As consequências do racha entre parlamentares do PSL e a família Bolsonaro podem ser sérias. Já são três figuras que estiveram do lado do governo e reconhecem a existência de uma milícia digital montada pela família presidencial para fazer propaganda política na internet. A deputada Joyce Hasselmann, o deputado Alexandre Frota e o ex-ministro General Santos Cruz. Alguns deles podem depor na CPI das Fake News, que vai investigar práticas ilegais no uso da internet durante a campanha de 2018.
Representantes do próprio whatsapp confirmaram práticas irregulares do uso do aplicativo nas eleições de 2018. Isto fortalece a denúncia feita pelo jornal Folha de São Paulo, que relatou dinheiro de caixa 2 para pagar disparos em massa pelo Whatsapp na campanha de Bolsonaro. É bom lembrar que o tensionamento entre PSL e família Bolsonaro começou com uma denúncia de caixa 2. Candidatas do PSL supostamente foram usadas de laranja para desvio de dinheiro do fundo eleitoral para campanha presidencial.
Um fato interessante é que depois das denúncias, a militância em favor de Bolsonaro perdeu força no Twitter. Antes, o grupo sempre conseguia colocar algo de seu interesse no topo dos Trendig Topics, que é a lista de assuntos mais comentados da rede. Agora, misteriosamente, eles perderam essa capacidade. Justo no momento em que Bolsonaro mais precisa. Se existe uma “milícia virtual”, parece que ela anda meio desarticulada.
A militância política pela internet não é crime. Mas o disparo de mensagens para milhões de pessoas usando programas para burlar as regras dos aplicativos pode configurar crime eleitoral. Em especial se a prática for paga por dinheiro não contabilizado. O uso de cadastros sem o consentimento das pessoas também pode ser punido. Se essas práticas forem comprovadas, os grupos de militância pró-Bolsonaro podem ter sérios problemas. Se o próprio Presidente estiver envolvido, a situação é bem mais grave.
Joyce Hasselmann denuncia ameaça, vídeo atribuído a partido de Mourão denuncia o presidente
Dois fatos nos mostram o nível das brigas internas da direita. A deputada Joyce Hasselmann denunciou uma ameaça de morte vinda de seus antigos aliados. Ela gravou um vídeo em que mostra um “presente” que ganhou: uma cabeça de porco. A prática é inspirada no filme “O poderoso chefão”, em que o mafioso Don Corleone ameaça um desafeto lhe enviando uma cabeça de burro. No caso recente, o porco faz alusão aos comentários depreciativos em relação à aparência de Joyce.
O outro fato é a circulação na internet de um vídeo atribuído ao PRTB, partido do vice-presidente General Mourão com a frase “a nossa bandeira não é laranja”. A frase faz alusão a uma das palavras de ordem da direita durante o impeachment de Dilma: “a nossa bandeira jamais será vermelha”. Mas a troca da cor pelo laranja é uma referência explícita ao escândalo envolvendo o partido do Presidente da República, Jair Bolsonaro. O General Mourão é quem assume o governo se Bolsonaro cair.
Fãs de Bolsonaro e Sérgio Moro já brigam na internet desde setembro
Antes do escândalo dos laranjas do PSL, a militância de direita já estava rachada. Uma ala confia mais no atual Ministro da Justiça, Sérgio Moro, do que em Bolsonaro. No dia cinco de setembro, alguns lançaram a campanha #Moropresidente no Twitter, em protesto contra a indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada nos Estados Unidos. Escolher o filho do presidente para o cargo é considerado nepotismo para este grupo. Também estavam indignados com a indicação de Augusto Aras, considerado “esquerdista”, para a Procuradoria-Geral da República. Os bolsonaristas mais fiéis reagiram no mesmo dia e lançaram a campanha #EuconfioemBolsonaro.
A briga entre apoiadores de Sérgio Moro e apoiadores de Bolsonaro pode ficar mais séria. Bolsonaro tentou intervir diretamente na Polícia Federal, que é submetida ao Ministro da Justiça. Moro também ficou bastante insatisfeito quando perdeu o comando do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). O ex-juiz é mais popular que Bolsonaro e também tem uma legião de seguidores nas redes sociais. Dificilmente vai ficar parado sem reagir.
Briga interna não começou ontem e não vai terminar amanhã
Alguns temas andam dividindo a direita. Um deles é a chamada “CPI da Lava Toga”, que supostamente iria investigar irregularidades no Poder Judiciário. Ela era interessante na época em que a Família Bolsonaro estava em Guerra com o Judiciário. Mas depois que o Supremo Tribunal Federal decidiu arquivar uma investigação contra Flávio Bolsonaro, filho do presidente e Senador, a família presidencial decidiu abrir mão da tal CPI. No entanto, uma ala da direita insiste na iniciativa, acusando Flávio de se beneficiar da impunidade. Entre eles está Major Olímpio, líder do PSL no Senado.
Outro ponto de discórdia é a influência do escritor Olavo de Carvalho no governo. O vice-presidente Hamilton Mourão, já brigou publicamente com o chamado guru de Bolsonaro. Janaína Paschoal, deputada estadual em São Paulo pelo PSL, também declarou sentir “profunda tristeza” em relação às declarações de Olavo. Janaína é uma das figuras mais famosas da direita brasileira depois do impeachment de Dilma. Olavo de Carvalho é alguém que, entre outros absurdos, diz que há possibilidade da Terra ser plana.
Unidos nos objetivos, separados no método
De um lado, o pessoal que segue cegamente o presidente Jair Bolsonaro, seus filhos e Olavo de Carvalho. Essa ala é mais agressiva e não se importa de incitar a violência e defender a ditadura. São bem mais extremistas na defesa sua ideologia. Não fazem questão de esconder o desprezo pelo povo, o machismo, o racismo e a homofobia. Este grupo se organiza por meio de pequenos grupos de extrema-direita.
Do outro lado, aqueles que têm simpatia por Sérgio Moro e um discurso mais voltado para a “luta contra a corrupção”. Tentam ser mais civilizados e criticam o governo. MBL, Vem Pra Rua e outros movimentos que estiveram à frente dos atos pelo impeachment da Dilma estão nesta ala, que se diz mais “liberal”.
Mas não nos enganemos. As duas alas da direita hoje defendem a Reforma da Previdência que acaba com a nossa aposentadoria. Ambas defendem a privatização dos Correios, o desmonte das universidades públicas e a retirada de direitos dos trabalhadores. Eles estão separados pelo discurso, mas unidos pelos interesses de classe. Estão todos do lado dos ricos e poderosos.
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