‘Eles não viram que eu estava com a roupa da escola, mãe?’


Publicado em: 23 de junho de 2018

Por: Silvia Ferraro, colunista do Esquerda Online

Silvia Ferraro

Feminista e educadora, covereadora em São Paulo, com a Bancada Feminista do PSOL. Professora de História da Rede Municipal de São Paulo e integrante do Diretório Nacional do PSOL. Ex-candidata ao Senado por São Paulo. Formada pela Unicamp.

Por: Silvia Ferraro, colunista do Esquerda Online

Silvia Ferraro

Feminista e educadora, covereadora em São Paulo, com a Bancada Feminista do PSOL. Professora de História da Rede Municipal de São Paulo e integrante do Diretório Nacional do PSOL. Ex-candidata ao Senado por São Paulo. Formada pela Unicamp.

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Ontem, na escola, fiquei acompanhando alunos que brigaram entre si. Um deles estava chorando, dizendo que o outro tinha ameaçado de “pegar ele na saída”. Na hora, eu e outro professor chamamos os alunos e a direção para conversar com todos, saber o que estava acontecendo e tentar resolver o problema.

Esse é só um exemplo de inúmeros outros do cotidiano escolar. Nos preocupamos com cada criança e adolescente que está em “nossas mãos”, dentro dos muros da escola.

Eles choram, se machucam, brigam, desabafam, fazem perguntas e estamos ali pra ajudá-los, às vezes pra dar bronca, mas quase sempre é aquele incentivo, aquele consolo, aquela força.

Num bairro de periferia, numa zona de conflito, todo aluno sabe que andar com o uniforme é uma segurança para ele. Nós ensinamos isso para os alunos. Dizemos: “vocês precisam vir de uniforme todos os dias, é para a segurança de vocês”. Marcus Vinicius, 14 anos, sabia disso e foi por isso que ele não entendeu por que atiraram nele, mesmo estando com a camisa da escola. “Eles não viram que eu estava com a roupa da escola, mãe?”, indagou antes de morrer.

O uniforme escolar não deveria servir para isso, porque todos deveriam ser respeitados e não temer andar na rua e ser abordados com brutalidade por policiais. Porém, como a realidade na periferia é essa, crianças e adolescentes aprendem rápido que o uniforme é fundamental para terem o mínimo de segurança ao andarem pelo bairro voltando para casa.

É indignante saber que o cuidado que os professores têm com os alunos dentro da escola foi tripudiado pelo blindado que atirou em Marcus, um garoto de uniforme e de mochila.

Policial despreparado? Infelizmente, não. Policiais estão preparados para agirem como algozes da população. Militares dentro de blindados não se preocupam com rostos, com gente, com crianças. O caveirão vem pra trazer a morte.

O governo do Rio vem gastando muito dinheiro com a intervenção militar, ao mesmo tempo em que corta verbas da educação. Enquanto a chamada “guerra às drogas” for prioridade em relação à educação, nem mesmo uniformes escolares serão escudo contra a violência policial.

 Foto: Fernando Frazão | Agência Brasil

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