Emicida
O 57o Congresso da União Nacional dos Estudantes está sendo realizado em um momento de importantes mudanças no cenário político e social no Brasil. Neste momento, Rodrigo Maia e o governo Bolsonaro estão aprovando no Congresso uma reforma previdenciária que acaba, na prática, com o direito à aposentadoria de boa parte da população e condena outra parte a uma aposentaria miserável. O projeto ultraliberal da burguesia brasileira está em marcha, sob a liderança do setor mais atrasado do espectro político brasileiro. Mas que a situação que atravessamos é difícil, todos já sabemos. O que interessa, daqui em diante, é o que fazer.
A tarefa número zero de todos os setores consequentes da esquerda brasileira, deve ser, necessariamente, a construção da Frente Única da classe trabalhadora em defesa de seus direitos. Isso significa, na prática, que o 57o CONUNE deve aprovar um programa e um calendário em defesa da educação, do caráter público da universidade e dos programas que facilitam o acesso da classe trabalhadora ao ensino superior. A Frente Única estudantil, materializada na UNE e em seus fóruns, por sua vez, deve ter papel ativo na construção de uma unidade orgânica com os instrumentos de representação dos trabalhadores da educação, tanto docentes quanto técnicos administrativos.
O projeto de liquidação dos direitos sociais é implementado por um setor ultraconservador e obscurantista. O MEC, hoje liderado por um fanático oriundo do mercado financeiro, ameaça realizar um “index” nas universidades brasileiras, perseguindo qualquer tipo de voz dissonante. O governo, orientado ideologicamente por um “pensador” que questiona a curvatura do planeta terra, realiza sua cruzada contra o dito “marxismo cultural”, abrangendo aí, não somente o conjunto das ciências humanas, como também os seguidores de Newton ou Darwin.
A entidade tem tamanha importância no país que não pode se dar ao luxo de se restringir aos temas relacionados às universidades e à educação. A ofensiva autoritária, encabeçada por Bolsonaro e Sérgio Moro, demanda uma unidade democrática de larga abrangência. O pacote “Anti-crime” de Moro, é escandalosamente racista e anti-povo. A violência política se desenvolve em dinâmica de escalada nos últimos anos; a palavra de ordem: “Quem mandou matar Marielle?” não carrega consigo somente o sentido de justiça para esse crime inaceitável, mas também a necessidade de se combater essas organizações criminosas que ocupam parte relevante do Estado brasileiro. O aprisionamento político de Lula fica mais escandaloso a cada diálogo divulgado pela operação Vazajato. A luta por Lula livre não é tarefa somente daqueles que o apoiam politicamente. Exigir liberdade para Lula é, nesse momento, dizer não ao abuso de poder judicial em nosso país.
Somente as tarefas defensivas e a resistência, no entanto, não são o suficiente para a superação positiva do tenebroso momento que vivemos. É necessário resgatar a esperança das antigas e novas gerações com o futuro do Brasil. O encerramento unilateral do ciclo de conciliação liderado por Lula e pelo Partido dos Trabalhadores coloca a esquerda frente a uma encruzilhada histórica, afinal as alianças com a direita e o grande capital abriram as portas para o processo golpista.
É momento de apresentar, sem medo, uma alternativa política que seja a verdadeira antítese do projeto que hoje ocupa o poder. Um projeto de democracia radical, de mudanças profundas que ataquem os problemas estruturais de nosso país, como a desigualdades social, o racismo e as opressões em geral, nossa subserviência internacional, a questão agrária e tantos outros. Esse projeto, é importante registrar, se choca diretamente com os interesses do conjunto da elite nacional. A sua implementação depende, somente, das forças e da organização da classe trabalhadora, do povo pobre e dos setores oprimidos.
No 57 CONUNE, a Tese “Juventude Sem Medo – Ocupar as ruas, semear o futuro”, composta por MTST, Afronte! e outros sete coletivos de juventude, busca contribuir com a construção dessa alternativa. A tese apresenta uma candidatura coletiva, feminista, LGBTI+, defendendo que na UNE, estejam representados os setores que foram protagonistas dos grandes momentos da resistência dos últimos tempos, como nas enormes manifestações do #elenão e, mais recentemente, nas mobilizações contra os cortes na educação de Weintraub.
A juventude do PCdoB, a UJS, está à frente da União Nacional dos Estudantes há décadas. Esse longo período de tempo comprovou a sua insuficiência à frente da tarefa. Priorizar a manutenção de uma maioria eterna da entidade, em detrimento de seu enraizamento concreto no dia a dia da luta estudantil do país é uma lógica que não pode mais ser tolerada. O desrespeito a independência da entidade durante os anos em que o PT esteve à frente do governo federal no passado é ainda problema, no presente, em relação aos governos estaduais liderados pelo PT e pelo PCdoB. A UNE deve defender, sempre, os direitos dos estudantes e da classe trabalhadora, independentemente de quem esteja desferindo o golpe.
Essa compreensão coloca como necessária a unidade do conjunto dos setores de oposição na entidade, que estarão presentes com peso relevante no Congresso. O movimento Correnteza, a maior força de oposição na UNE, o coletivo Juntos!, a UJC e tantos outros coletivos, são setores fundamentais no combate cotidiano em defesa da democratização da entidade e da retomada de sua independência. Nesse cenário, é tarefa da oposição da entidade encontrar parâmetros mínimos que permitam a sua unificação.
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