O povo, forjado à custa da escravatura, de tão cansado, tem dificuldade de entender que seu cansaço se dá pelo escravocrata hereditário pregado em suas costas. Da mesma forma, a dialética marxista, o materialismo histórico mostra: os anoréxicos, bem apesar da inferioridade no consumo de calorias, compreendem melhor a escravatura e a identificação escravocrata de que os mais bem alimentados, mesmo sem fazerem leitura dos contextos histórico e ideológico. Façamos uma breve retomada na geografia da gênese nacional.
A pilhagem de índios durante o período colonial teve dois principais objetivos práticos e ideológicos: a expropriação de terras e o hibridismo como forma de dizimação étnico-cultural, para um futuro distante. O primeiro fora necessário para impulsionar a migração portuguesa, na empresa de anexar territórios e inserir indivíduos que praticariam o segundo. Este último teve, como um de seus principais objetivos, o de matar índios arredios e propensos a processos revolucionários antes mesmo do ventre.
Já para os escravos, trazidos compulsoriamente da África, tolheram-nos ao papel ativo na produção; na guerra comercial em favor de grandes potências, na construção de uma nova sociedade com diversos aspectos feudais – na questão da terra e propriedade – e, também, na forçada inserção híbrida.
Constitui-se aí, a base da pirâmide da sociedade brasileira capitalista ou semiescravista. Na junção das disparidades étnicas a burguesia sai vencedora no quesito poder. Os grandes latifundiários, empresários, banqueiros, industriários e políticos detêm, agora, toda a terra, os meios de produção, matéria prima e o produto principal: a força de trabalho. Já que durante o processo de formação do povo brasileiro, fomos, a maioria, forjados da violência impiedosa contra os ventres índios e africanos, ficam como proprietários hereditários do poder, a pequena parcela mais europeizada. As bancadas, do boi, da bíblia, dos banqueiros, dos militares, estes últimos agraciados com todos os privilégios possíveis, tanto na coroa como na república; pela dizimação de Canudos, na luta contra os franceses na Baia de Guanabara, na rendição holandesa, no sufocamento das “revoltas das chibatas” e dos levantes como o de 1924, com a tarefa caprichosa do imperialismo norte americano “contra os comunistas” em 1964, que, na verdade era apenas um duro golpe contra a classe trabalhadora.
Formação dos clãs
A política nacional, subjugada pela iniciativa privada constrói suas lideranças, seus representantes, alguns como: família Magalhães na Bahia, polarizadora das urnas no Nordeste, na junção atávica do catolicismo coronelista de Padin Ciço “senhor dos pobres” (apoio da igreja); família Neves em Minas, anexa aos grandes de São Paulo e Rio de Janeiro, na aglutinação de ricos defensores empresariais da privatização. A família Sarney no estado do Maranhão, dentre tantos outros representantes das oligarquias. Citemos alguns: Mario Covas, Geraldo Alckmin, José Serra, Maluf, Romeu Tuma, Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Aécio Neves, Paulo Skaf, Michael Temer, Fernando Henrique e tantos outros ícones da política nacional. Todos na formação da maior parte da bancada parlamentar em Brasília. Todos eles, capitalistas, neoliberais e escravocratas, descendentes e ascendentes destes.
O que se espera de PSDB, MDB, DEM, Solidariedade e todo o famoso “Centrão”? Distantes e próximos do fascismo, serão sempre partidários
unilaterais dos interesses burgueses assim como, circunstancialmente, fascistas.
As três vias adotadas no Brasil
A economia nacional, bem se sabe, é escrava do capital financeiro internacional. Recebeu suas primeiras correntes no período colonial, nos acordos entre a coroa portuguesa com Inglaterra, já a grande detentora de bancos e agências reguladoras do mercado internacional; na defesa dos negócios e portos no Brasil. No ressarcimento em forma de endividamento e concessões. Nos períodos modernos dá continuidade ao processo com relação aos EUA, na inferioridade da balança comercial, na continência militar a estes, no endividamento com o FMI. Nos pactos comerciais, na contenção da luta por direitos trabalhistas e na luta contra o comunismo. Num salto à realidade – mais próxima dos estômagos esfomeados, dos couros desidratados, do desemprego, da falta de moradia, educação, saúde e saneamento básico – temos a união de todos os poderes constituídos, no decorrer da história, como a mão do “Deus Mercado”, mais pesada que a capacidade dos lombos ajumentados de levar peso, um golpe parlamentar.
Usurpador de direitos trabalhistas, previdenciários, liberdade de expressão, sociais e democráticos.
Por conta do fortalecimento do mercado das economias da América Latina, nos tímidos ataques aos direitos trabalhistas, na subserviência, um tanto quanto arredia, dos governos de Frentes Populares, fortalecimento dos BRICs e ineficácia na política das Leis de Austeridade, os governos foram retirados, na última década, um por um, do poder, através das urnas burguesas (no uso do povo contra o povo); a primeira via. A Venezuela, insistente em seu “Chavismo-bolivarianismo”, sofrera, já em parte, pela segunda via; dos embargos econômicos e castigada com isolamento diplomático e militar, viável apenas com o combate ao Lulo-petismo brasileiro, que, ainda neste estágio, sofre um golpe parlamentar devido à derrota da direita nas urnas.
