Saúde do homem e saúde da mulher: quem ganha?
Publicado em: 18 de agosto de 2016
Por: Karine Afonseca, de Brasília, DF
Na última semana, o ministro da Saúde fez uma declaração infeliz sobre os motivos que os homens não procuram os serviços de saúde. Segundo Ricardo Barros os homens tendem a cuidar menos, pois trabalham mais que as mulheres, tendo menos tempo para frequentar os serviços de saúde.
A declaração foi considerada desastrosa até mesmo pela filha. Ela, mais atualizada que o ministro, reconhece que nos dias atuais a mulher tem acumulado uma sobrecarga de trabalho maior que a dos homens. Segundo dados IBGE de 2013, a mulher, com o acúmulo da dupla e por vezes tripla jornada, trabalha em média quatro horas a mais do que os homens, ganham 30% a menos e ocupam os trabalhos mais precarizado, como serviços gerais, terceirizados e informais.
Na ocasião, o ministro estava apresentando dados de uma pesquisa que a ouvidoria do SUS realizou com mais de seis mil homens, cujas parceiras fizeram parto no SUS. Nesta pesquisa, 31% dos entrevistados afirmaram não ter o hábito de procurar serviços de saúde.
A saúde do homem nos últimos anos tem sido pauta frequente dos programas do Ministério da Saúde. Essa preocupação é explicada pelo aumento dos gastos e sobrecarga financeira que as doenças adquiridas por essa população têm causado ao SUS. Doenças que com consultas rotineiras e cuidados diários poderiam ser diagnosticadas com antecedência, tratadas e evitariam muitas mortes.
O machismo também ameaça a vida dos homens
O ciclo de vida masculino passa por duas importantes provas de sobrevivência. a primeira é durante a adolescência até o período do adulto jovem – 16 a 27 anos. Nesta faixa etária observa mortalidade crescente entre os homens por causas externas, como acidente de trânsito, armas de fogo e agressões. O segundo período crítico é durante o envelhecimento, momento em que o homem, que deveria procurar mais serviços de saúde, não procura e quando descobre alguma doença, seu estágio está muito avançado, o que limitam as oportunidades de tratamento. A consequência disso é a baixa expectativa de vida masculina quando comparada à feminina – expectativa dos homens é de 71 anos e das mulheres de 78 anos. As principais causas de morte no público masculino ainda são as doenças cardiovasculares e neoplasias com boas perspectivas de tratamento e cura quando descobertas em estágio inicial.
Quando é discutida a saúde do homem e a dificuldade em aderir aos cuidados preventivos para viver mais e com melhor qualidade, percebe-se um reflexo da ideologia machista em seu autocuidado, negando a importância de procurar os serviços de saúde de forma rotineira ou de prevenir acidentes. Os homens ainda são educados na cultura do macho alfa, forte, viril, violento e que tudo se resolve com pouco ou nenhum cuidado. Eles se expõem de forma mais frequente a situações violentas e a comportamentos de descasos com a própria saúde.
O machismo retira a vida de milhares de mulheres diariamente, mas é preciso reconhecer que tira as dos homens também. As perdas de vidas provocadas pelo machismo no sexo masculino se diluem na cultura e comportamentos machistas, se esvai com o avançar da idade, se normaliza com os acidentes de trânsito e homicídios. Ainda não desenvolveram pesquisas para contabilizar a negligência do homem com o próprio corpo para afirmação da masculinidade. Mas, a vida dos homens também está ameaçada pelo machismo que se alimenta de uma educação de gênero que retira cada dia mais os homens das responsabilidades de autocuidado e o expõem a situações de violência.
Para que o ministro da Saúde tenha sucesso na sensibilização do homem para cuidar da saúde, é necessária a discussão de gênero nas escolas, nas praças, nos locais de trabalho, estabelecimentos de saúde, na sociedade em geral. É necessário mostrar que o cuidado é uma habilidade humana, que independente do sexo, pode e deve ser desenvolvida. Deve-se afastar das antigas comparações entre papeis e potencialidades masculinas e femininas, pois em questão de saúde os dois perdem.
Foto: Elza Fiuza/Agência Brasil
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