Uma noite em um bar com uma amiga estávamos ouvindo uma banda que tocava de Tom Zé a Tom Jobim. O vocalista, ao anunciar que tocariam uma música que ele não conhecia muito bem, A Geni e o Zepelim, pedia ajuda da plateia para cantar junto com ele. Então, eu me levantei e comecei a dançar e cantar junto. Enquanto eu dançava e cantava com alegria, eu também refletia sobre o que representava as diferenças entre a estética burguesa e a revolucionária. Sempre achei interessante essa música, já que, Geni “preferia amar com os bichos a se deitar com um homem tão nobre e tão cheirando a brilha cobre”.
O que faz com que a Senadora Soraya (PSL/MS) pense que a cultura indígena é “miserável” e “feia” faz parte do imaginário de muitas pessoas representantes dessa elite burguesa atrasada. Sabemos que a ideia dessa elite do que representa o bom e o belo ainda é parte de uma visão eurocêntrica, agora também dominada pela mentalidade estadunidense. De acordo com essa visão colonizada tudo que vem dos EUA e Europa seria bom e qualquer outro tipo de cultura seria ruim. Então continuam propagando a ideologia racista e burguesa de que o bom é o branco, o “rico”, o heterossexual e todo o resto seria “anormal”. Segundo essa visão burguesa e homogeneizante, todos/as almejam ir ao shopping, ter uma mansão, um emprego numa multinacional e ter o carrão do ano. Mas, eu me pergunto por que eu preferiria morar numa aldeia a ficar presa em um escritório? Por que, para mim, conviver com essas pessoas é bem mais insuportável do que estar com meus/minhas semelhantes e queridos/as educandos/as, que, infelizmente, muitas vezes se iludem com essas ideias?
E, da mesma forma, também penso num feminismo classista, porque é muito fácil para uma mulher branca e europeia ser doce e amável “com os seus iguais”, quando ela sempre teve facilidades na sua vida, enquanto ela sempre teve escravos/as para lhe abanar. Enquanto a dureza da vida das mulheres trabalhadoras e negras não lhes dá a mesma chance de respirar o ar da liberdade. Então, a pele é diferente, a roupa, o jeito de falar, seus pertences, a cultura. Nada disso significa que a mulher negra e trabalhadora é inferior. Porque essa elite acha que pobre tem cara de criminoso/a, drogado/a e doente, e ela teme porque pensa que é contagioso, e teme também que a classe trabalhadora “tome” suas propriedades e as suas tralhas poluidoras. É um pensamento perverso e cruel, já que, é essa mesma elite que espolia a classe trabalhadora que ela menospreza, mas é a realidade.
A estética revolucionária é diferente porque deve ser a da diversidade, da pluralidade e aquela que enaltece a classe trabalhadora explorada e oprimida. Os valores são diferentes para cada classe social ou etnia. Quando Sônia Guajajara questiona sobre a visão preconceituosa, xenófoba, racista e classista da senadora do PSL, ela está também alertando para essa diferença entre a estética burguesa e a estética revolucionária. A mesma visão que fez, na década de 1960, os agitadores questionarem a cultura vigente e estabelecer em seu lugar a contracultura. É preciso ser coerente. Não é possível ser revolucionário/a introjetando a cultura burguesa. É preciso romper com essa visão colonizadora. Uma sociedade melhor só é possível respeitando a diversidade, com sustentabilidade ambiental e acabando com a exploração capitalista. É preciso entender, porém, que essa elite burguesa (1%) nunca aceitará essa visão, porque a estética revolucionária significa exatamente a sua extinção, mas não é preciso pedir licença para existir. Resistiremos!
Referencial bibliográfico:
TROTSKI, L. A literatura na revolução e a revolução na literatura. São Paulo: Usina Editorial, 2018.
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