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Débora Rodrigues, Jacinta Velloso e o cinismo bolsonarista
Publicado em: 27 de março de 2025
Foto: Agência Brasil. Montagem: Esquerda Online
Há muita gente indignada com o caso da cabeleireira bolsonarista Débora Rodrigues, que pode ser condenada a 14 anos de prisão pelo STF. Tanto tempo assim não seria demais, afinal, Débora fez somente “uma pichação com batom em uma estátua”?
Débora, no alarido que vem fazendo a extrema-direita, seria apenas uma vítima da “perversa ditadura do STF”, que também vem “perseguindo” políticos que “batem de frente contra o sistema”, como é supostamente o caso de Bolsonaro.
Além de não ser verdade, já que Débora está sendo julgada por vários outros crimes, inclusive o de tentativa de golpe de Estado, o caso lembra o da militante comunista Jacinta Passos. Mas só para efeito de paralelo, mesmo, pois ambos são bem diferentes.
Jacinta Velloso Passos foi pedagoga, poeta, jornalista, mãe e militante comunista vinculada ao velho PCB, desde 1944. Também foi casada com James Amado, irmão do famoso romancista baiano Jorge Amado.
Em 1965, quando a ditadura civil-militar acabava de entrar em vigor em nosso país, Jacinta encontrava-se residindo em Barra dos Coqueiros, Sergipe.
Em uma ação de agitação contra a ditadura militar, pichou um muro com uma mensagem de protesto. Contudo, a ação deu errado e Jacinta foi apanhada pela polícia. Nas mãos dos milicos, foi levada para um hospital psiquiátrico, onde foi internada compulsoriamente e submetida a torturas com eletrochoques. Durante 9 anos de sua vida.
Ao fim e ao cabo, Jacinta era uma presa política, sem direito às prerrogativas de um julgamento minimamente justo: “estou presa. Sou uma presa política. Foi o Exército. Estou presa desde 1965, quando caí, estava escrevendo num muro de Aracaju.”
Tanto é que em seu prontuário estava escrito: “desde 1944, é comunista”.
Quando faleceu, em 28 de fevereiro de 1973, Jacinta tinha 57 anos. Sobre ela, o jornalista Célio Nunes escreveu
“Presa em 1964, Jacinta Passos foi internada no Adauto Botelho, removida depois para a Clínica Santa Maria. Internado como louca por 9 anos, para o sossego dos que não toleram comportamentos diferentes e contestadores. Depois de muitos eletrochoques, veio a falecer em 1973.”
Tratamento completamente oposto ao que vem sendo dispensado à Débora Rodrigues. E, apesar das graves acusações que lhe pesam, Débora vem tendo direito a um julgamento baseado no processo legal, no qual pôde defender-se das acusações constituindo advogado, sem internações compulsória, tortura e morte.
Traçado o paralelo, fica aqui evidente o cinismo e o modus operandi do tipo “dois pesos duas medidas” com o qual a extrema-direita bolsonarista vem tratando o caso.
Ela exalta assassinos sem nenhuma vergonha na cara e sente saudades dos tempos em que a ditadura sequestrava opositores e, sem julgamento ou qualquer processo legal, prendia, torturava, internava e matava-os, como fez com Herzog, Rubens Paiva, Luiz Eduardo Merlino, Edson Luís, Jacinta Velloso e tantos outros que tiveram o mesmo destino.
Já Débora, que como parte dos milhares de brasileiros envenenados pelo bolsonarismo estava ali para ajudar a destruir a democracia e instaurar uma ditadura bolsonarista, está sendo julgada em um regime democrático, com direito a todo o processo legal.
E isso faz toda a diferença.
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