Ciro não é uma alternativa de esquerda


Publicado em: 10 de maio de 2018

Editorial

Editorial 10 de maio de 2018

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Com a aproximação das eleições, o tabuleiro político começa a se mover com mais velocidade. Os candidatos buscam consolidar posições num cenário marcado pela instabilidade e muitas incertezas. O deslocamento de nomes, a negociação de alianças e a formação de perfis programáticos adquirem ritmo e intensidade.

Enquanto o fascista Bolsonaro se consolida pela extrema-direita, Alckmin trabalha para unificar a candidatura da direita tradicional (PSDB, MDB e DEM) e o centro perde força com desistência de Joaquim Barbosa (PSB), a definição do espaço à esquerda encontra-se ainda em aberto. Com Lula posto autoritariamente para fora da corrida, cerca de um terço do eleitorado, que pretendia votar no petista, encontra-se órfão. É aproveitando-se deste vácuo aberto que Ciro Gomes (PDT) busca se projetar como alternativa à esquerda.

Nas últimas semanas, sinais emitidos pelo PT e PCdoB evidenciam a possibilidade de uma aliança destes partidos com Ciro. Apesar de haver intensas polêmicas dentro PT sobre a linha para as eleições, Jaques Wagner e Haddad, figuras de proa do partido, acenaram publicamente no sentido de buscar uma composição com Ciro. O mesmo fizeram Flávio Dino e Manuela d’Ávila, ambos do PCdoB. O PSB, agora sem a opção de Joaquim Barbosa, também pode vir a compor com o PDT. Caso esse arco de alianças se efetive, a candidatura do pedetista ganharia bastante força. Mas a pergunta que fica é a seguinte: seria Ciro uma alternativa realmente de esquerda?

O discurso de oposição a Temer, a posição contrária ao impeachment de Dilma, assim como a defesa de um modelo econômico pintado com cores nacionalistas e desenvolvimentistas, vem atraindo parte dos que querem votar na esquerda. Porém, estes enfeites vermelhos com que se cobre Ciro, para de modo oportunista se alavancar eleitoralmente, especialmente entre o eleitorado lulista, não conseguem esconder o real conteúdo de seu programa contrário aos interesses dos trabalhadores e dos oprimidos.

Fazendo jus a uma trajetória caracterizada pela incoerência política e ideológica – Ciro passou por sete partidos, tendo nesse caminho de ziguezagues defendido e aplicado o projeto neoliberal quando ministro de Itamar -, o candidato pedetista teve seu projeto econômico, cujo sentido real é o inverso do discurso pretensamente de esquerda, revelado pelo seu principal assessor econômico, Mauro Benevides, em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo. Segundo Benevides, o ajuste fiscal é um pilar do projeto econômico de Ciro, que além disso contém a defesa de privatizações e de uma reforma da previdência. A aposta do plano reside na tentativa de recuperar a capacidade de investimento do Estado, sem mexer, porém, nos fatores que estruturam as desigualdades, a exploração e a pobreza historicamente avassaladoras no Brasil.

É necessário mais do que boa vontade para acreditar que Ciro Gomes, que avalia a possibilidade de ter Benjamin Steinbruch  (PP), presidente da CSN, como vice na chapa, representa um projeto de esquerda. Trata-se, na verdade, de um engano consciente propagado para tentar capturar o eleitor que rejeita a direita e seus representantes políticos. Nesse sentido, cumpre um desserviço à esquerda a movimentação do PCdoB e de setores do PT que negociam o apoio à candidatura de Ciro. Não que este fato constitua uma surpresa, afinal são os mesmos PT e PCdoB que articulam alianças com partidos da direita (MDB, DEM, PSD etc.) em diversos estados do país, incluindo lideranças que deram suporte ao golpe parlamentar e votaram em projetos que retiram direitos, como a reforma trabalhista.

Esta triste e repetitiva realidade – a esquerda que quer andar de mãos dadas com a direita para chegar ao governo – demonstra que a construção de uma verdadeira alternativa de esquerda passa por outro caminho. Esse que Guilherme Boulos (PSOL e MTST) apresentou no programa Roda Vida da TV Cultura, na última segunda-feira (7). Os setores descontentes da militância petista deveriam refletir sobre essa opção. Boulos e Sônia Guajajara vêm demonstrando que é possível dialogar com as maiorias – o povo trabalhador, a juventude e os oprimidos – sem ceder à direita, tendo coragem de levantar um programa anticapitalista e democrático conectado com as principais demandas sociais e populares. Num momento em que o PT e o PCdoB conchavam com o outro lado, a candidatura de Boulos e Guajajara vai se afirmando como a única com capacidade de recolocar um projeto ousado de esquerda, sem alianças com o andar de cima, de novo no cenário nacional. É hora de recuperar a esperança de transformação social e política do Brasil, sem ilusões na conciliação de classes.

Foto: EBC


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