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Em defesa da Nação: os símbolos nacionais e uma polêmica na esquerda


Publicado em: 1 de agosto de 2025

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Coluna Gabriel Santos

Gabriel Santos

Gabriel Santos é nascido no nordeste brasileiro. Alagoano, mora em Porto Alegre. Militante do movimento negro e popular. Vascaíno e filho de Oxóssi

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Coluna Gabriel Santos

Gabriel Santos

Gabriel Santos é nascido no nordeste brasileiro. Alagoano, mora em Porto Alegre. Militante do movimento negro e popular. Vascaíno e filho de Oxóssi

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Reprodução/X/@LulaOficial

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Soberania nacional é a coisa mais bela que há” –
Machado de Assis

Sexta feira, 01, estava anunciado o tarifaço imposto pelos Estados Unidos ao Brasil. Enquanto as peças eram movimentadas no tabuleiro da política internacional, uma polêmica surgiu nas redes sociais nos últimos dias sobre o uso e validade dos símbolos nacionais por parte da esquerda brasileira.

Essa polêmica, diante da urgência da conjuntura, seria insignificante. E em certo sentido ela é. É algo marginal, que não ultrapassa o pequeno círculo da esquerda organizada. Porém, ela é interessante, já que expõe uma certa forma de pensar e agir desses polemistas.

Levantada de forma abrupta por militantes de grupos de esquerda que são oposição ao governo do Presidente Lula, por ele não ser de “esquerda suficiente”. Ela mais parece uma tentativa desesperada de fazer uma diferenciação entre essas organizações autodeclaradas de esquerda radical e o restante da esquerda brasileira.

A acusação central é que o nacionalismo seria em essência reacionário, e em momento de ascensão da extrema direita no mundo, usar motes e símbolos nacionais seria um tiro no pé.

Os polemistas resgatam as origens das cores da bandeira nacional, dizem que essa e nem o verde-amarelo têm lugar junto de uma “esquerda de verdade”, e não deveriam estar no ato. Passam a contrapor com bandeiras imaginárias de um país utópico pós-revolução socialista.

Afirmam, também, que a palavra de ordem elaborada pelo governo “o Brasil é dos brasileiros”, em referência a soberania nacional, é semelhante às palavras de ordem de extrema direita anti-imigrante.

Pois bem. Todas essas críticas, além da necessidade visceral de diferenciação para uma autoafirmação como sendo um setor “mais à esquerda”, é recheada de erros políticos, históricos e teóricos.

São críticas que pairam no ar. Em abstrato. Elas ignoram o elemento central da conjuntura: um ataque da principal potência imperialista do mundo à soberania nacional. Esse é o tema central das últimas semanas.

No Brasil, no dia 01 de agosto de 2025, a luta de classes se apresenta no cenário: Nação x imperialismo. Ou se está na defesa da Nação, ou se está apoiando o ataque estrangeiro. Não existe meio termo. É um governo de frente ampla, porém encabeçado pela principal figura da esquerda do país, que lidera a defesa da Nação.

Nesse momento devemos cerrar fileiras com o Presidente Lula contra o Imperialismo. Inclusive em unidade de ação com setores burgueses que não estão no governo, como segmentos da mídia, da Fiesp, de representantes do agronegócio, desde que esses setores se coloquem na defesa da soberania nacional, ou seja, contra o tarifaço, contra a interferência no julgamento de Jair Bolsonaro.

A crítica dos polemistas ignora esse fato. O Brasil é um Estado-Nação real, com símbolos reais, fronteiras reais e dentro dela se desenvolve uma formação econômico-social específica. Não é um país abstrato sendo atacado.

Parte desses polemistas parece viver em um mundo pré-marxista, onde o socialismo utópico ainda reina nos corações e mentes dos jovens de esquerda. Abstraem e negam os processos históricos de sua materialidade. Transformam suas ideias e vontades em verdades, acham que a partir delas, do desejo e do pensamento, vão conseguir tomar o Poder. Enquanto uma outra parte, é ainda pior. É pré-hegeliana. A dialética para eles não existe. A história é assim, e assim será sempre.

