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Fazer a UNE ser elo – Construir um projeto de movimento estudantil político e pela base


Publicado em: 19 de abril de 2025

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Coordenação Nacional do Afronte

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

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Foto: UNE

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A ascensão global da extrema direita é o elemento determinante do momento político no qual vivemos. Esse fenômeno se irradia em todas as dimensões da vida social e política no Brasil. A ofensiva neofascista mira as conquistas sociais acumuladas nas últimas décadas: direitos dos trabalhadores, assistência social, direito á Saúde pública, medidas compensatórias, avanços (ainda que insuficientes) nos direitos das mulheres, das pessoas LGBTI+, de negros e negras, indígenas.

Acompanhando essa lógica, a extrema direita atua contra a Educação, as universidades e a ciência, conjugando uma luta ideológica feroz contra o livre pensamento, a liberdade de cátedra, o pensamento crítico e a atmosfera democrática que existe nas universidades, para impedir que elas continuem sendo um espaço de resistência contra ideias autoritárias, racistas, lgbtfóbicas e machistas. Essa luta ideológica não se limita à universidade pública, ao contrário, está enraizada em todo o sistema de ensino brasileiro, público ou privado.

Vivemos recentes exemplos de ataques fascistas em nossos locais de estudos, foi o caso na UnB (Universidade Federal de Brasília), na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e na UEPB (Universidade Estadual da Paraíba). Além disso, o governo Trump, nos EUA, está fazendo uma série de exigências às universidades americanas para colocá-las sob controle do governo, e caso não aceitem, têm seus fundos federais bloqueados, como foi o caso de Harvard, que se manifestou contrária às exigências.

Sendo assim, só é possível debater a atual situação concreta do movimento estudantil brasileiro, caso se reconheça de forma muito rigorosa que a esquerda e o movimento social em geral estão na defensiva e os fascistas na ofensiva. Somente dessa forma poderemos chegar a conclusões corretas sobre quais são nossas tarefas para o próximo período e quem são nossos inimigos e aliados.

O movimento estudantil atravessa um período de refluxo e isso não pode ser explicado superficialmente, como se fosse consequência da mera ausência de vontade política da direção da UNE. Afinal, os DCES e entidades dirigidos pela oposição também não estão construindo grandes mobilizações. Pelo contrário, atravessamos uma conjuntura defensiva marcada por desafios estruturais profundos.

Pelo menos quatro fatores ajudam a compreender esse cenário. Em primeiro lugar, a ofensiva da extrema-direita abala a moral, a esperança e a confiança na capacidade de conquistar direitos a partir da mobilização. Em segundo lugar, a composição social das universidades se transformou nas últimas décadas: a maioria dos estudantes hoje precisa trabalhar para se manter, enfrenta dificuldades objetivas e carrega, cotidianamente, as marcas do próprio refluxo vivido pela classe trabalhadora como um todo. Em terceiro lugar, os impactos da pandemia: os danos subjetivos causados pelo ensino remoto, pelo isolamento, pela sobrecarga emocional, a expansão do ensino a distância, continuam presentes, afetando diretamente a saúde mental da juventude. Por fim, a fragmentação do próprio movimento estudantil, atravessado por disputas que se distanciam das grandes tarefas políticas, ficando circunscritas a ataques morais sobre práticas que, infelizmente, não são exclusividade de um setor da entidade. Isso gera afastamento e desconfiança entre os estudantes, que deixam de enxergar nas entidades do movimento estudantil um instrumento sério e potente de organização.

Há de se encarar a realidade de frente. As assembleias e processos de luta que vivemos nos últimos anos têm sido capazes de mobilizar setores limitados, restringindo aos estudantes mais dispostos a lutar. Nenhuma organização política ou mesmo setores independentes do movimento têm conseguido fazer processos que envolvam milhares de estudantes como fazíamos há alguns anos. Quem dera fosse uma questão de disposição de quem dirige o Movimento estudantil, seja em cada local de estudo ou nacionalmente. Os desafios que vivemos são mais profundos do que isso.
Para enfrentar essa situação política é fundamental a construção de ações coletivas, unitárias e enraizadas na realidade concreta dos estudantes. O exemplo recente da Unicamp, com a aprovação da política de cotas para pessoas trans, mostra justamente isso: foi a partir de uma luta unificada e impulsionada pela mobilização da greve, que apaixonou o conjunto dos estudantes por uma reivindicação, e essa conquista histórica se tornou possível.

