A campanha presidencial de Guilherme Boulos e Sonia Guajajara (PSOL) irá deixar várias lições positivas do atual processo eleitoral. Uma dessas lições mais importantes tem a ver com o papel educativo que cumpre em relação a toda uma geração de novos ativistas e militantes no que tange ao sentido das alianças políticas.
A Frente social e política construída pelo PSOL, PCB, UP (Unidade Popular pelo Socialismo) e movimentos sociais como MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) e Mídia Ninja, entre outros, é um grande exemplo de que é possível construir uma alternativa política de esquerda unitária no país, com um programa progressivo de mudanças estruturais que aponte para o combate aos privilégios das classes dominantes, sem que se repita o grave erro das alianças de conciliação de classes praticadas pelos governos do PT e PCdoB nas últimas duas décadas. Foi exatamente esse tipo de alianças espúrias com o MDB, PR, PP, entre outros, que levou ao golpe parlamentar de 2016 e à perda de direitos da classe trabalhadora, como a reforma trabalhista.
Engana-se quem pensa que a questão do arco de alianças é algo secundário. As implicações práticas de se ganhar uma eleição em aliança com setores burgueses são terríveis para a classe trabalhadora. O custo da aliança do PT com os ruralistas foi a não realização da reforma agrária nos 13 anos de governo Lula e Dilma. As relações cada vez mais umbilicais dos governos petistas com as construtoras ajudam a explicar o porquê da reforma urbana não ter saído do papel e o déficit habitacional continuar gigantesco. E por aí vai.
O fato de o PT ter se aliado em 15 estados com partidos que apoiaram o impeachment de Dilma Roussef indica a urgência de construirmos uma alternativa política de esquerda no país que supere a estratégia falida da conciliação de classes. A alternativa que está sendo construída pela campanha Boulos e Sônia tem a capacidade e o mérito de entender que é preciso uma ampla unidade de ação nas ruas com todos que querem lutar em defesa dos direitos sociais e das liberdades democráticas, mas que para forjar uma alternativa de poder para o conjunto dos explorados e oprimidos do país é preciso superar as práticas e estratégias que fracassaram e que uma parte da esquerda como o PT e o PCdoB infelizmente seguem apostando. Por isso, para derrotar o programa do golpe, nenhuma aliança com os golpistas.
Mas seria leviano e desonesto fazer essa crítica ao PT e ao PCdoB e omitir que também no PSOL, o partido que reivindicamos, esses graves erros também ocorrem. É o caso do Amapá e do Acre no âmbito das chapas estaduais.
No Amapá, o PSOL se coligou com o PMN e o PV e não lançou candidatura ao governo do Estado e ao senado fazendo uma aliança informal com Davi Acolumbre (DEM) e Randolphe Rodrigues (Rede), grupo que dirige a prefeitura de Macapá. No Acre, está na coligação encabeçada pelo PT e outros 13 partidos, vários deles de direita e que apoiaram o golpe e os projetos de retirada de direitos.
Trata-se de uma política de alianças que está em choque direto com a o perfil, o programa e a política da campanha nacional de Boulos e Sônia. Se quisermos de fato sair dessa campanha eleitoral com um importante polo de reorganização da esquerda socialista brasileira que vá além das experiências do PT e seus satélites, o caminho a seguir em matéria de alianças política é o exemplo da campanha presidencial e não os exemplos das direções do PSOL do Acre e do Amapá. Porque golpistas não merecem perdão!
Foto: Filipe Peres
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