E se Campinas, SP, fosse dos trabalhadores?
Publicado em: 25 de agosto de 2016
Por: MAIS Campinas, SP
Estamos num momento importante para a esquerda socialista no Brasil. Por um lado, uma brutal crise econômica que nos joga no desemprego e na miséria. Só em Campinas, o desemprego atingiu 10,23% em junho de 2016, com aumento de mais de 100% comparado a abril de 2014. Por outro lado, após anos do governo de conciliação de classes de Lula e Dilma (PT), a burguesia quer impor o governo reacionário de Temer para aprofundar os ataques aos direitos da classe trabalhadora e recuperar o lucro dos empresários.
As eleições municipais que vão ocorrer em outubro estarão atravessadas por esse cenário e por uma questão fundamental para a esquerda socialista: a ruptura de milhões de trabalhadores e jovens que não enxergam mais o PT como uma alternativa para o país. A conclusão a que essa camada de trabalhadores chegou, e com razão, é que foi a própria frente popular que nos trouxe a essa situação e que abriu caminho para o governo ilegítimo de Temer (PMDB).
É nesse cenário, difícil e complexo, que a esquerda socialista deve atuar para construir uma alternativa política para os trabalhadores.
Em Campinas, a burguesia tem candidatos
Nos últimos quatro anos, a Prefeitura de Campinas atacou enormemente os serviços públicos, os direitos dos trabalhadores e foi também um grande balcão de negócios para os empresários e os conservadores da cidade. O governo de Jonas Donizette (PSB), que tem o apoio de grandes partidos burgueses como o PSDB e o PMDB, aprovou um subsídio de R$ 30 milhões por ano para as empresas privadas de transporte urbano, com o intuito de salvar os lucros.
Ele aprovou, ainda, a lei das terceirizações, que autoriza empresas privadas a administrarem e lucrarem com os serviços públicos, como já acontece com o Hospital do Ouro Verde, as naves-mãe, entre outros. Foi durante o governo Donizette que:
1 – Foi discutido o projeto de proibição sobre o debate de gênero, identidade de gênero e orientação sexual nas escolas da cidade, aprovado em primeira votação.
2 – Continuaram a ocorrer chacinas da polícia, como a do Ouro Verde em 2014.
3 – Se aprofundou a criminalização às atividades culturais da juventude, como os blocos de carnaval e o pancadão. Além disso, Jonas cortou o apoio e incentivou a repressão à Parada LGBT de 2016. Isso é apenas um resumo dos ataques e da demonstração da política elitista e conservadora. Vale lembrar que Jonas é um dos citados na lista da Odebrecht, que apareceu na Lava Jato como tendo recebido R$300 mil na campanha de 2012.
As candidaturas de Doutor Hélio (PDT) e Artur Orsi (PSD) também só representam a elite da cidade. Hélio já foi prefeito com apoio do PT e sofreu impeachment em 2011 por envolvimento em escândalos de corrupção na Sanasa, empresa de tratamento de água e esgoto. Orsi estava no PSDB desde a juventude, nos anos 80, mas por uma briga burocrática decidiu migrar para o PSD para ser candidato. No entanto, vale lembrar que Orsi, o vereador mais votado em 2012, não apresenta um programa diferenciado do de Jonas. O grande problema para Orsi está na suposta má administração e não no programa de privatização e sucateamento dos serviços públicos da cidade.
Por último, temos o candidato Márcio Pochmann, do PT. É preciso lembrar que o partido dos trabalhadores já governou Campinas com Izalene e foi um desastre para a cidade. Pochmann representará, nessas eleições, a tentativa fracassada de um governo de conciliação de classes que tenta atender os interesses da população com os serviços públicos e agradar a iniciativa privada com parcerias, fundações privadas, entre outras. Em momentos de crise como o que estamos vivendo, essa política de conciliação serve somente para salvar as grandes empresas e não os trabalhadores. Nesse sentido, é um projeto que fracassou em nível nacional e que os trabalhadores não devem depositar nenhuma confiança regionalmente.