Desse modo, a principal tarefa colocada para o movimento estudantil — e, em especial, para o Congresso da UNE — é retomar e aprofundar o processo de politização da juventude a partir da base. A serviço do avanço do conjunto de nossa luta. As tiragens de delegados não devem ser encaradas apenas como um rito formal ou uma disputa marcada por polêmicas artificiais e acusações mútuas que pouco dialogam com a realidade e necessidade concreta dos estudantes.
Pelo contrário, esse processo precisa ser uma oportunidade de avançar nos grandes debates políticos com o conjunto das estudantes. As disputas políticas no interior do movimento estudantil devem ser instrumento para apresentar projetos conectados às tarefas imediatas da conjuntura com a vida real da juventude trabalhadora. Precisamos ser responsáveis.

As tarefas da juventude brasileira hoje

O 60º Congresso da UNE acontece em um momento decisivo para a juventude brasileira. Diante do avanço da extrema-direita a juventude tem uma tarefa histórica: fortalecer a unidade em defesa da democracia e do direito ao futuro. A extrema-direita, no Brasil e no mundo, não é apenas uma ameaça institucional. Ela representa um projeto de destruição: quer acabar com os movimentos sociais, com a democracia, ataca as universidades, a ciência, os direitos sociais, a liberdade de organização e tenta alimentar o ódio para fragmentar qualquer possibilidade de luta coletiva.

Por isso, entendemos que a construção da unidade entre os setores consequentes da juventude na luta contra a extrema direita é a tarefa política mais importante da atualidade, isso quer dizer que ela subordina todas as outras. O congresso da UNE deve ser uma trincheira comum de resistência e de articulação nacional contra esse projeto autoritário, racista, lgbtfóbico e antipopular.

A UNE precisa avançar! Não temos dúvida disso. Mas, acima de tudo, no papel que cumpre desde a base do movimento estudantil. A entidade precisa ser elo, conectando os estudantes do Brasil para lutar e ter vitórias concretas!

Resistir e preservar as conquistas que existem hoje não é suficiente. É preciso apontar para o futuro e avançar com propostas concretas que possam disputar a sociedade brasileira para nossas pautas. O plebiscito popular pelo fim da escala 6×1 e pela taxação das grandes fortunas é hoje a principal ferramenta construída pela esquerda para disputar os rumos políticos da sociedade brasileira.

A taxação das grandes fortunas está diretamente conectada à defesa da educação pública. Não é justo que o peso da crise recaia sobre os estudantes e trabalhadores, enquanto os super-ricos continuam acumulando lucros recordes. São esses setores privilegiados que devem pagar a conta da educação, da saúde e da reconstrução do país. Lutar por mais investimento na educação passa por disputar o orçamento público e enfrentar a estrutura tributária profundamente desigual do Brasil.

Já a escala 6×1, aplicada principalmente aos trabalhadores do comércio e dos serviços, tem um impacto direto na juventude universitária. Milhares de estudantes, especialmente da classe trabalhadora, são obrigados a escolher entre estudar ou trabalhar, devido à lógica perversa de uma jornada que esgota o corpo e impede qualquer organização da vida para além do trabalho. O 6×1 é também um projeto de esvaziamento das universidades e de negação do direito à permanência estudantil.

Por isso, uma das tarefas centrais deste Congresso é assumir o compromisso de construir, em cada universidade, em cada DCE, em cada diretório de curso, a campanha nacional do plebiscito popular. Cada estudante e cada organização política consequente presente no Congresso tem a responsabilidade de voltar para sua base e ajudar a organizar comitês, rodas de conversa, materiais de divulgação e coleta de votos. A força dessa campanha está na sua capacidade de mobilizar, de educar politicamente e de conectar as pautas da juventude aos interesses do povo trabalhador. E a UNE é a ferramenta capaz de unificar essa luta desde o Movimento Estudantil.

De nada nos interessa fragilizar e deslegitimar a entidade. Quem faz isso de forma sistemática e com interesses bem definidos e nefastos é a extrema direita. A UNE é um patrimônio e precisamos disputar os rumos da entidade, mas acima de tudo, nos apoiar nela para ser uma ferramenta para disputar os rumos do país.

Parte das organizações de juventude, com centralidade na oposição de esquerda, se preocupam mais com a narrativa eleitoral que acontece a cada dois anos, para justificar os seus próprios limites, do que com entender e impulsionar a entidade, no cotidiano, como articuladora das demandas que temos e das lutas que construímos em cada local de estudo. Dessa forma não avançaremos.

A UNE ser Elo é tarefa de todos nós. De todos que entenderam a gravidade do que estamos vivendo. A mesquinhez das análises que só servem a autoconstrução, a crítica pela crítica, as justificativas que amaciam o ego de setores minoritários na entidade, mas que não produzem síntese e não tem compromisso com a disputa que vivemos dentro do movimento estudantil, mas também para além de seus muros, não nos serve.

