A cloroquina mata mais que a COVID-19


Publicado em: 23 de maio de 2020

Brasil

Travesti Socialista, colunista do Esquerda Online

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Brasil

Travesti Socialista, colunista do Esquerda Online

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Compartilhe:

Ouça agora a Notícia:

Uma pesquisa publicada do The Lancet[1] coloca um ponto final nessa questão. O teste verificou, não um efeito positivo do tratamento, mas sim um efeito negativo, praticamente dobrando a taxa de letalidade da doença. A razão é que essas medicações aumentam a probabilidade de arritmia cardíaca e, consequentemente, de um ataque cardíaco, o que causou a morte de uma parte das pacientes – em algumas combinações, a medicação causou mais mortes do que a própria COVID-19. Resumindo, entre refrigerante e cloroquina, é melhor tomar Tubaína.

O teste duplo-cego[2] foi realizado com mais de 96 mil pessoas internadas em 671 hospitais em países espalhados pelos seis continentes. Foram testadas a cloroquina e a hidroxicloroquina, combinadas ou não com macrólido (um antibiótico). O aumento da letalidade ocorreu nas quatro combinações: a taxa de letalidade no grupo de controle foi de 9,3%; no grupo que tomou hidroxicloroquina, 18,0%; no que tomou hidroxicloroquina com macrólido, 23,8%; no que tomou cloroquina, 16,4%; no que tomou cloroquina com macrólido, 22,2%. A taxa de arritmia cardíaca foram de 0,3% no grupo de controle, contra 6,1%, 8,1%, 4,3% e 6,5% nos respectivos grupos de medicamentos.

Concluiu-se que não só a cloroquina não aumenta as chances de recuperação, como, pelo contrário, as diminuem.

Irresponsabilidade, anti-cientificismo e fanatismo andam de mãos dadas

Por ordem do presidente Jair Bolsonaro, o general Eduardo Pazuello, atual Ministro da Saúde interino, assinou recentemente um decreto que libera o uso da referida medicação em pacientes, seja em estado grave ou leve. Essa foi uma medida que o ministro anterior, Nelson Teich, recusou-se a cumprir e, por isso, decidiu se exonerar do cargo.

Essa medida não é uma irresponsabilidade apenas por não haver comprovação de que o medicamento funcione. A medicina evita usar medicamentos com eficácia não-comprovada justamente porque, muitas vezes, eles têm o efeito contrário ao pretendido, como, infelizmente, também acontece nesse caso. O efeito potencialmente letal do uso da (hidroxi)cloroquina já havia sido apontado em testes menores, preliminares, e agora está, sem dúvida, comprovado.

Apesar disso, o presidente continua, seja por fanatismo ou por malícia, a defender o uso do medicamento e propagandear, para a população, que o medicamento funciona. É evidente que, nas condições atuais, a população desesperada e desinformada, em grande parte, vai optar pelo uso da medicação, o que vai aumentar a quantidade de mortes de pessoas com COVID-19 no Brasil.

No último dia 21 de maio, por exemplo, o presidente neofascista quis decretar a alteração da bula da cloroquina, incluindo uma recomendação da medicação para o tratamento da doença. Isso não é apenas um crime de responsabilidade, mas também de assassinato!

É por isso e por inúmeros outros motivos que Bolsonaro tem de ser derrubado imediatamente. Não é possível que permaneça como presidente um irresponsável como o Bolsonaro que não faz nada para combater a pandemia e que, ainda por cima, toma decisões que aumentam o número de mortes no país. A permanência desse fanático nesse cargo custará, ao Brasil, dezenas ou centenas de milhares de vidas. Para que vidas sejam salvas, é preciso que ele caia e que assuma o cargo alguém que realmente está comprometido com o combate à pandemia.

Referências

[1] https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(20)31180-6/fulltext

[2] No teste duplo-cego, as pacientes são aleatoriamente selecionadas para receber o medicamento a ser testado (no caso, cloroquina e hidroxicloroquina) ou um placebo, sem que paciente nem médico saibam o que a paciente está tomando. Esse tipo de pesquisa faz com que seja possível comparar o efeito do medicamento em si com o efeito placebo e atestar se, realmente, ele de fato traz algum efeito positivo.


Top 5 da semana

Contribua com a Esquerda Online

Faça a sua contribuição