Eu estava andando em uma lotação na Zona Leste e o motorista estava conversando com uma passageira sobre a situação do país. Na sua simplicidade, fazia uma ótima análise: “No salário deles e na aposentadoria deles ninguém mexe. E o povo se ferra. A gente trabalha 12 horas por dia, com uma folga por semana, e eles estão vivendo no bem bom, mexendo com os direitos do povo”.
Eu não resisti e entrei na conversa. Falei que apoiava a greve de sexta-feira e perguntei se eles iam parar. Eles disse: “Vai acabar funcionando menos porque o metrô e o trem vão parar”.
Os motoristas das lotações da zona leste não são organizados pelo sindicato dos motoristas. Esse sindicato, assim como os que representam os metroviários e os trabalhadores das linhas 7, 10, 11 e 12 da CPTM, votou em assembleia a adesão à greve geral do dia 14.
Sabemos da importância da participação dos setores de transporte nessa greve, porque o grau de organização dos trabalhadores é muito diverso. Há categorias que possuem sindicato organizado e isso contribui demais para a atividade coletiva. Há categorias menos organizadas, com relações de trabalho mais precarizadas e isso interfere na capacidade de mobilização.
O fato é que, na greve geral, temos que unir as muitas forças e as poucas forças. Parar todo mundo. Mostrar que quem faz o país andar, funcionar e produzir tem muita força. Como me disse o motorista da lotação: “A população tem que se unir”.
Pelo que tudo indica, sexta-feira será um dia diferente em São Paulo e no Brasil. Na capital paulista, além dos transportes, metalúrgicos, petroleiros, professores das redes estadual e municipal, eletricitários, trabalhadores da Sabesp e bancários vão cruzar os braços em greve.
A Frente Povo Sem Medo, junto com o MTST, vai organizar manifestações em vários pontos da cidade no período da manhã.
No final do dia 14, uma grande manifestação será realizada na avenida Paulista, com concentração em frente ao MASP. Será o momento de reunir todas as forças políticas e sociais que estão engajadas na construção do dia 14 de junho.
Essas diversas ações estão a serviço de derrotar a Reforma da Previdência. O governo federal reúne suas forças para tentar aprová-la. Conta com o apoio ferrenho do governador do estado de São Paulo, João Dória. O lado de cá também precisa se unir. Esse é o clima entre as categorias que preparam suas paralisações.
A notícia da greve tem feito proliferar esse debate em todo lugar. A conversa entre o motorista e a passageira na lotação que eu peguei começou a partir da notícia de que vai parar tudo. Eu falei pra eles: “Por mim, tem que parar tudo”. A passageira me respondeu: “Tá que nem eu, por mim, para tudo também”.
As condições de vida das pessoas estão muito ruins. São Paulo é a cidade que tem um dos tristes retratos da crise: a fila interminável no Vale do Anhangabaú de pessoas tentando uma chance de emprego.
Essas condições de vida foram base para uma conclusão distorcida de que Bolsonaro viria para resolver os problemas. Mas elas também podem ser base para a disposição de construção de um engajamento coletivo contra os ataques aos direitos sociais, à saúde e à educação. A greve geral também está a serviço disso.
*Camila Lisboa é metroviária e militante da Resistência/PSOL.
Comentários