Ivaneide Severo: “Quando as mulheres retornam à fábrica”


Publicado em: 27 de junho de 2020

Brasil

Ivaneide Severo, do Cariri (CE)

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Mais violência, insegurança e ameaças de desemprego a espreita

No Brasil de Bolsonaro, as agressões de ordem física, psicológica, sexual, patrimonial e moral contra as mulheres sempre estiveram presentes e, se agravaram cada vez mais. Como o machismo não faz quarentena, a necessidade do isolamento social para proteção contra a COVID 19, como medida de proteção contra a contaminação acaba por potencializar, o número de agressões, quando muitas mulheres são obrigadas a conviver com seus “agressores”, chegando muitas vezes a situação de feminicídio como desfecho. Contudo, aqui vamos tratar de outra violência – que atinge, principalmente, as mulheres da classe trabalhadora. Após, dias de isolamento social, milhares de mulheres operárias foram convocadas a retornar ao trabalho, em junho, mesmo com o pico do contágio, conforme dados da OMS, que colocam o Brasil nos primeiros lugares de contaminação e morte, em todo mundo, ao lado dos EUA.

Segundo o IBGE, 2 milhões de pessoas retornaram ao emprego depois de cumprir quarentena ou férias. Alegando atender a critérios epidemiológicos relacionados à estabilização da curva de contágio e redução da taxa de ocupação de leitos hospitalares essa retomada a suposta “normalidade” com a volta ao trabalho mesmo com o pico das mortes pela doença, vem sendo aprovada pelos governos de diferentes matizes, desde o PT no Ceará ao PSD em São Paulo. Sabemos, no entanto, que a flexibilização do isolamento é fruto, tão somente, da pressão do empresariado e atendem a critérios exclusivamente econômicos e não sanitários.

Essa combinação das crises sanitária, social e econômica tem efeitos devastadores em toda classe trabalhadora, contudo, atingem homens e mulheres de maneira distintas – penalizam as trabalhadoras muito mais. Reabrir fábricas e centros comerciais nesse momento são medidas irresponsáveis. Em especial para as mulheres trabalhadoras, sob quem recai o trabalho domestico de manutenção e cuidados com a família. Já que essas atividades de “produção social e cultural de pessoas, fundamental para a sociedade e em geral para a produção do sistema capitalista” esta estruturalmente ligada ao papel social da mulher. 

Outra questão que ameaça o conjunto da classe, mas tem maior impacto sobre as mulheres é o desemprego. Seu aumento começou antes da chegada da pandemia, contudo, com mais essa barreira, resultados tem sido a demissão em massa que só nos Estados Unidos já atingiu em abril passado 15,5% entre mulheres contra 13% de homens do total de mais de 30 milhões de americanos – um recorde nos últimos 70 anos. O desemprego total nos EUA em abril chegou a 14,7% a – maior índice desde a Grande Depressão de 29 quando não existia estatística oficial. Ou seja, as trabalhadoras representam 49% da força de trabalho daquele país, mas já são 55% dos novos desempregados. O histórico de racismo e discriminação entre norte-americanos faz com que outra discrepância seja reforçada durante a pandemia: mulheres negras e hispânicas estão em situações ainda piores, com taxas de desemprego que chegam a 16,4% e 20,2%, respectivamente.

O Brasil não gera dados oficiais sobre o desemprego com recorte de gênero. Segundo o IBGE, 1,1 milhão perderam emprego nesse período de pandemia. Todavia, o agravamento da situação de desigualdade de gênero vem dando sinais evidentes – garçonetes, manicures, cabeleireiras, professoras, babás e camareiras estão entre as profissões que mais perderam empregos sendo as mais afetadas pelo efeito da pandemia. 

“Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), 38 milhões de pessoas no Brasil estão abaixo da linha de pobreza e dessas, pelo menos 27,2 milhões são mulheres”. Isso demonstra que nem as crises, nem as pandemias são neutras em relação ao gênero considerando suas diferenças de classe, raça e etnia.

De conjunto, o governo Bolsonaro e seus ministros generais e empresários, desde o inicio da pandemia, ataca as medidas de isolamento, ameaçando a vida de milhões. Ocorre, que todas as localidades que flexibilizaram, prematuramente a quarentena sofreram com disseminação do vírus. Pesquisas brasileiras mostram que, sem ações de isolamento, as mortes já teriam quadruplicado. No mundo a estimativa é que o confinamento evitou ao menos três milhões de mortes em países da Europa. Por tanto é inadmissível que o governo ignore os fatos de uma realidade cruel que vem atingindo a maioria da população mundial, onde as mulheres encontram-se na linha de frente, seja no combate ao Covid 19 ou na manutenção da vida familiar.

Diante de tal situação faz se necessário “compreender a violência contra as mulheres como mediação das formas de exploração que constituem o capitalismo que nesse momento estão potencializadas pela pandemia” que atinge os setores mais vulneráveis e pauperizados da população como é o caso do Norte e Nordeste. Desta forma, se torna urgente uma resposta concreta que leve em consideração que, são as mulheres que sustentam toda a esfera de reprodução para manutenção do sistema capitalista. Portanto, nesse momento, a luta por nossas vidas e contra a política de morte do governo Bolsonaro atinge novo patamar – é preciso elaborarmos e exigirmos políticas concretas que nos protejam como: prorrogação do auxílio emergencial para as mulheres e proteção e assistência social para as mulheres.

#nenhumatrabalhadoraanenos
#Cariri

 

*Ivaneide Severo é militante da Resistência/PSOL


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