Witzel apontou a mão, em referência a ordem de atirar na cabeça de criminosos
Nesta segunda-feira, 17, o governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), o mesmo que em campanha brincou com a quebra de uma placa com o nome de Marielle Franco, voltou a protagonizar uma cena deplorável. Após a inauguração de um colégio da Polícia Militar em Duque de Caxias, o governador atendeu aos pedidos de policiais militares e familiares, que gritavam “cabecinha” e simulou um tiro na cabeça, sorrindo.
O gesto é uma referência a frase dita pelo governador em entrevista no início de novembro: “O correto é matar o bandido que está de fuzil. A polícia vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha e… fogo! Para não ter erro”. Witzel promete usar atiradores de elite para abater pessoas que estiverem portando fuzis. A declaração dele foi apoiada pelo futuro ministro da Defesa, o general da reserva Augusto Heleno, que afirmou que a prática foi usada pelos militares no Haiti.
Ao fazer brincadeira para agradar a sua plateia, o governador Witzel estimula o aumento da violência contra a população das comunidades do Rio de Janeiro, que já sofrem com incursões durante a madrugada e com tiros sendo disparados de helicópteros, como ocorreu na Maré. Em dez meses de intervenção militar no Rio de Janeiro, os tiroteios aumentaram 56%, em relação ao mesmo período de 2017. Foram pelo menos 53 chacinas, com 213 mortos, segundo o Observatório da Intervenção.
A quantidade de pessoas que foram mortas pela polícia aumentou 40% no período. Um destes foi Rodrigo Alexandre da Silva Serrano, 26 anos, morador do morro Chapéu Mangueira, no Rio de Janeiro. No início de uma noite chuvosa, ele esperava a esposa e os dois filhos, de quatro anos e de dez meses, segurando um guarda-chuva, quando foi atingido por três tiros.
Dias depois, o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), chegou a fazer uma referência debochada no Twitter. Ele compartilhou uma mensagem com uma imagem de cinco homens negros armados com fuzis e a legenda: “Acho que vai cair uma tempestade, olha quanto guarda-chuva.”
Jair Bolsonaro e seu filho Flavio participaram da solenidade de inauguração da escola, que leva o nome de seu pai. Os dois já haviam se retirado do palanque no momento do gesto de Witzel. Saíram sem dar entrevistas, diante das denúncias de irregularidades apontadas pela Coaf.
O episódio mostra que as mortes de negros e negras irão aumentar, em uma escalada de operações que não irá conseguir deter a violência urbana. O Brasil é o lugar onde a polícia mais mata e onde mais morre. São décadas da guerra contra as drogas, que, mesmo com custo de vida de muitos inocentes e gastos com o aparato de repressão, não trouxeram a segurança que a população necessita.
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