Somos aqueles e aquelas que entendem que não nos bastamos. Que precisamos estar obcecadas pelas disputas que constroem, que mobilizam, que possibilitam esperançar. Por entender que precisamos golpear juntos, e que nossos inimigos não são as organizações de esquerda que constroem a entidade, ainda que tenhamos várias diferenças, é parte do essencial para avançarmos nas grandes tarefas que temos pela frente.

Reduzir o debate democrático a disputas sobre credenciamentos ou à contagem de delegados esvazia seu conteúdo e afasta a juventude da UNE. Não podemos nos dar ao luxo de fazer eleições e um congresso que estejam pautados em quem é mais de luta e quem carrega o gérmen da radicalidade. Isso é irresponsável. Precisam ser superadas as acusações mútuas e infindáveis para colocar no centro do debate as tarefas políticas gerais e específicas do Movimento Estudantil. Enquanto seguimos nos degladiando internamente na entidade, perdemos políticas de assistência estudantil em várias universidades do país. E com isso diversos estudantes, especialmente os mais vulnerabilizados, ficam pelo caminho. Precisamos nos responsabilizar, nos hierarquizar pela política, para que a UNE venha a ser elo, e as exigências democráticas estejam de fato à serviço da construção das lutas no país.

Construir um projeto de movimento estudantil político e pela base

Historicamente, a UNE esteve na linha de frente de importantes lutas políticas no Brasil. Desde a campanha “O Petróleo é Nosso”, passando pela resistência à ditadura militar e pelo movimento das Diretas Já, a entidade sempre foi protagonista na defesa da democracia e dos direitos do povo.

Mais recentemente, a UNE teve papel fundamental na resistência à extrema-direita. Organizou os grandes “Tsunamis da Educação”, esteve presente na campanha nacional “Fora Bolsonaro” e, nos últimos anos, tem atuado contra os ajustes fiscais do governo. Em unidade com as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, também foi parte ativa na construção dos atos por punição aos golpistas do 8 de janeiro reafirmando a bandeira “Sem Anistia”.

Nesse sentido, partindo da importância da UNE nas grandes tarefas históricas, qualquer debate sobre os rumos da entidade deve ser feito de maneira séria e responsável.

Queremos pensar e agir coletivamente para a UNE cumprir o papel que precisamos!

O movimento estudantil brasileiro realiza eleições regulares em suas entidades de base, promove congressos nacionais deliberativos e abriga, na UNE, a maior frente única organizada do país. Isso não significa ignorar os limites que existem — ao contrário, reconhecemos a necessidade de avançar, com uma agenda que fortaleça a democracia e o enraizamento da UNE.

Nesse sentido, a democracia na UNE precisa ser compreendida como parte essencial de seu projeto político. Devemos nos perguntar quais formas de organização podem tornar a UNE uma entidade mais democrática — no sentido de estar mais conectada às bases e, por isso, melhor preparada para cumprir seu papel histórico diante da juventude brasileira.
Nosso objetivo é que a UNE se transforme em um verdadeiro ponto de apoio ao movimento estudantil, no qual cada estudante se reconheça e se veja representado, queira fazer parte da entidade, construa junto. Queremos que os CAs, DAs e DCEs se sintam parte da construção da entidade, fortalecendo-a de forma que as disputas internas estejam sempre voltadas à luta política concreta do nosso tempo.

Plenárias de DCEs impulsionadas desde a entidade, articular a luta das executivas de curso, impulsionar e apoiar a construção de entidades gerais dos estudantes onde elas não existem ainda, plenárias na base de cada universidade construídas em unidade. Entender que cada espaço mobilizado e potente construído no movimento estudantil é uma vitória coletiva, é o que precisamos.

Como a UNE contribuir para que cada diretoria, cada DCE, cada CA e DA deve estar a serviço da mobilização popular, contribuindo para organizar um grande plebiscito nacional pela taxação das grandes fortunas e pelo fim da escala 6×1 com uma perspectiva estratégica de enfrentamento à extrema-direita. Isso é que queremos e vamos debater enquanto Afronte no CONUNE que se aproxima, e nos processos eleitorais que construíremos até chegar lá. Assim como fazemos na base das universidades no cotidiano. Fazer a UNE ser a ferramenta que pode ser é tarefa coletiva. Precisamos ir além. Precisamos fazer elo!

É desta forma que nós do Afronte enxergamos o debate de democracia na entidade e é esse o nosso espírito rumo ao 60º Congresso Nacional de Estudantes da UNE: organizar eleições do CONUNE que sejam politizadas, que movimentem as universidades e que busquem convencer o estudante de que é possível vencer. Fazer com que o Congresso da UNE e a nova gestão sejam de fato um elo de sustentação para as tarefas políticas da nossa geração, através da unidade e da luta coletiva.


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