Nesta semana, dezenas de coletivos feministas do mundo compartilham o manifesto abaixo. Fruto de reuniões de feministas do Equador, Uruguai, Bélgica, México, Andorra, Argentina, Holanda, Suiça, Alemanha, França, Itália, Estados Unidos etc, o manifesto das mulheres transfronteiriças é uma primeira ação transnacional na qual, nós, da Resistência feminista, orgulhosamente nos juntamos. No último 8M, as chilenas gritaram “Juntas fazendo história. É preciso continuar. Queremos mais!”. Esse sentimento continua a nos inspirar. Precisamos dá sequência ao grandioso 8 de março, não podemos voltar a vida de antes, é preciso lutar pelo futuro agora. Por isso, para o proximo 1° de maio, Dia Internacional das Trabalhadoras e Trabalhadores, as mulheres transfronteiriças preparam ações unitárias para resistir a destruição neoliberal, ao avanço da extrema direita, e as consequências da pandemia. Em breve, divulgaremos o calendário das atividades, e ações comuns, curta as páginas da Resistência Feminista no Instagram e Facebook, e construa conosco um feminismo antirracista, trans inclusivo, internacionalista, e anticapitalista.
ACIMA AS QUE LUTAM !
MANIFESTO FEMINISTA TRANSFRONTEIRIÇO
PARA SAIR JUNTAS DA PANDEMIA E MUDAR O SISTEMA
Não voltaremos a normalidade porque a normalidade era o problema: o movimento feminista e transfeminista global diante dessa nova crise mundial, sanitária, econômica e ecossistêmica, não se rende ao isolamento e não silenciará suas lutas ante as medidas de restrição que estão sendo executadas em nossos territórios para enfrentar o coronavírus. Em todo o mundo existem mulheres, lésbicas, travestis, transexuais e bináries que se recusam a se submeter à violência exacerbada pela pandemia global e começam a se organizar, entrelaçando suas práticas rebeldes, fortalecidas pelo poder dos últimos anos de greves feministas globais.
Essa crise revela e intensifica as violências, as hierarquias e raízes estruturais da opressão, exploração e desigualdade do patriarcado capitalista colonial, contra o qual sempre lutamos e continuaremos lutando. É precisamente nas tensões e fraturas abertas por esta crise que novas formas de resistência e solidariedade da qual fazemos parte, as quais queremos nos unir e ressoar mundialmente através de nossa voz coletiva, para que juntas possamos sair do isolamento e minar os paradigmas dominantes, reafirmando os saberes e práticas feministas, transfeministas e antipatriarcais.
O coronavírus atinge todas e todos, mas os efeitos da pandemia são diferenciados, ainda mais se olharmos para eles de uma perspectiva transfronteiriça que parte de nossas posições como mulheres, lésbicas, travestis, transexuais e não bináries.
Eles nos disseram para ficar em casa, sem considerar que as casas não são lugares seguros para muitos de nós e que existem pessoas que nem sequer têm uma casa.
Os feminicídios e a violência contra as mulheres e a dissidência se intensificaram desde o início desta crise, e as medidas de quarentena e toque de recolher tornaram ainda mais difícil para nós se rebelar contra o violência masculina e expressar nossa vontade de liberdade e autodeterminação.
A crise ataca as diferentes condições materiais da reprodução, intensificando e tornando mais precário o trabalho produtivo e reprodutivo de mulheres e dissidência: que sempre foi invisível e explorado mas cuja necessidade é agora visível, destacando a centralidade política que eles têm e que sempre temos afirmado.
Por um lado, o sistema patriarcal descarrega o cuidado dos idosos e das crianças nas mulheres, aumentando o peso do seu trabalho doméstico. Por outro lado, existem muitas mulheres – enfermeiras, médicas, trabalhadoras da limpeza, caixas, operarias, farmacêuticas – que devem estar em primeira linha nesta emergência trabalhando em condições de risco à sua saúde, com longas horas e muitas vezes com salários insignificantes.
O trabalho doméstico e de assistência, assim como muitos empregos precários ou informais, é frequentemente realizado por mulheres negras migrantes, afro-descendentes ou indígenas que não apenas são agora demitidas e não têm possibilidade de apoio ou pagamento de despesas médicas, mas também se encontram sem autorização de residência, mais vulneráveis a ataques racistas e mais expostas às conseqüências sanitárias, econômicas e de contágio, pois muitas vezes vivem nas áreas mais populosas e pobres.
