Jornalismo ou publicidade? A entrevista chapa branca do atual prefeito de Itanhaém ao G1
Publicado em: 16 de setembro de 2016
Por: Leandro Olímpio, do litoral paulista, SP
“Deixa eu até pensar nessa resposta”. Essa foi a reação do atual prefeito de Itanhaém e candidato à reeleição, Marco Aurélio Gomes (PSDB), à única pergunta concreta feita pelo G1/TV Tribuna em quase onze minutos de entrevista.
Por nove minutos e meio, assistimos a uma entrevista disponível em vídeo, que mais parece peça publicitária de campanha, com o atual prefeito discorrendo livremente sobre as principais realizações em quatro anos de mandato. É sintomático observar que Marco Aurélio desliza justamente no único momento em que a entrevista sai do script, no único momento em que o monólogo é interrompido pelo repórter.
A pergunta, no caso, trazia à tona a reclamação de turistas sobre a sensação de insegurança na cidade. Segundo uma enquete do portal, Itanhaém foi considerada a cidade menos segura pelos turistas. Marco Aurélio hesitou, por alguns segundos pensou numa resposta e na seqüência disse algumas generalidades pouco convincentes. Evidente, não estava preparado. Daí, o sorriso amarelo seguido de um rompante de sinceridade: “deixa eu até pensar nessa resposta”.
Sintomático também observar o olhar estrangeiro da própria imprensa regional, centralizada em Santos, sobre as cidades do litoral sul, no caso Itanhaém. A única pergunta mais dura feita ao prefeito foi motivada por uma enquete com a reclamação de turistas. Ou seja, o drama dos moradores da cidade segue invisível.
Esperava-se, ainda mais diante do atual prefeito, questionamentos contundentes sobre algumas das principais críticas da população. Ao contrário, o G1/TV Tribuna deu toda liberdade para que o candidato à reeleição pudesse falar sobre o que bem entendesse. Deslize? Ajuda-amiga?
Tal dúvida, infelizmente, não podemos responder. Mas outras dúvidas mais relevantes e urgentes, de interesse dos mais de 70 mil habitantes, seguem sem resposta. Isso é o mais grave.
Marco Aurélio poderia ser questionado, por exemplo, sobre o transporte público municipal: caro, ineficiente e há décadas sob o monopólio da mesma empresa. Poderia ser questionado sobre o que pensa da privatização do Aeroporto Estadual localizado na cidade, empreendimento que há pelo menos uma década é apontado como símbolo de um desenvolvimento futuro que teima em não chegar. Poderia ser questionado ainda sobre por que decidiu, unilateralmente, fechar o Pronto Socorro, assim como por que a população é obrigada a enfrentar filas enormes para cuidar do bem mais precioso de qualquer um: a vida. Poderia, até mesmo, responder por que o futuro da maior parte dos jovens é deixar pra trás a cidade que amam em busca de oportunidade.
Enfim, não faltavam questionamentos. O prejuízo de uma entrevista que mais pareceu um encontro entre amigos é da população.
Confira a entrevista:
https://youtu.be/wjmqvybm9iw
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