A história nos conta que os jesuítas trabalhavam com a lógica de que os fins justificam os meios. Ou seja, não importa se são utilizados métodos sujos, desleais, contraditórios, corruptos, e outros, se o objetivo final a ser alcançado for válido. Assim, todas atitudes cometidas para chegar ao mesmo são perdoadas e aceitáveis. Em visão oposta, durante discussão com o aparato burocrático do Estado soviético nos anos 30, Trotsky colocou posição inversa. Para o revolucionário russo, “os fins só justificam os meios, se esses meios justificarem os fins”. Traduzindo para a linguagem popular é o mesmo que “não vale tudo para ganhar”.
Aqueles que militam e atuam dentro do movimento estudantil se confrontam com estas duas lógicas citadas acima durante cada eleição. A lógica do “vale tudo para ganhar”, e o seu oposto, “não vale tudo”.
Para uns é algo aceitável caluniar pessoalmente adversários políticos, criar histórias e falsificações, mentiras, destruir matérias de campanha do outro, e inclusive chegando no caso extremo de modificar o resultado eleitoral por meio de fraudes de urnas. Os que agem assim o fazem por não ver problema nesses atos. Todos eles são perdoados ou se mostram validos quando se alcança o objetivo final, a vitória e a posse da entidade.
Para outros, nestes me incluo, tais atitudes descritas acima são inaceitáveis e não podem fazer parte do vocabulário do movimento estudantil. Acreditamos nisso porque as atitudes já apontadas não ajudam em nada no verdadeiro objetivo final, que é ganhar a mente e corações dos jovens para outro projeto de país, de sociedade e de outro homem.
Temos visto neste primeiro ano de governo Bolsonaro que foi a juventude o setor social mais avançado na crítica e confronto ao governo. Foram gigantescos e animadores os Tsunamis da Educação. Por outro lado, o governo ataca publicamente e tenta desmoralizar o movimento estudantil sempre que possível, justamente por saber a força e potencialidade dos estudantes e da juventude.
Não resta dúvida que hoje a UNE tem retomado um protagonismo político no país, e que o movimento estudantil é um dos movimentos sociais mais dinâmicos e importantes. Não existe mudança social possível sem que se dispute e ganhe a consciência dos mais jovens para este projeto.
E é justamente e essencialmente para buscar ganhar cada vez mais um número maior de jovens para um projeto de Brasil que seja popular, democrático, feminista, lgbt, antirracista e anticapitalista, que a esquerda socialista atua dentro do movimento estudantil e disputa suas entidades. Queremos ganhar os estudantes para o projeto da revolução brasileira e colocar as entidades estudantis ao lado das lutas e desafios da conjuntura. Disputar e vencer as eleições que ocorrem dentro do movimento estudantil devem está a serviço deste proposito. Não ganhar por ganhar apenas. Assim, repudiamos a famosa lógica do “vale tudo”.
As eleições que ocorrem no movimento estudantil fazem com que um clima de disputa política de ideias esteja dentro do espaço universitário pelo menos uma vez por ano. Discute-se política geral, conjuntura política, modelo de educação e de universidade, entre outras coisas. E são justamente nestes momentos que se tem contato maior com estudantes. Desta forma, as ações infantis de despolitização das eleições, transformando as mesmas em um ringue, e a rotina infelizmente já comum de calunias e a destruição de matérias, além das ações burocráticas, fazem tão mal ao movimento estudantil como um todo, porque afastam o estudante das discussões políticas e acabam por destruir o que de mais importante tem no M.E.
É vergonhoso ver dirigentes que educam militantes em toda uma cultura desse tipo do “vale tudo”. Que utilizam como método político o desrespeito, a desmoralização infantil e com base em calúnias, e o não aceitamento de todo e de qualquer um que pense diferente, utilizando diversas formas para silenciar estes.
O momento atual é o de fortalecer as entidades estudantis e do movimento como um todo. Partindo dessa lógica parece óbvio que mais democracia e participação do conjunto dos estudantes no movimento ajuda ele a crescer e a ficar mais forte. O contrário é também verdadeiro. Ações burocráticas e de fraudes enfraquecem as entidades. É sempre importante ressaltar que estas entidades do movimento, os seus centros acadêmicos e diretórios centrais, estão acima de qualquer disputa que possa ocorrer por ela. As entidades são construções históricas de frente única e que no processo eleitoral por ela se pode perder ou ganhar, mas é preciso ter respeito pela mesma e pelo voto dos estudantes.
A moral que diz que vale tudo para ganhar, no fim não serve para construir o projeto de país e educação que queremos. Ela pode ajudar a ganhar uma eleição, mas não ajuda a ir além disso. Pode servir para construir uma estrutura burocrática em torno do aparato, mas não serve para ganhar estudantes e jovens para o projeto de país oposto ao de Bolsonaro.
Existem no conjunto da esquerda brasileira, e isso se reflete dentro do movimento estudantil, inúmeras polêmicas e divergências atualmente. Podemos apontar que existem diferenças de tática, assim como de estratégia e também de moral entre nós.
Para o bem do movimento estudantil brasileiro é preciso superar os vícios e erros burocráticos. A esquerda e o movimento estudantil podem mais que o “vale tudo para vencer”.
*Agradeço a Victória Ferraro (amiga, coordenadora nacional do Afronte e terceira vice presidente da UNE) pela contribuição com texto por meio de conversas, ideias e inspiração.
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