Neste 20 de novembro de 2018 o movimento negro do Estado de São Paulo, está nas ruas para marchar a favor da construção de uma sociedade mais justa para todas e todos. Nossa luta é o combate ao racismo, ao machismo, a lgbtfobia, a intolerância religiosa, ao encarceramento em massa, ao feminicídio, ao genocídio da juventude negra e todas as formas de violência e violação dos direitos humanos.
O racismo mata!
A violência policial acontece sem qualquer controle nas periferias e atinge com mais frequência os jovens negros. São cotidianas as abordagens da polícia em que primeiro atira depois pergunta.
Nas cadeias há um número assustador de pessoas presas sem terem tido julgamento, retidas na prisão pelo juiz sem que haja permissão da lei, pessoas mais tempo presas que sua pena autoriza. É um quadro trágico que se agrava com a política de guerra às drogas no Brasil.
O sistema de segurança pública no Brasil é falido, e a ação da polícia militar não garante a segurança dos cidadãos. É necessário a construção de uma formação política, mais humanas, sem os resquícios da ditadura militar e, acima de tudo, com forte ênfase antirracista.
Mulheres Negras em luta!
Outra grave forma de violência, dominação e opressão em nossa sociedade é o machismo. Por conta dele, a agressão de todo tipo contra as mulheres, ignorado pela polícia, governos e pelo Ministério Público. Essa realidade encoraja agressores de toda a espécie levando a banalização de casos como o feminicídio, que é o assassinato de mulheres motivado pelo fato de as vítimas serem mulheres.
O encarceramento em massa da população negra avança a passos largos, alcançando as mulheres, que são submetidas a condições sub-humanas. São frequentes situações como falta de absorventes e descumprimento de regras de amamentação. O quadro deplorável a que são submetidas levam muitas ao suicídio, quadro que vem se agravando nas estatísticas de mulheres negras.
Da mesma forma, o aborto, que é legalizado em inúmeras democracias do mundo, continua no Brasil a ser relegado como crime, onde as mulheres negras e pobres são as principais vítimas da criminalização.
Pelos nossos direitos.
O direito à vida digna da população negra também é atacado pela negligência do Poder Público em políticas de saúde nas periferias e áreas ocupadas pela população negra. Esses são os locais onde a população tem menos acesso ao Sistema Único de Saúde, o SUS, a falta de hospitais públicos e onde o descaso com a saúde detém os maiores índices de vulnerabilidade ao atendimento da população. Como se não bastasse a violência física, o racismo atua também pela violência cultural, religiosa e psicológica. Hoje em dia são cada vez mais frequentes os ataques aos templos de religiões de matriz africana e a seus seguidores.
O governo golpista de Michel Temer e seus aliados que se encerra destruiu as leis que protegem direitos dos trabalhadores e tentou acabar com a aposentadoria com suas “reformas” trabalhista e da previdência.
Com a Emenda Constitucional 95/2016 ampliou o desmonte do SUS, o sucateamento da educação pública e corte de verbas para moradia popular. Temer e seus aliados fomentaram as desigualdades e a intolerância social. Ampliaram o ódio e a violência, a xenofobia e o racismo,
Ações de um governo golpista que foram seguidas no Estado e Munícipio de São Paulo pelos governos de Geraldo Alckmin/João Dória e João Dória/Bruno Covas, ambos do PSDB.
Defesa da democracia para os negros e negras e contra o fascismo
Acabamos de participar de uma das mais importantes eleições do Brasil, onde para a Presidência da República foi eleito Jair Bolsonaro, conhecido por suas declarações: racistas, homofóbicas, machistas e misóginas, assim como sua postura agressiva contra seus opositores.
Venceu com o apoio dos deputados e senadores golpistas do Congresso Nacional, da mídia golpista e com uma poderosa máquina eleitoral nas redes sociais. Infelizmente, também, com uma parceria da população pobre e das periferias das cidades brasileiras, influenciadas pela ação eleitoral das igrejas pentecostais e seus programas de rádio e televisão.
Seus posicionamentos e seu genérico programa de governo são fundados na mentalidade escravocrata do século 19, que continua a pensar o Brasil como o privilégio da elite branca da Casa Grande e a humilhação e sacrifícios para os da Senzala, a população negra e pobre.
