Desde que criou o núcleo de ações afirmativas, o Esporte Clube Bahia tem se posicionado em temas de interesse nacional de maneira firme na defesa da luta dos setores discriminados.
O combate à intolerância religiosa foi a primeira campanha de grande alcance do clube. Em novembro de 2018, durante as comemorações do Novembro Negro, homenageou heróis, heroínas e ativistas na luta contra o racismo e o genocídio da juventude negra e pobre. Na cidade mais negra fora da África (Salvador), resgatar nomes como Zumbi, Dandara, Moa e Marielle é possibilitar que parte da memória da luta antirracista no país fique mais visível.
Mas o “Baêa”, como é carinhosamente chamado pela sua torcida, não parou por aí, foi mais longe. O clube tem feito campanhas permanentes pela presença de mulheres no estádio, garantindo proteção e auxílio durante os jogos. No estádio da Fonte Nova, as partidas são acompanhadas por uma ronda da polícia feminina, com o objetivo de diminuir os casos de assédio e violência contra a mulher. No dia da Visibilidade Trans, garantiu o uso do nome social aos sócios e ainda encampou a campanha “Não Há impedimento”, dando visibilidade a causa LGBT no universo hegemonicamente masculino e homofóbico do futebol.
Mesmo em um período histórico caracterizado pelo retrocesso e apego à violência por aqueles que estão no poder, capazes de, publicamente, louvar e estimular comemorações à ditadura que torturou, matou e fechou as possibilidades de atuação pública de opositores, foi firme na defesa da liberdade e do regime democrático. Vale o registro de que a democracia tricolor foi conquistada após a época mais difícil da história do Esquadrão de Aço. Sucessivos rebaixamentos quase levaram à falência financeira do clube mais popular do Norte e Nordeste.
Neste mês de abril, o Bahia fez mais um Gol de Placa: através de um vídeo de ampla circulação nas redes sociais, iniciou um conjunto de ações que colocam a demarcação das terras indígenas e o questionamento à concentração fundiária e à violência no campo como tema público. Após a eleição do governo Bolsonaro, os povos indígenas têm sido alvo constante da ação de pistoleiros a serviço dos barões do agronegócio, que buscam expandir seu domínio territorial às custas da vida dos povos originários.
Assim como no Novembro Negro, o tricolor vai levar nas camisas dos jogos contra Londrina pela Copa do Brasil e Bahia de Feira na final do Campeonato Baiano, o nome de lideranças indígenas que dão voz aos que muitas vezes têm que conviver com o silêncio.
Clubes de futebol de tradição popular, pela expressão social e paixão que carregam, deveriam cada vez mais se posicionar a favor dos oprimidos e do povo. Infelizmente, no futebol das arenas elitizadas e das cifras astronômicas do mercado da bola, o Esquadrão de Aço é exceção entre os grandes times do país sendo, muitas vezes, a única voz a se levantar contra os problemas que tocam e atingem diretamente aqueles que lutam por um Brasil livre, justo e igual.
O “Baêa” não é só o clube mais democrático do Brasil, é também o mais comprometido com a voz dos que muitas vezes não são ouvidos. Ao assumir posição, resgata a História representada em seu nome, nas lutas da Conjuração dos Alfaiates, da Revolta Malês, da Revolta da Sabinada e na guerra popular da Independência da Bahia. A cada nova empreitada de sucesso fica explícito o potencial social do jogo e a necessidade de cada vez mais trabalhar o esporte como instrumento da transformação social.
Gostaríamos que, muito em breve, outras vozes se somem ao Baêa na defesa dos índios, das mulheres, dos negros, do meio ambiente e do Brasil como país livre, justo e soberano, mas isso só será possível com a organização daqueles que pensam o futebol longe do padrão atual baseado na acumulação capitalista e no lucro. Antes que esqueça: BBMP!
Vídeo
? Não tem jogo sem demarcação! – #ABRILindígena tricolor
*Virgílio Sena é professor, mestre em história, militante da APS-PSOL e do Coletivo Educar na Luta.
**publicação original foi feita no site da APS.
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