Então, por um lado, nossas vidas são sacrificadas para sustentar esta crise, enquanto por outro lado, os corpos que não são reconhecidos como produtivos, com também os de pessoas com diversidade funcional, são totalmente invisíbilizados e desprotegidos.
Nas comunidades indígenas e povos indígenas, as mulheres intensificaram seu trabalho de cuidar e sustentar a vida enquanto, ao mesmo tempo, com seus trabalhos, elas continuam a produzir os alimentos necessários para sustentar as cidades, enfatizando seu papel central na mobilização e produção de alimentos e desenvolvimento de medidas de apoio mútuo para enfrentar a pandemia.
Alguns países só abrem fronteiras aos migrantes quando seus empregos são considerados necessários para garantir a cadeia agroalimentar em tempos de pandemia, enquanto outros países fecham fronteiras não apenas aos migrantes mas também aos seus habitantes, deixando-os em campos de refugiados superlotadas e violando seus direitos à saúde e ao retorno a seu território.
Nas múltiplas frentes de guerra e territórios de resistência, como os curdos ou os Palestinos, a invasão e ocupação imperialista e patriarcal complicam as possibilidades de receber tratamentos adequados, intensificando o ataque à revolução das mulheres curdas e à luta de todas as mulheres que querem libertar-se da dominação colonial e patriarcal.
Enquanto hoje, mais do que nunca, a saúde e a vida são afirmadas como questões coletivas e politicamente centrais, anos de políticas neoliberais impuseram uma lógica de responsabilidade individual da gestão, com diferentes graus de intensidade: em muitos países foram feitos cortes no sistema de saúde e proteção social, deixando milhares de pessoas sem remédio e forçando-as a enfrentar as deficiências dos Estados e instituir entre elas redes de solidariedade e apoio para cuidar uma da outra; por outro lado, em outros países, nunca houve saúde pública e sistema de proteção social e a situação piorou mais com a ampla aplicação de planos de austeridade e ajuste econômico.
Além disso, em muitos casos, a crise está sendo usada para restringir ainda mais os direitos sexuais e reprodutivos e as liberdades das mulheres e dos dissidentes. De outra perspectiva, o neoliberalismo mostra-se com sua face mais brutal na militarização e vigilância de ambientes urbanos e rurais e territórios indígenas pelas Forças Armadas que se aproveitam da emergência e a fragilidade democrática já existente dos governos para silenciar todos os traços de revolta, criminalizam as redes de solidariedade que estão emergindo e protegem a cadeia de comando do Estado que se torna cada vez mais autoritário e repressivo.
E, finalmente, fica ainda mais evidente que não é possível aceitar a devastação ambiental do ecossistema que, ao mesmo tempo em que subordina todas as espécies vivas e recursos naturais às necessidades do lucro do capital, favorece os mesmos desequilíbrios que permitiram a disseminação do coronavírus.
Extrativismo, produção industrial em larga escala de alimentos, monoculturas intensivas e contaminação condenam milhões de pessoas a una nova crise alimentar sem precedentes.
A pandemia está manifestando a insustentabilidade da organização capitalista, patriarcal e colonial da sociedade e a crise preexistente do neoliberalismo. Nossa luta não só deve apontar a nossa sobrevivência frente ao contágio, como também tem que encontrar soluções para as imensas consequências que isso terá sobre nossas condições econômicas e materiais.
Cremos que as respostas dos governos são completamente insuficientes e rechaçamos todas as políticas que seguem financiando empresas ao invés da saúde e se aproveitando da pandemia para consolidar projetos extrativos. Ainda que as medidas estatais sejam heterogêneas, a resposta capitalista para a crise segue a mesma lógica em todo o mundo: antepor seus lucros às nossas vidas, descarregando sobre nós os custos desta crise e produzindo efeitos que não serão temporários.
Não queremos sair desta “emergência” ainda mais endividadas e empobrecidas! Queremos uma saída feminista transfronteiriça da crise para não voltar mais a uma ‹‹normalidade›› que se sustenta na desigualdade e na violência. Em todos os bairros populares, estão organizando “barulhaço” para denunciar o aumento de feminicídios e de violência doméstica. Em todo o mundo, as trabalhadoras domésticas estão denunciando sua total precariedade e sua falta de direitos. As enfermeiras e médicas estão protestando em consequência da falta de proteções, declarando que suas vidas não estão disponíveis a qualquer preço. Trabalhadores em armazéns logísticos e fábricas estão fazendo greves porque se negam a sacrificar sua saúde pelos interesses das empresas.
