A luta dos de baixo e a consigna “Eleições Gerais e Diretas Já”
Publicado em: 19 de maio de 2017
Por: Bernardo Lima, de Belo Horizonte, BH
Esse artigo tem a intenção de dialogar com toda a vanguarda engajada na luta contra as reformas, que tem feito greve e ido às ruas para derrotar o governo ilegítimo de Michel Temer e quer construir uma saída à esquerda para a crise política do país. Nós temos conseguido com nossa mobilização dificultar a aprovação das contrarreformas, e a esquerda socialista tem sido parte fundamental da construção da greve geral e das manifestações. Na próxima semana iremos à Brasília, junto com todo o movimento de massas, ocupar a capital e empurrar Temer para fora do poder.
Um desfecho positivo para essa conjuntura polarizada de ataques e resistências depende da luta dos trabalhadores e do povo. A crise política na cúpula nos interessa única e exclusivamente por que é mais fácil derrotar a classe dominante se ela estiver dividida, porque ajuda a revelar a todo o povo o verdadeiro caráter do estado e das empresas, porque aumenta a possibilidade de uma ação verdadeiramente independe da classe trabalhadora. Consequente com isso, acreditamos que a estratégia da esquerda socialista passa centralmente pela mobilização independente das massas, pelo fortalecimento dos organismos operários e populares e pela unidade da luta da classe trabalhadora.
A reforma da previdência vai passar? Haverá mais restrições às liberdades democráticas? Conseguiremos sair desse lamaçal de corrupção? Os ricos continuarão jogando a crise nas costas dos trabalhadores? A resposta da esquerda para essa questão é: depende do tamanho de nossa luta. Com mais greves gerais, com um presidente ilegítimo derrubado pelo povo, com a organização e consciência da classe avançando até uma política independente – o céu é o limite. Caso nossa luta retroceda, podemos esperar o pior. Nada de bom nos espera se abrirmos mão de nossa luta em prol deste ou daquele bloco burguês ou apostando em manobras parlamentares e investigações policiais.
Colocar quem no lugar de Temer?
O governo Temer nunca foi popular. Sua capacidade de implementar a reforma está diretamente ligada à sua insensibilidade às demandas dos trabalhadores. Ele governava porque tinha ao seu lado a maioria do Congresso e do Senado, além da sustentação da grande imprensa e da classe dominante que esperava que ele aprovasse as contrarreformas a toque de caixa. Como ele era fruto de um golpe parlamentar a imensa maioria do movimento de massas o considerou ilegítimo, se opôs à sua posse e trabalhou desde então para que caísse sob os gritos de “Fora Temer”.
A PEC 287 da Reforma da Previdência elevou a luta a outro patamar. A maioria da população a rejeitou. Mesmo a Força Sindical, UGT e outras centrais que apoiaram o golpe foram empurradas para a luta contra Temer e uma nova conjuntura se abriu com as grandes mobilizações de rua que possibilitaram a greve geral do dia 28 de abril.
Agora uma nova crise atinge o governo Temer, as gravações feitas pela Polícia Federal que provam que o presidente ilegítimo fazia parte de uma operação para manter Eduardo Cunha calado na cadeia minou as bases do governo. A Globo deu o furo de reportagem e pediu a renúncia do presidente, os partidos da base aliada começaram a abandonar o barco e, sem nenhum apoio popular, Temer ficou sem base para governar. Sua queda está colocada para já (ainda não esteja certa) e discute-se abertamente em todos os círculos quem será seu sucessor.
As massas olham para todos os lados e não sabem em quem confiar. Discutem política nas fábricas, bares e igrejas e sempre surge a dúvida: quem colocar no lugar de Temer? Uns falam desesperançados. Outros reanimando suas expectativas em Lula e no PT. Tantos outros esperam resolver os problemas do país com um presidente “apolítico” como Dória ou Huck. A principal alternativa à esquerda do petismo é a Frente de Esquerda e Socialista, mas essa ainda é bem minoritária.
Poucos enxergam uma alternativa à esquerda por fora da democracia liberal burguesa. A consciência de classe é muito pequena, abalada pelas experiências fracassadas do passado. Não existem organizações consolidadas de trabalhadores e do povo organizadas no chão das fábricas. Os sindicatos estão enfraquecidos e afastados de suas bases, quando não estão completamente corrompidos pelo burocratismo. A maior central do país ainda é ligada ao petismo. Quase não existem comitês de base nas fábricas, bancos, escolas e outros locais de trabalho.
Como responder essa pergunta tão frequente em conjuntura tão delicada?
Diretas x Indiretas
Devido à divisão dos representantes da burguesia no parlamento e à incerteza do resultado de uma eleição presidencial, a principal aposta da burguesia após uma provável queda de Temer é fazer cumprir a Constituição: eleições indiretas para um mandato tampão. O que ela quer desse novo governo? Que aprove de uma vez por todas as contrarreformas. O novo governante, provavelmente um “técnico”, não viria do meio político. Tal qual Temer, não teria preocupações com popularidade, ou expectativas de reeleição e aplicaria as reformas “até o final”.