A democracia e nossos direitos estão em risco!
A mentira, e as declarações incendiárias continuam sendo o repertório das posições do presidente eleito e de seus seguidores.
Durante o período eleitoral o Bolsonaro afirmou alterações de políticas, que em seus primeiros dias de governo irá implementar a Reforma da Previdência com o fim da aposentadoria; revogar o estatuto do desarmamento, ou seja, armar a população; enquadrar as organizações e dirigentes dos movimentos sociais como “terroristas”.
Extinguir o Ministério do Trabalho e Emprego, criado há 88 anos, uma das instituições públicas mais antigas da República do Brasil. Isso em um momento em que a taxa de desemprego é cada vez maior, atingindo diretamente as trabalhadoras e trabalhadores negros, e principalmente a juventude negra.
São ataques as políticas afirmativas da população negra e de cidadania, às liberdades, aos direitos e a democracia, que nós, negros e negras, 54% da população brasileira, ajudamos a construir.
Nessa marcha afirmamos vamos resistir, que não permitiremos retrocessos. Vamos continuar participando, exigindo nossos direitos, lutando e protegendo nossas vidas e nossas conquistas.
Um projeto de vida para o povo negro
Frente a este cenário, inspirados em Palmares e como parte de nossa utopia de vida queremos um projeto político para o povo negro. Como foi o Quilombo de Palmares liderado por Zumbi e Dandara, assim como todas as outras experiências de quilombos e revoltas negras inclusive depois de 1888, é o símbolo da resistência histórica do povo negro contra o Estado racista brasileiro.
Resistência que também busca construir um outro projeto político no qual a vida digna para a população negra seja o centro de uma nova sociedade antirracista, anticapitalista e que contemple estruturalmente a juventude e as mulheres negras.
Um projeto onde seus direitos primordiais sejam: igualdade de oportunidade, saúde e educação dignas e de qualidade, uma economia justa e que não vise à acumulação de riqueza somente para alguns, e um meio ambiente equilibrado.
Esse projeto de mudança parte do reconhecimento de que só com um olhar diferenciado de raça, gênero e classe é que será possível a leitura da realidade brasileira e uma transformação radical no enfrentamento às classes dominantes que tanto nos oprimem.
20 de novembro de 2018, Um dia de luta
O 20 de novembro é o dia de relembrar a nossa resistência e nossa luta!
Aos 130 anos de uma abolição inacabada (1888-1988)!
Pela liberdade definitiva imediata de Rafael Braga! Pela Liberdade de Tatiane! Ambas pessoas negras encarceradas injustamente por serem pobres e pretos! Por justiça à Luanda Barbosa, João Victor, Leandro de Souza, Ricardo Nascimento, e todas as vítimas de chacinas nas periferias.
Pela liberdade imediata de Luiz Inácio Lula da Silva, um preso político, que foi privado de se candidatar a Presidência da República. Lutar pela libertação de Lula, é a luta do povo brasileiro pela democracia, soberania nacional e pelos nossos direitos.
Um dia de luto pelas negras e negros assassinados desde o golpe de 2016
Marielle e Anderson… Vive!
Moa do Katendê… Vive!
Charlione… Vive!
Um dia de homenagem a trajetória da luta de combate ao racismo no Brasil e no mundo
40 anos do MNU – Movimento Negro Unificado (1978-2018)
40 anos de Cadernos Negros (1978-2018)
40 anos do FECONEZU – Festival Comunitário Negro Zumbi (1978-2018)
35 anos dos APNs – Agentes de Pastoral Negros (1983-2018)
31 anos do Núcleo de Consciência Negra da USP (1987 – 2018)
30 anos do I Encontro Nacional de Mulheres Negras (1988 – 2018)
30 anos de Geledés – Instituto da Mulher Negra (1988 – 2018)
30 anos da UNEGRO – União de Negros pela Igualdade (1988 -2018)
Centenário do nascimento de Nelson Mandela (1918 – 2018)
20 de novembro de 2018
Concentração às 13h no MASP (Avenida Paulista, 1578), na cidade de São Paulo, com atividades culturais e ato político.
16hs: saída da marcha, descida pela Consolação até o Teatro Municipal.
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