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COP30: falsas saídas e a luta por um projeto ecossocialista


Publicado em: 9 de novembro de 2025

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Na COP30 em Belém, está em jogo muito mais do que acordos diplomáticos. O que se decide ali é, na verdade, quem pagará a conta da maior crise civilizatória do capitalismo: a catástrofe climática.

Apesar do aumento da frequência e da intensidade dos eventos extremos, governos e corporações, mais do que ignorar os Acordos firmados em Paris, têm insistido em falsas saídas para a catástrofe climática, como se a solução pudesse ser alcançada dentro dos termos de um “capitalismo verde”. Entretanto, não é possível descarbonizar a economia mantendo intacta a lógica do lucro e da exploração. A transição energética, sem questionar o modo e os fins da produção, apenas aprofunda a divisão internacional do trabalho e perpetua o colonialismo sob nova roupagem.

Na República Democrática do Congo, trabalhadores da mineração de cobalto recebem menos de 150 dólares mensais, enquanto a Tesla lucra 3.150 dólares por carro elétrico – 21 vezes o salário congolês. Eis a “transição” capitalista: os países do Sul fornecem matéria-prima barata e mão de obra explorada para que o Norte fabrique mercadorias verdes a preços premium.

Outra solução frequentemente apresentada, o mercado de carbono, nada mais é do que uma forma de financeirização da natureza. Empresas transnacionais como JBS, Vale e Suzano transformam a fotossíntese – processo natural das plantas – em commodity negociável nas Bolsas de Valores. É a “licença para poluir”: corporações ultrapassam limites de emissão e compram créditos de carbono para compensar, sem alterar um milímetro seu modelo predatório de produção. O caso emblemático do Projeto Maísa, no Pará, financiado por Google, Uber e Spotify, tornou-se símbolo desse capitalismo verde: área “protegida” virou zona de mineração e local de trabalho análogo à escravidão.

Aceleradores da crise: neofascismo e negacionismo

Enquanto um setor do capitalismo apresenta falsas soluções que, na prática, mercantilizam ou financeirizam a natureza, outro setor mais perigoso é representado pelo neofascismo, que acelera conscientemente a crise climática. Este movimento a transforma em arma política, protegendo interesses do capital fóssil enquanto ataca a ciência e desmobiliza a ação coletiva. Sua variante “ecofascista” é uma forma eugenista de culpabilizar povos do Sul Global, migrantes e populações racializadas, naturalizando violência e exclusão como resposta.

Donald Trump, recém-empossado para seu segundo mandato, já sinalizou o abandono dos compromissos climáticos americanos, prometendo expandir a produção de petróleo e gás. Sua aliança com magnatas do Vale do Silício revela a face perversa dessa divisão: enquanto Elon Musk vende carros elétricos como solução, Trump desregula a indústria fóssil. São duas faces da mesma moeda capitalista.

>> Leia também: Nosso papel na COP30

No Brasil, o negacionismo combinado aos interesses do agronegócio e da mineração também é a marca do neofascismo, em especial dos governadores que boicotam a COP, sinalizando seu alinhamento com o negacionismo climático trumpista. São os mesmos governadores (como Tarcísio, Zema, Caiado, entre outros) que flexibilizam licenças ambientais, atacam terras indígenas e promovem o agronegócio predatório.

Esse mesmo agronegócio – responsável por 65% das emissões nacionais de gases de efeito estufa ao incluir desmatamento – apresenta-se na COP como paladino da sustentabilidade. As mesmas corporações que desmatam Cerrado e Amazônia, envenenam solos e águas, agora especulam com créditos de carbono e agroflorestas.

A mineração, frequentemente esquecida nos debates climáticos, opera em simbiose com o agronegócio na destruição territorial. Vale, Anglo American, Glencore e dezenas de mineradoras avançam sobre territórios indígenas e quilombolas, contaminando rios com mercúrio, destruindo nascentes e deixando crateras irreversíveis. No Pará, a exploração de bauxita pela Hydro-Alunorte já contaminou comunidades inteiras. Em Minas Gerais, após Mariana e Brumadinho, a mineração segue se expandindo como se nada tivesse acontecido. Agronegócio e mineração operam na mesma lógica de expandir a acumulação para novos territórios, mantendo inalterada a essência extrativista.

Desafios nacionais e o futuro da COP

O Presidente Lula acerta quando defende a taxação dos super-ricos para gerar recursos contra a mudança climática. Porém, em que pese o esforço da presidência brasileira da COP em verbalizar as demandas e reivindicações do Sul Global e em exigir dos países ricos e dos bilionários o justo financiamento para conter a catástrofe climática, é indiscutível que, no cenário nacional, não se pode falar em mudança climática sem enfrentar os crimes ambientais do agronegócio e da mineração.

Da mesma maneira, a Petrobras pode e deve ser uma impulsionadora da pesquisa e da tecnologia soberana e nacional. Entretanto, não se justifica a exploração de petróleo e gás na Bacia da Foz do Amazonas por diversos motivos, ainda mais sem a garantia de que os recursos derivados daí realmente sejam destinados à transição energética e à redução de desigualdades sociais. Esse foi um importante erro do governo Lula. E, além disso, a entrega de reservas na Margem Equatorial para exploração de empresas privadas e estrangeiras constituí um grave equívoco, tanto em termos ambientais, como no que se refere à soberania energética do país.

A incapacidade de enfrentar verdadeiramente a catástrofe climática poderá comprometer a própria existência da COP. Se o caminho tomado em Baku, na COP29, de acordos genéricos e da prevalência do lobby da indústria fóssil se aprofundar, a Conferência das Partes se tornará mais uma das ferramentas do Sistema ONU a perder sua relevância pela impossibilidade de reconhecer as demandas dos países da periferia ou de enfrentar o centro capitalista. Se tornará apenas um evento, uma data no calendário do circuito diplomático.

Ainda assim, a COP é uma oportunidade para a denúncia das falsas saídas do capitalismo verde e dos riscos do neofascismo, mas também para apresentarmos e discutirmos soluções reais, concretas e efetivas. Para as organizações populares e ambientais, as reivindicações são concretas:

Os países desenvolvidos devem cumprir o Acordo de Paris, transferindo 100 bilhões de dólares anuais em doações – não empréstimos – para o Sul Global.

  • Taxação dos super-ricos para abastecer fundo de proteção ambiental e transição energética;
  • Compartilhamento tecnológico sem intermediação do mercado;
  • Fim dos subsídios aos combustíveis fósseis;
  • Reflorestamento massivo com participação popular;
  • Demarcação total de terras indígenas e quilombolas;
  • Desmatamento zero;
  • Participação efetiva dos trabalhadores, povos originários e comunidades tradicionais nas instâncias decisórias;

Neste contexto, a luta pela Tarifa Zero no transporte público não só contribuiria para melhorar as condições de renda de milhares de trabalhadores, como reduziria drasticamente as emissões provocadas pelo transporte individual.

A crise climática é, em essência, a crise do capital. Sua solução não virá de COPs capturadas por corporações, mas da organização dos trabalhadores do campo e da cidade em um projeto ecossocialista que reorganize a produção, priorizando a vida sobre o lucro. Em Belém, os movimentos populares pressionarão por avanços concretos. Mas a verdadeira transição justa só se construirá fora e contra o capitalismo.


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