O legado de Zumbi, uma lição que atravessa os séculos
Publicado em: 22 de novembro de 2016
Por: Gleide Davis, colunista do Esquerda Online
No dia 20 de novembro de 1695, Zumbi dos Palmares é pego numa emboscada e morto. Teve a sua cabeça cortada e exposta em praça pública como lição para que nenhum outro escravo se rebelasse contra a ordem.
Aliado à sua companheira Dandara, Zumbi construiu uma enorme movimentação para libertar e acolher escravizados que fugiam de ‘seus’ senhores de engenho. O quilombo dos Palmares era, então, um ponto de resistência negra no período colonial, um local para o qual os negros poderiam se refugiar em busca da então revolução racial daquele regime que iria libertar todas as pessoas negras escravizadas.
Zumbi não tinha conhecimento teórico algum, apenas a sua força e ódio pelos desmandos da coroa contra o seu povo. Buscava através da coletividade soltar as amarras que prendiam os seus. Qualquer negro sabia que sozinhos não conseguiriam se livrar da violência animalesca à qual eram submetidos. Que a única forma de acabar com a escravidão seria através da união entre os mesmos, sem esperar que esta liberdade lhes fossem dada por algum burguês condescendente. A luta racial já reconhecia que somente os oprimidos poderiam se libertar das suas amarras e que estas eram as únicas coisas que estavam em jogo. Sem nada a perder, o povo negro seguia em busca do que era seu por direito e foi roubado, a sua liberdade e o seu reconhecimento enquanto ser humano.
Até hoje o povo negro tem resistido com o que tem. Tem sobrevivido mesmo com uma saúde e educação sucateadas, com constantes ameaças da burguesia que insiste em restringir o acesso a serviços públicos. Mesmo com o genocídio crescendo ao longo das décadas e matando cada vez mais os jovens negros, deixando as famílias devastadas pelos efeitos deste genocídio. Mesmo com pouco ou nenhum aparato jurídico e comoção midiática ou social com as chacinas periódicas nas comunidades mais pobres. Temos sobrevivido através das nossas forças, da nossa coletividade, da nossa fé.
“Antigamente o que oprimia o homem era a palavra calvário; hoje é salário.” – Carolina Maria de Jesus
Nossa resistência às constantes tentativas de nos matar e nos apagar da história, atacar a nossa religião, demonizar nossa cor, tentar nos embranquecer através da ideologia presente na mídia e sexualizar nossos corpos é o legado de Zumbi. Por enquanto, somos raízes que se apegam às dores, ao luto e transforma-os em luta. Como toda a classe trabalhadora, nossa existência têm-se resumido em lutar pela nossa libertação frente ao capitalismo cada vez mais racista, machista e LGBTfóbico.
Entre raízes, renasceremos flores em meio às ervas daninhas do capital. Podem tentar nos aniquilar e nos matar, mas nos reproduziremos ainda mais fortes. Vão nos cercar por desobediência à ordem racista e capitalista, até cortarão nossas cabeças porque jamais iremos abaixá-las.
Top 5 da semana

brasil
Prisão de Bolsonaro expõe feridas abertas: choramos os nossos, não os deles
colunistas
O assassinato de Charlie Kirk foi um crime político
brasil
Injustamente demitido pelo Governo Bolsonaro, pude comemorar minha reintegração na semana do julgamento do Golpe
psol
Sonia Meire assume procuradoria da mulher da Câmara Municipal de Aracaju
mundo