O nacionalismo é reacionário?

A afirmação de que todo nacionalismo é reacionário chega a ser ridícula. Este é um debate resolvido há mais de um século pelos bolcheviques, mas que também foi vivido por Marx.

Uma afirmação que é a-histórica. Que nega todo o processo de construção do capitalismo e da existência do colonialismo, onde existem países que dominam e países que são dominados.

Afirmar que todo nacionalismo é reacionário é negar o direito à autodeterminação dos povos. É dizer que, caso não se construam repúblicas socialistas se deve seguir vivendo sob o jugo do imperialismo. É negar toda luta de classes do século XX. Negar a revolução chinesa, a libertação do Vietnã, os processos anticoloniais em África, a ação Da União Soviética na Segunda Guerra. É negar hoje o direito a defesa e a autodeterminação do povo Palestino com Estado-Nação próprio.

É preciso saber diferenciar o nacionalismo de uma nação imperialista e opressora, do nacionalismo de uma nação oprimida. Assim como é preciso identificar que o nacionalismo de uma nação oprimida, por si só, não representa um programa político finalizado.

O fato é que na terceira década do século XXI, o Estado-Nação é peça central dos debates políticos por todo o globo. No Brasil, país de capitalismo dependente, o tema nacional ganha ainda mais importância. É impossível construir qualquer programa de esquerda sério sem ter o tema nacional no centro do debate. Por consequência, esse nacionalismo deve ser também internacionalista, por entender o lugar do Brasil no mundo e saber quais são nossos aliados, e a centralidade da integração sul-americana e do sul global.

Por fim, a acusação de que a palavra de ordem do governo federal é fascista é apenas desonestidade e política suja.

É entendível que se trata em referência a interferência do imperialismo estadunidense e um chamado ao povo brasileiro pegar a defesa nacional por suas próprias mãos.

Colocar isso como uma possível estigmatização de imigrantes é ignorar como se deu a construção do Brasil, além de não entender o que é o povo brasileiro, composto não somente por aqueles que nascem neste solo, mas por todos.

Em defesa do verde-amarelo

Por mais que sejam contra símbolos nacionais, por mais que sejam contra fronteiras, por mais que sejam contra o Estado-Nação, e ele seja parte do processo de reprodução do capital, ele existe, ele não vai deixar de existir por mais que não se goste dele, e é dentro de suas fronteiras e nos marcos de sua reprodução que ocorre a luta de classes. Eu, por exemplo, odeio o flamengo, mas ele continua existindo e ganhando alguns jogos.

Por mais que não se goste da bandeira nacional, que se ache suas cores bregas e se saiba que sua origem representa casas imperiais, é impossível dizer que hoje, 200 anos depois da independência, ela não representa o povo brasileiro. Ela se tornou para a população um símbolo, algo que remete ao país, assim como o verde e o amarelo se tornaram juntos sinônimo de Brasil. O surgimento do Brazil Core não me deixa mentir. São essas cores que aparecem em momentos festivos como São João, Copa do Mundo e Olimpíadas.

O hino, a bandeira, assim como manifestações culturais, são expressões materializadas da identidade do Brasil, conhecidas por todo território nacional e fora dele. Em qualquer lugar do mundo que se for com a camisa amarela da seleção brasileira, alguém reconhecerá.

Afirmar que o verde-amarelo não representa o povo e por isso não deve ser usado, é uma prova de sua marginalidade diante do cotidiano da vida e de seu pensamento idealista. Mas caso acreditem que suas bandeiras e camisas com nome de revolucionários do século passado dialogam mais com a classe trabalhadora, desejo uma boa sorte.