Como se dá a progressão deste processo no Brasil? Todas as castas, algumas citadas acima, se reúnem num acordo nacional burguês, na
implementação de uma série de atos de vieses fascistas em defesa dos interesses dos grandes grupos econômicos internacionais: impedimentoforçado da presidenta Dilma, apropriação do sistema jurídico, intervenções federais baseadas no militarismo (governador do Rio destituído do cargo por um general do exército), fortalecimento da participação militar na política nacional, apropriação da mídia burguesa na fomentação do caos, na divisão do povo entre “comunistas” e “democratas”, nordestinos e sulistas, na prisão arbitrária de Lula, na perseguição das lideranças políticas opostas, na eliminação de lideranças populares (a exemplar-se por Marielle), dentre outros.
Fracassados todos estes atos e na impossibilidade da terceira via tradicional do imperialismo de intervenção diretamente militar, resta o uso desta terceira via representada pela ideologia fascista. Nada surpreende no fato de os partidos de direita, o “centrão”, as grandes empresas e a mídia burguesa se unirem no objetivo de apoiar o Bolsonaro. Lutam todos pelos mesmos direitos com estratégias diferentes. O Tratado de Versalhes significou para Alemanha e seu povo uma grande humilhação, além de jogá-lo às malditas moléstias do pós-guerra: fome generalizada da nação, desemprego em massa, doenças pela falta de alimentação e condições básicas de sobrevivência. Abstendo-se, neste curto artigo, aos complexos detalhes, o discurso nazista de Hitler ganha as multidões no sentimento nacionalista. Processos parecidos que corroboram entre si, acontecem na Espanha de Franco e na Itália de Mussolini. Ambos têm como principais bordões a luta contra a corrupção e contra os comunistas (estratégia insistentemente, utilizada por Bolsonaro). O fortalecimento do militarismo é o principal desacordo entre os partidos de direita e centro no Brasil, mas não o suficiente para que estes últimos deixem de apoiar desesperadamente.
• grandes líderes e ideólogos fascistas: Hitler (Alemanha), Mussolini (Itália), Franco (Espanha) e Salazar (Portugal).
• principais características do Fascismo: Nacionalismo (no programa de Bolsonaro consta agenda neoliberal), Totalitarismo, Militarismo, censura, propaganda, violência e antisocialismo.
O papel da esquerda, representante dos trabalhadores e a direita, defensora dos patrões Esta humilde e pequena explanação teve objetivo, somente, de nos situar quanto à conjuntura nacional, na unificação da direita, da burguesia e do militarismo. Neste período, é necessário observar todo o processo de escravidão, moderna e arcaica, as castas burguesas nas hereditariedades da obsoleta aristocracia, bem como o papel do povo brasileiro na defesa da democracia. Faz-se imprescindível o argumento histórico, na tentativa da inversão do voto da extrema direita para a esquerda. A militância precisa, mais do que nunca, compreender os abismos ideológicos, religiosos e econômicos nos quais nossa pobre nação está submersa. Não se pode combater crenças e nem taxar eleitor, nem regionalizá-lo, como querem a mídia burguesa, a direita e extrema direita. Não devemos associar o discurso fascista aos anseios dos eleitores e sim conhecê-los. A identificação de nichos eleitorais deve servir para nortear nossos déficits.
Por que a identificação do processo histórico se dá pelas mãos dos pobres, menos abastados e (nas urnas) por nordestinos, já que a parte dos intelectuais, artistas e esquerda nacional, não precisam da descrição agora?
Desde 2016, o povo brasileiro não tem trabalho, nem educação, saneamento básico, assistência social, nem inserção no capital. Com esses efeitos o povo nordestino sofre mais, por sua ligação mais a terra e a subsistência que aos vícios e anseios dos povos do Sul. Estes últimos tendem a aderir mais ao discurso das armas, pelo voraz ataque da violência urbana à sua integridade.
Há dentro de tudo isso a evangelização do povo e, principalmente, da população afro-descendente, despossuída das maiores necessidades de subsistência, além de ser massacrada pela polícia e marginalidade; destino imposto à parte considerável de moradores dos subúrbios e comunidades pobres. O papel dos povos do Sul e Sudeste, neste momento, vem sendo o de apoiar, na maioria, o discurso fascista, muito por conta de sua relação com as igrejas evangélicas que fazem base a Bolsonaro, bem como parte da moralista classe media, no discurso contra a corrupção e as classes mais abastadas no anticomunismo. E isso, de forma alguma, quer significar que o Sul seja mais direitista ou que, propensos estaremos a perder aqui. Pelo contrário. Devemos estudar todo o processo e convencer a população contra o fascismo.
Indubitavelmente, a parcela do povo, principalmente nordestina, com altos índices de pobreza e história de “superação” junto ao PT, tende a não traí-lo, e assim devemos trabalhar para que se mantenha.
Sigamos com todas as nossas armas (argumentos) contra a ideologia fascista! Sem nos esquecer que isso é luta de classes; são duas apenas: trabalhadores (as) e burguesia. Não importa a religião, ascendência, crença, posição sexual nem nada disso. Importa sim a luta de classe feita pela esquerda com o apoio de parte da burguesia e pequena burguesia, na urgência de derrotar o projeto e discurso fascistas. Muito respeito aos jornalistas, artistas, professores, políticos (o texto mostra bem quem está do lado oposto aos trabalhadores) e quaisquer personalidades, de qualquer classe que nos apóie nesta empreitada. Força a todos e todas camaradas! Um abraço revolucionário!
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