Duas coisas unificam todas essas candidaturas, o programa burguês e o fato de elas expressarem tudo o que a juventude e os trabalhadores que se mobilizaram a partir de junho de 2013 rejeitaram.
A esquerda socialista deveria expressar o programa de junho por meio de uma frente de esquerda
Para se contrapor a essas candidaturas burguesas, acreditamos que o PSOL e o PSTU deveriam se unificar numa candidatura de esquerda e socialista. Infelizmente, os dois partidos lançaram candidatos separados. O PSOL, com a professora e ex-vereadora Marcela Moreira e o PSTU, com o petroleiro aposentado Marcos Margarido.
Por que defendemos uma Frente de Esquerda Socialista? No cenário em que estamos é necessário aos militantes e ativistas unificarem as lutas contra o governo reacionário e ilegítimo de Temer e disputarem a consciência dos trabalhadores que não enxergam o PT como alternativa. Assim, nenhuma organização da esquerda está em condições para ser este polo de atração para essa camada de trabalhadores. Lamentamos que as duas organizações não tenham defendido a fundo essa política de unidade.
Uma campanha unitária organizada junto aos importantes sindicatos dirigidos pela esquerda, como o dos Químicos e Metalúrgicos, ambos da Intersindical, e que se apoiasse na vanguarda das greves – de estudantes e trabalhadores da Unicamp, dos servidores públicos municipais, das fábricas em luta, como a recente ocupação da MABE – poderia representar um pontapé inicial para uma alternativa de esquerda e socialista nas lutas e nas eleições.
Se a cidade fosse dos trabalhadores
Para nós, uma campanha socialista deveria expressar o espírito de junho, a defesa e ampliação dos serviços públicos de saúde, educação, saneamento, entre outros, contra uma cidade que é governada pelos e para os ricos.
Por isso, defenderemos durante a campanha municipal um programa socialista para a cidade de Campinas. Algumas medidas que queremos discutir com as campanhas e com os ativistas são a necessidade da estatização do transporte público rumo à tarifa zero, a auditoria e o não pagamento da dívida pública. Um programa de investimento em educação e saúde pública que tenha como objetivo zerar o déficit na educação infantil, acabar com a superlotação dos hospitais e garantir atividades de lazer, cultura e esporte nos bairros, principalmente da periferia da cidade.
Para isso, será necessário acabar com as imposições da Lei de Responsabilidade Fiscal e substituí-la por uma Lei de Responsabilidade Social. Também é preciso acabar com os cargos comissionados, contratar e valorizar os serviços públicos. É necessária a tributação progressiva das grandes propriedades, o fim das privatizações e das terceirizações no serviço público, a promoção do debate de gênero, da identidade de gênero e de sexualidade nas escolas, a desmilitarização da Guarda Municipal e a transformação numa guarda controlada pela população, entre outras medidas.
Somente invertendo a lógica da privatização, da terceirização e da precarização é que poderemos ter uma cidade para os trabalhadores, para a juventude e para os setores oprimidos.
Será com essas bandeiras e na defesa de uma frente de esquerda para as lutas, que o #MAIS Campinas se somará às campanhas de Marcela Moreira e Margarido e defenderá o voto nos candidatos socialistas. Para nós, cada voto e militante que somem nessas campanhas serão pontos de apoio para uma frente de resistência ao governo Temer e para a construção de uma alternativa socialista para o país. É por isso que chamamos os trabalhadores e a juventude a se somarem na defesa de um programa socialista para Campinas e na defesa da construção de uma frente de esquerda nas lutas e nas eleições.
Foto: Wikipedia
Top 5 da semana

brasil
Prisão de Bolsonaro expõe feridas abertas: choramos os nossos, não os deles
colunistas
O assassinato de Charlie Kirk foi um crime político
brasil
Injustamente demitido pelo Governo Bolsonaro, pude comemorar minha reintegração na semana do julgamento do Golpe
psol
Sonia Meire assume procuradoria da mulher da Câmara Municipal de Aracaju
mundo