Nas comunidades, as mulheres indígenas seguem lutando contra a implementação de projetos extrativistas e de apropriação dos territórios e recursos comunitários. Em cada cárcere detentxs e presxs por lutar estão denunciando as desumanas condições de reclusão dentro de um complexo militarizado e extremadamente racista. Por todas as partes, afrodescendentes e negres denunciam o racismo institucional na gestão da pandemia e migrantes reclamam seus papéis para não estar mais submetides a condições que intensificam a exploração e a violência.
Trabalhadores sexuais seguem demandando a descriminalização de seus trabalhos para não serem mais excluídes dos sistemas de proteção social e estigmatizades pelo sistema patriarcal capitalista colonial.
En Rojava, as mulheres curdas, no meio de uma resistência histórica à guerra, estão respondendo à pandemia fortalecendo sua auto-organização confederal além das fronteiras, sua saúde comunitária e expandindo as redes econômicas autogerenciadas e ecológicas.
De nossas diferentes condições materiais, pluralidade de linguagens, diversidade de práticas e complexidade de discursos, nos comprometemos a apoiar, fortalecer e entrelaçar nossas lutas, resistências e formas de solidariedade, assim como as que estão surgindo espontaneamente em nivel global e que são centrais para relançar nossa iniciativa futura
O que a greve feminista global nos ensinou nesses quatro anos é que quando estamos juntes temos mais força para nos rebelarmos contra a ‹‹normalidad›› patriarcal e opressora e agora mais do que nunca temos que mover nossas milhões de vozes na mesma direção para poder evitar a fragmentação que la pandemia nos impõe. Neste momento não podemos lotar as ruas com nossa potência feminista, mas seguiremos gritando toda nossa ira contra a violência de um sistema que nos explora, oprime e mata, apontando os culpados, para poder tornarmos-nos ainda mais numerosas e tomar a primeira fileira.
Não vamos parar este processo de libertação feminista transfronteiriço que estamos tecendo de maneira coletiva e expansiva e seguiremos lutando para construir a vida que queremos e desejamos viver. Chamamos a todes que rechaçam a violência patriarcal, a exploração, o racismo e o colonialismo a mobilizar-se e a somar-se para enriquecer e fortalecer a luta feminista global, porque se nos unirmos não só podemos sair da pandemia, como também transformar tudo.
ACIMA AS QUE LUTAM !!
FEMINISTAS TRANSFRONTEIRIÇAS!
ESTE É UM ESPAÇO FEMINISTA, TRANSFEMINISTA E ANTI-PATRIARCAL EM EXPANSÃO E LHES CONVIDAMOS A JUNTAREM-SE OU CONTATAREM-NOS SE QUISEREM SER PARTE
ASSINAM
ALAMES Ecuador
Associació stop violències Andorra
Bibi Ni una menos-Soriano Uruguay
Cabildo de mujeres Ecuador
Creando Juntas Ecuador
Collecti.e.f 8 maars Bélgica
Coordinadora Feminista 8M Chile
Democracia Socialista Argentina
Desmadres Uruguay
Disidentes Violetas Ecuador
Feministas Autónomas Bolivia
Feministas con voz de maíz Mexico
Feministas en Holanda Holanda
Grupo Internacional de la Huelga Feminista #14Junio Suiza
Grupos Regionales de la Red para una Huelga Feminista en Alemania Stuttgart, Berlin, Augsburg,
Frankfurt/Main “Gemeinsam kämpfen”, Leipzig
International Women’s Strike Estados Unidos
Luna Creciente Ecuador
Minervas Uruguay
Movimiento de Mujeres de Kurdistán en America Latina Kurdistán
Nina Warmi Ecuador
Ni Una Menos Argentina
Non Una Di Meno Italia
Opinión Socialista Argentina
Parlamento Plurinacional de Mujeres y Feministas Ecuador
Radical Women/Mujeres Radicals
Australia & United States
Red de feminismo populares y desde abajo Uruguay
Resistência Feminista Brasil
Revista Amazonas Ecuador
Toutes en Grève Francia
Unidad Latina en Acción Estados Unidos
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