleição é um gesto que se configura como grande política.”

Leher nos chama a atenção para um fato importante: o governo não sabe (ou não quer saber) quem é sua base social nas universidades e pode perdê-la. Isto é grave no tabuleiro político em que temos a extrema direita na porta e alguns dentro do próprio governo. E isto tem implicações acadêmico-político para nossas vidas. Do “cretinismo parlamentar” à “pequena política”, o governo com seu Feijó misturado, perderam a dimensão da greve e da situação interna nas universidades e IFs. E isto terá um preço.

A situação dos aposentados da nossa categoria e o futuro deles enquanto estando em situação fragilizada de suas vidas. Chega ser cruel o ódio neoliberal a aposentados… Afirma Leher: “O governo Lula, podendo reparar uma grave injustiça histórica, a exclusão dos aposentados, com o acordo com a Proifes reafirma a quebra de um valor fundamental.”

Os aposentados nestas horas de greves e acordos, acabam sendo esquecidos. O Leher ainda chama a atenção para um tema que merecerá cuidado cada vez mais daqui para frente: “…efetivou uma nova quebra na solidariedade intergeracional.” Ou seja, a preocupação com os “jovens docentes” que entraram via PROUNI… Atentemos. No fundo, é cada vez mais nos fragmentarmos enquanto carreira docente. O modelo privado sendo o real modelo na cabeça de reitores e governos.

Austeridade, financiamento e ajustes fiscais. O Leher cita uma autora que merece destaque aqui no Brasil e no atual contexto: Clara Mattei. Intelectual italiana que vem estudando os “ajustes ficais”, “contenção de gastos públicos” e como isto favorece o crescimento da extrema direita junto aos mais pobres e numa classe média rebaixada economicamente. O livro dela tem tradução para o português: A ordem do capital – como economistas inventaram a austeridade e prepararam o caminho para o fascismo (Boitempo, 2023). Até parece que esse livro veio de encomenda para a explicar o pensamento de Fernando Haddad e Simone Tebet, para ficar em dois exemplos governamentais. Nestes três temas, estamos nós das universidades enfiados. Será o nó a desatar nesta greve ou ficaremos refém de uma “austeridade fiscal” que destruirá cada vez mais a universidade públicas. Os estudantes têm que tomar ciência disto. Serão atingidos em cheio.

Por fim, o texto do prof. Leher é um alerta para o que está no fundo da nossa greve: de reajuste à carreira; do financiamento às contenções violentas de gastos; do presente e futuro das universidades públicas. Em tempo!