A questão política é que nos últimos dez anos os símbolos nacionais foram tomados pela extrema direita como parte de seu processo de mobilização, agitação e política. A partir do verde e amarelo, se diziam cidadãos de bem e contrapunham aos vermelhos. Porém, mais do que isso, a partir do verde-amarelo eles conseguiram um elemento central na política: a busca por hegemonia, que foi se afirmar como interesse dos defensores da Nação, do universal, de uma suposta maioria, enquanto os vermelhos seriam os outros, defensores de si mesmos.

Agora, pela primeira vez em dez anos, a extrema direita perde seu principal arsenal simbólico, as cores nacionais. Não me parece de bom tom, nem inteligente deixarmos de usar este símbolo e não buscarmos nos tornar aqueles que falam em nome de uma maioria, em nome da Nação no momento de ataque. Como todo símbolo, a bandeira nacional e suas cores são parte de relações sociais. São moldadas por esta. Podemos resgatar esse símbolo e ressignificar o sentido dessa maioria universal que representa o país.

As cores verde-amarela e a bandeira nacional estiveram presentes no Petróleo é nosso, marcharam com as Ligas Camponesas e estão presentes nos assentamentos do MST, apareceram nas Diretas Já!, e acompanharam o povo brasileiro em suas lutas nestes 200 anos e assim seguirá fazendo.

Ela não pertence à extrema direita. Ela não tem patente de Orleans e Bragança. Ela é do Brasil e esse é seu único dono. O Brasil é seu povo. E o povo é contra o tarifaço de Trump e pela soberania.

O foco da conjuntura

Em seu desejo de se autoafirmar, essas organizações até tentam criar outro chamado para a manifestação nacional, que deixa de ser contra o tarifaço e se tornou um “ato contra o Imperialismo”. O tema nacional saiu de cena e entrou um internacionalismo. A defesa do Brasil, ponto capaz de gerar unidade e maioria social, foi adicionado à defesa de Gaza e do povo palestino. Esta, uma defesa justa, humanista e necessária, passa a ser um apetrecho simbólico, para mera diferenciação política.

Isso pode ser visto como uma forma de se enganar e enganar a própria base de suas organizações, visto que esses grupos pouco ou nada construíram para que realmente tivessemos atos. Seria justo, se dentro da coluna dessas organizações, se desse a forma e a agitação política que bem entendem e preferem. Porém, ao modificar o chamado do ato mostram a incapacidade de serem vanguarda compartilhada de um processo que pode ser de massas, a incapacidade de construir ações unitárias e conjuntas e o desejo eterno por ser marginal e afastado da disputa por maioria social.

Vale destacar que nesse momento muitas pautas acontecem na luta política nacional. A luta pela isenção do imposto de renda para até cinco mil reais, a taxação das grandes fortunas, o fim da escala 6×1, a luta contra a PL da devastação. Todas elas vão aparecer nos atos do dia 01 de agosto. Porém, aqui vale lembrar duas frases. A primeira é que não se deve batalhar muitas batalhas ao mesmo tempo. A segunda é sobre a necessidade de marchar separado e golpear juntos.

É justo e natural que as demais pautas da conjuntura surjam nas manifestações, mas nenhuma delas pode tirar a centralidade da defesa da soberania e do rechaço ao tarifaço.

A incapacidade da esquerda brasileira de centralizar a luta naquela pauta que é central no momento, com capilaridade popular, que constitui maioria social e pode se tornar maioria política e, principalmente, podemos vencer e abrir um espaço mais favorável para nosso campo, inclusive para vitórias futuras dos demais temas, mostra bem nossos limites e contradições.

É hora da união nacional, de romper a bolha da esquerda, de desejarmos e lutarmos para atingir maioria social e que nossa voz seja a voz da Nação.

Nosso lugar hoje é ao lado do Presidente Lula, nossa bandeira é a verde e amarela, nossa defesa será do Estado brasileiro, nosso inimigo é o imperialismo estadunidense e os traidores da pátria.

Uma luta de cada vez, se preparando para a batalha, a Guerra será longa.

Pátria Livre, venceremos!!


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