Após alguns dias das cenas de semidestruição de Belo Horizonte (MG), algumas horas de temporal foram suficientes para estabelecer uma situação de calamidade na região metropolitana de São Paulo. As marginais dos rios Pinheiros e Tietê intransitáveis. Apenas na capital, os números apontam 546 enchentes, 132 pontos de alagamentos, 88 desabamentos, queda de 97 árvores em diversas regiões da cidade e a interrupção da circulação de trens e metrô. Quando computados os números da Grande São Paulo, a situação é ainda mais alarmante.
Muitas pessoas podem acreditar que o caos estabelecido seria responsabilidade das chuvas, considerando que, de acordo com o INMET (Instituto Nacional de Meteorologia), o volume de água que caiu nas últimas horas equivale a 66% do previsto para todo o mês de fevereiro. Mas, ao contrário do que pode pensar o senso comum, a responsabilidade pelo quadro caótico de regiões alagadas, casas, carros, bairros submersos, perdas de bens e vidas, além de conseqüências direta dos efeitos climáticos do aquecimento global, é na verdade o resultado de decisões políticas dos governos do Estado e das prefeituras da capital e demais cidades da região metropolitana, que se pautam pela defesa dos interesses econômicos do capital financeiro, que para eles são mais importantes do que a vida da população trabalhadora das cidades.
Dória e Covas: Cortes de verbas para o “combate” às enchentes
Combinada às mudanças climáticas que atingem o globo, uma questão central para explicar o cenário catastrófico que acompanhamos na cobertura jornalística da imprensa e nos relatos das redes sociais neste dia é a política de cortes de verbas promovidas tanto pela gestão do prefeito da cidade de São Paulo, Bruno Covas, quanto de seu antecessor e atual governador do estado de São Paulo, o “gestor” João Dória, ambos do PSDB.
Só em 2019 a gestão Dória deixou de investir 40% dos pouco mais de R$ 360 milhões previstos no orçamento para o combate às enchentes. Por sua vez, seu pupilo, o prefeito Bruno Covas, utilizou apenas 48% das verbas da prefeitura de São Paulo para obras antienchente. No entanto, não foi apenas em 2019 que os dois governos tucanos não investiram recursos necessários para minimizar ou evitar as conseqüências das chuvas, que atingem de forma mais dramática as regiões periféricas da cidade, deixando um rastro de destruição e mortes para as famílias trabalhadoras.
De acordo com levantamentos da própria imprensa, a partir dos dados disponibilizados tanto pela prefeitura de São Paulo quanto pelo governo estadual, entre 2016 e 2018, dos cerca de R$ 5,6 bilhões orçados no período, a dupla investiu apenas R$ 2,1 bilhões, o equivalente a 48% do previsto nos orçamentos das duas esferas.
Enquanto esses investimentos foram secundarizados pela dupla tucana, apenas em 2019, a gestão Bruno Covas destinou R$ 3,36 bilhões para o pagamento da dívida pública, sem contabilizar os juros e amortizações, cujos maiores credores são os banqueiros. Por sua vez, o governador Dória, destinou mais de R$ 19 bilhões para a mesma finalidade.
Crescimento desordenado da cidade e ataques aos rios
Outro debate necessário sobre o tema das enchentes nas cidades é a lógica desordenada de crescimento urbano, que na ausência de uma planificação e seguindo a voracidade da especulação imobiliária, incentiva a ocupação das várzeas de rios e córregos, além, obviamente da construção de avenidas, corredores, etc, devido à necessidade de escoamento de veículos particulares diante da ausência de uma política de investimento no transporte coletivo público, gratuito e de qualidade.
Um exemplo deste tipo de ocupação das várzeas são as próprias marginais, construídas em áreas que deveriam ser ocupadas pelas águas dos rios Pinheiros e Tietê em épocas de chuvas intensas. Soma-se a isso a canalização de rios e córregos, o desaparecimento de áreas verdes e, consequentemente, permeáveis na cidade e vemos o resultado com as cenas catastróficas que se repetem ano após ano.
Este quadro geral coloca a tarefa para a esquerda socialista de disputar corações e mentes da população trabalhadora, que é quem mais sofre as conseqüências destes governos dos ricos, para construir a mobilização popular pela disputa do orçamento público para atender às necessidades do povo trabalhador ao mesmo tempo em que apresente outra lógica de cidade que esteja pautada por uma priorização do investimento público para construir uma cidade para a maioria e que se paute numa relação de convivência harmônica do espaço urbano com os rios e córregos, que são tão necessários e importantes para a cidade.
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