Imposturas políticas e desafios do futuro
Publicado em: 4 de setembro de 2016
Por Carlos Zacarias de Sena Júnior
A dramaticidade dos últimos dias em que os holofotes estiveram voltados para o Senado não deve nos impedir de enxergar o óbvio: o PT caiu por seus erros, mas o processo de impeachment foi sim um golpe parlamentar-jurídico-midiático lastreado nas manifestações de direta que tomaram as ruas do país a partir de março de 2015. É verdade que o PT terminou por conspirar contra a tese do golpe, porque não lutou como podia e como devia para barrá-lo e também porque optou por enfrentar as últimas fases do processo legitimando o seu desfecho presente no Senado.
Mas o fato de o partido de Lula debochar da sua tese, não torna a decisão dos senadores menos ilegítima. O necessário, por ora, é varrer do campo de visão o impressionismo causado por tantos discursos fortes, emotivos e mesmo comoventes, onde não faltaram lágrimas, injúrias e empurrões, e tentar entender as questões principais para além das aparências. Neste aspecto, o resultado da segunda votação, que manteve os direitos políticos de Dilma, diz muito mais sobre o papel do PT do que a própria decisão de afastamento da presidente. A se crer na manifestação de boa vontade de diversos senadores, que aplacaram a culpa do ato indigno com o voto de bondade, o PT deve ser mantido no jogo político, muito embora como um ator coadjuvante a quem se pode recorrer na eventualidade das coisas fugirem do controle. De toda forma, o destino de Lula permanece incerto e não está definido que seus atuais adversários estejam dispostos a contar com o ex-presidente como candidato em 2018.
O PT corre para salvar o que for possível e na sua tentativa desesperada de livrar o próprio pescoço, já tratou de se aliar com partidos golpistas em diversas cidades nas disputas municipais. No final das contas, todos sabemos contra quem foi dirigido o golpe, tanto que nem bem tomou assento na cadeira presidencial, Temer já anunciou as reformas trabalhista e previdenciária. Resta saber se os movimentos sociais serão capazes de superar as divisões e a letargia dos tempos do lulismo para enfrentar o desafio de barrar os retrocessos.
Publicado originalmente no Jornal A Tarde no dia 2/09/16
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