Em meio a quarentena, horta comunitária quilombola é destruída em Porto Alegre
Movimento reage e amplia campanha de arrecadação
Publicado em: 30 de março de 2020
Negras e Negros
Matheus Gomes, de Porto Alegre, RS.
Matheus Gomes
Deputado estadual pelo PSOL no Rio Grande do Sul, Matheus Gomes é historiador, servidor do IBGE e ativista do movimento social há mais de 10 anos. Sua coluna mostra a visão de um jovem negro e marxista sobre temas da política nacional e internacional, especialmente dos povos da diáspora africana.
Negras e Negros
Matheus Gomes, de Porto Alegre, RS.
Matheus Gomes
Deputado estadual pelo PSOL no Rio Grande do Sul, Matheus Gomes é historiador, servidor do IBGE e ativista do movimento social há mais de 10 anos. Sua coluna mostra a visão de um jovem negro e marxista sobre temas da política nacional e internacional, especialmente dos povos da diáspora africana.
“Lei pra quê, se ninguém respeita a lei do pobre?”
Esse foi o desabafo de um morador do quilombo dos Fidélix ao ver os estragos causados por mais uma agressão racista aos quilombos de Porto Alegre. Na última sexta-feira (27), o território da família Fidélix, localizado na Azenha, região central da capital gaúcha, foi invadido por homens que alegavam agir a mando de um arquiteto que não estava presente no local.
Durante a última sexta-feira, 27, aproveitando-se do esvaziamento da região devido a quarentena, criminosos ergueram um muro nos fundos do Centro Diaconal Evangélico Luterano (CEDEL), escola comunitária localizada no território quilombola e que atende majoritariamente crianças negras da região. No final da manhã, a diretora do CEDEL percebeu a movimentação estranha e quando foi averiguar já era tarde demais: um muro com cerca de 5 metros avançou sobre o território e destruiu completamente a horta comunitária.
Através das redes sociais, Onir Araújo, advogado e membro da Frente Quilombola, afirmou que a horta tinha berinjelas prontas para colher, amoreiras, bananeiras, pitangueiras e outras hortaliças e atenderia a demanda não apenas dos Fidélix, mas das comunidades do Areal da Baronesa, Cabo Rocha e das Vilas Lupicínio Rodrigues e Planetário, todas remanescentes da antiga Ilhota, território que historicamente abrigou a população negra no centro da cidade.
“Tem sangue negro aqui, em cima disso! Daqui ninguém vai tirar pedaço de terra!”
A frase acima foi dita pelo mesmo morador que lamentou o racismo institucional presente no DNA do sistema judiciário. A resiliência negra se impôs sob a violência racista e a solidariedade chegou rapidamente. Ainda na sexta-feira, integrantes da Frente Quilombola derrubaram o muro e retomaram o território, reagindo de forma contundente a agressão. Para Onir, o movimento utilizou “o sagrado direito de defender nossas vidas, nosso território, contra a injusta e traiçoeira agressão. O muro foi ao chão. O desforço possessório foi aplicado e agora serão acionadas as devidas reparações contra o proprietário do terreno e responsável pela obra”.
Confira aqui o vídeo de retomada.
Quilombolas articulam organizações negras e populares no combate ao corona vírus
Porto Alegre é a capital brasileira com o maior número de quilombos urbanos em todo o Brasil – sete comunidades -, ao mesmo tempo, também é a metrópole campeã em desigualdade racial, de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal/IBGE. A situação também se reflete no abandono do Estado aos moradores em situação de rua e as comunidades indígenas.
Cientes do agravamento desse quadro com o combate ao corona vírus, a Frente Quilombola e outros movimentos sociais apresentaram uma carta às autoridades com a exigência de medidas especiais para o atendimento da população quilombola, negra, periférica, indígena e pessoa em situação de rua e privação de liberdade. O texto denuncia o silêncio dos representantes da Fundação Cultural Palmares, INCRA, dos ministérios da Saúde, Planejamento e dos órgãos estaduais e municipais que deveriam servir a luta contra o racismo. Também defende a articulação de medidas para a auto-organização negra e popular durante a quarentena.
Participe da campanha de arrecadação
A carta às autoridades constata que “a maior parte das Comunidades Quilombolas em contexto Urbano, é composta por pessoas trabalhadoras da construção civil, da segurança, empregadas domésticas, diaristas, ou que atuam como trabalhadores informais. Estas continuam trabalhando normalmente, ou seja, não está sendo respeitada a quarentena estipulada pelas autoridades. Sendo trabalhadores informais, ou de setores que ignoram algumas condições trabalhistas igualitárias, nenhuma garantia de renda lhes é assegurada”. Por isso, a Frente Quilombola iniciou uma campanha de arrecadação financeira para o atendimento imediato de mais de centenas de famílias na capital.
Sabemos que o final do mês é o período de maior aperto no bolso de quem vive de trabalho e é diante dessa situação que enfrentamos essa fase da quarentena. Já completamos quase duas semanas de isolamento e nenhuma medida contundente de assistência social e trabalhista foi tomada pelos governos, pelo contrário, as declarações de Bolsonaro e sua equipe econômica indicam que o governo aposta no caos e trabalha para desmoralizar o esforço pela quarentena.
Diante do ataque da última sexta-feira, o movimento amplia o chamado de solidariedade e pede que todas e todos que puderem contribuam imediatamente. Basta fazer um depósito nas contas que divulgaremos abaixo. É hora de toda solidariedade entre os povos e da máxima mobilização em defesa das nossas vidas! Participe!
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