A esquerda socialista deve ser consequente com a política do “Fora Temer” e lutar para que o povo decida através de eleições diretas, imediatamente. A burguesia não quer ir às urnas agora pois teme um descontrole do processo eleitoral e a politização das massas. Uma eleição neste momento necessariamente seria pautada pelas reformas e o povo estaria de ouvidos abertos para medidas alternativas aos ataques em curso. Uma eleição conquistada nas ruas, contra a vontade da classe dominante, não é uma eleição normal.
Numa eleição desse tipo a esquerda socialista poderia se apresentar unificada em uma candidatura própria, com um programa oposto ao da direita e ao do PT, e batalhar por engrossar suas fileiras e ganhar setores de massas para a suspensão do pagamento da dívida, o fortalecimento da previdência, a execução das dívidas das empresas sonegadoras, a reestatização da Vale, a reversão do processo de desmonte da Petrobrás, etc.
Eleições Gerais para derrubar o Congresso corrupto
A consigna de “Diretas Já” apenas não é suficiente na atual conjuntura. O Congresso Nacional que implementou o golpe parlamentar e está destruindo os direitos trabalhistas a toque de caixa não tem legitimidade para terminar seu mandato. Estão quase todos envolvidos nos esquemas de corrupção, não possuem apoio popular e precisam cair junto com Temer.
Por isso, as eleições que defendemos também se estende ao Congresso e ao Senado. Queremos o direito de opor os candidatos da esquerda socialista aos atuais corruptos. Queremos que a atual legislatura seja considerada ilegítima e indigna. Não realizar novas eleições gerais significaria trocar apenas o chefe do executivo e manter os parlamentares atuais aplicando suas contrarreformas. Seria uma vitória pela metade. Não há argumentos capazes de explicar por que Temer é ilegítimo e o congresso que o colocou lá não.
Por Um Governo dos Trabalhadores e do Povo
No Encontro que formou o MAIS em julho do ano passado definimos que o programa para o Brasil passava pela defesa de um governo dos trabalhadores e do povo. Achamos que somente um governo de aliança entre os trabalhadores e os setores populares do campo e da cidade através de seus organismos democráticos pode levar até o final um programa socialista, revolucionário e internacionalista. Porém, essa parte de nosso programa que algumas organizações revolucionárias também defendem ainda não está colocada para a ação. Os trabalhadores ainda não criaram seus próprios organismos de poder, ainda não existe uma mobilização tão massiva nos setores populares que coloque em cheque todo o regime e, não menos importante, estamos longe de ter uma direção revolucionária a cabo de realizar esta tarefa.
Nessas condições as palavras de ordem de governo das organizações operárias ainda são abstratas e imprecisas. “Poder popular”, “operários no poder” e “governo dos trabalhadores e do povo” servem apenas como uma declaração de intenções futuras. É o objetivo pelo qual lutamos. Quando perguntados por alguém sobre quem achamos que deveria governar o país podemos sim responder: os próprios trabalhadores. Mas estaríamos mentindo se disséssemos que está colocado substituir Michel Temer, que precisa cair já, por esse tipo de alternativa.
A Esquerda Socialista precisa defender “Eleições Gerais e Diretas Já”
É por isso que acreditamos que toda a esquerda socialista deveria defender a realização de “Eleições Gerais e Diretas” nas ruas, nas tribunas e nos fóruns do movimento. Essa palavra de ordem tem a capacidade de ganhar as massas de trabalhadores que desejam a queda de Temer, mas não querem a volta da Dilma, e ficam desconfiados de que as lutas que travamos agora são “coisa do PT”.
A realização de eleições neste momento significa uma derrota para a burguesia, interrompe o golpe e permite que a esquerda socialista faça o combate programático tanto contra a direita quanto com o projeto de conciliação de classes.
Obviamente aqueles que são marxistas sabem que as eleições, mesmo com novas regras, levarão inevitavelmente a um novo governo da classe dominante. Sabemos desde já que, vencendo Lula ou um candidato da direita, teremos que continuar lutando em defesa de nossos direitos e ganhando cada vez mais jovens e trabalhadores para a luta pelo socialismo. A tarefa de construir a direção revolucionária e impulsionar a mobilização das massas é permanente. E enquanto não tivermos um governo realmente operário e popular seguiremos lutando para que todo o poder seja transferido para os trabalhadores. Essa constatação estratégica não deve nos cegar para a importância de derrubar Temer, barrar as reformas e conquistar eleições gerais e diretas já.
Como diz um provérbio chinês: “Uma caminhada de mil léguas começa sempre com o primeiro passo”.
Foto: Carol Burgos | Esquerda Online
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