MasterChef e Machismo: por que nesta edição do MasterChef Profissionais ficou mais evidente o machismo de seus participantes?
Publicado em: 11 de dezembro de 2016
Por: Mayara Fernandes, de Itapecerica da Serra, SP.
O programa está dando o que falar! Muitas polêmicas em torno de casos de machismo contra a única participante mulher que ficou na competição, nesta reta final. Quem acompanha o programa se deparou com uma cena terrível contra a competidora, que foi ao ar no dia 15 de novembro. Quem se lembra do Ivo falando para Dayse pegar uma vassoura e varrer o chão numa prova em grupo? Ou então quando Ivo disse que é complicado trabalhar com mulheres porque elas são mais frágeis? Ou então quando Dayse dá sugestões e é completamente ignorada por Ivo e Dário e no final acabam indo mal na prova por não ter escutado as opiniões da única mulher no grupo?
No episódio do dia 6 de dezembro, vimos mais um machismo bem sutil contra a participante, neste caso, com a edição que o programa fez. Quem notou quando Dayse e Dário foram competir na prova de eliminação ao falar da trajetória de Dário colocaram suas habilidades e sucessos na cozinha e, quando falaram de Dayse, uma das primeiras coisas que citaram foi o “desafio” de enfrentar seu ex-chef Ivo e que outro desafio que ela teve que enfrentar no programa foi sua insegurança, colocando os problemas que as mulheres enfrentam na cozinha profissional como se fosse algo intrínseco à característica da mulher, em ser sensível e insegura, e não pelo machismo que enfrentam todos os dias.
Em um dos episódios o participante Marcelo deixou claro que queria derrubar a Dayse, por achar que a final seria mais “emocionante” se ele enfrentasse o Dário. Em suas próprias palavras: “Dayse não tem culhão para uma final do MasterChef Profissionais”. Sem problematizar essa expressão machista (“não tem colhões”), para não me estender no texto, é engraçado notar que em um dos episódios, todos os participantes, inclusive Marcelo, apontaram Dayse como sendo a mais fraca da competição. Porque ele iria querer derrubar, com tanto afinco, uma competidora fraca? Não faz sentido, faz? Faz, quando pensamos sobre o MACHISMO!
A própria Dayse, fez um comentário que é muito difícil para um homem competir cara a cara com uma mulher numa final, a possibilidade de perder para uma mulher é vergonhoso para eles. Perder para uma mulher? Nunca! Ficou claro também que todos os participantes, homens, não veem a Dayse como uma boa profissional. O que explicaria os competidores ignorarem Dayse, sendo que ela está na final do programa e tendo ela ganhado cinco vezes como destaque? Porque ela não é vista como uma forte competidora? Pelo simples fato de ser mulher!
“Lugar de mulher é na cozinha! ” Falam os machistas de plantão. Mas quando a mulher está numa cozinha PROFISSIONAL, não é lugar dela. Sabe porquê? Porque vivemos numa sociedade em que o papel da mulher é ser submissa. Estar na cozinha OK, desde que seja fazendo comida para a família. Se ela ultrapassa esse papel e é chef, uma líder, comandando uma cozinha profissional inteira, já não é lugar dela, porque não é um lugar de submissão.
E se olharmos para outras profissões, vemos o machismo refletido também. No caso da educação, por exemplo, a maioria do professorado dos anos iniciais são mulheres. Quando olhamos para o ensino médio, podemos dizer que o número de mulheres e homens vai se igualando, mas quando olhamos para o ensino superior, a maioria são homens. Quanto mais se exige qualificação, menos se vê mulheres, muito por conta das amarras criadas pelas tarefas domésticas as quais a mulher é submetida ou então pela maternidade, que afasta a mulher de se especializar cada vez mais, enclausurando a mulher dentro de casa.
Mas, diante dessa ideologia machista que coloca a mulher como inferior ao homem, só nos resta lutar. Lutar contra o machismo e lutar contra o sistema que dele se beneficia. Vale lembrar aqui que as mulheres ganham 77% do salário que os homens recebem para executar o mesmo tipo de função, segundo estudo da Organização Internacional do Trabalho – OIT. Se cruzarmos os dados e olharmos para as mulheres negras, que sofrem tanto com o machismo quanto com o racismo, vemos que as mulheres negras e pobres seguem sendo a base da pirâmide do mercado de trabalho, elas não chegam a ganhar 40% do valor da remuneração de um homem branco.
O capitalismo se beneficia do machismo na medida em que lucra com isso, na medida em que rebaixa os salários das mulheres, e mais ainda das mulheres negras. E é contra todas as opressões e contra o capitalismo que devemos reunir forças e lutar e construir uma alternativa de poder das trabalhadoras e dos trabalhadores!
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