A culpa da escravidão é dos próprios negros. Não dá para saber se o jornalista Vladmir Herzog foi executado na ditadura ou se suicidou. O número de cotistas nas universidades deve diminuir. As pessoas vão para o hospital porque estão desempregadas.
Já está na Internet os absurdos que o candidato Jair Bolsonaro disse na entrevista para o programa Roda Viva nesta segunda. Mais meia hora falando e talvez ele iria defender que a Terra é plana.
Bolsonaro teve todo o tempo do mundo para falar e raramente foi interrompido. A presidenciável Manuela D’Ávila foi interrompida 62 vezes quando foi entrevistada no programa. Mas o privilégio de falar a vontade não foi bem usado pelo capitão da reserva que quer ser presidente.
Apesar da pose de machão, ele vacilou e mostrou incoerência várias vezes. Como quando foi questionado sobre o apoio à greve dos caminhoneiros. Disse que era a favor dos trabalhadores, mas “não pisou na pista” e não apoiou o movimento. Ou quando foi perguntado sobre a relação próxima com ex-deputado Paulo Maluf, preso por corrupção. Também se atrapalhou quando disse que “estaria preso” se estivesse do lado do ex-governador do Rio Sérgio Cabral. Mas apoiou o candidato de Cabral em 2014, Pezão.
Apesar de algumas perguntas delicadas, Bolsonaro foi até bem tratado pelos entrevistadores. Nenhuma pergunta sobre quando ele disse que usava o dinheiro do auxílio moradia pago pela Câmara dos Deputados para “comer gente”. Nem sobre a contratação de funcionária fantasma em seu gabinete.
Como era de se esperar, os jornalistas da grande mídia que entrevistaram Bolsonaro não fizeram uma pergunta sequer sobre o apoio dele à reforma trabalhista que retirou direitos históricos. Ou sobre o voto do deputado a favor da Emenda Constitucional que congelou os gastos da saúde e educação por 20 anos. Nisso tanto os jornalistas quanto Jair Bolsonaro concordam.
Mas foi hilário um candidato a presidente dizer que qualquer pergunta sobre economia deveria ser feita a seu futuro ministro da fazenda. Alguém deveria perguntar porque ele terceiriza perguntas sobre economia mas tem na ponta da língua todas as respostas sobre homossexualidade.
Enfim, apesar de bem tratado pelos entrevistadores, Bolsonaro não deixou de falar muita besteira e inclusive algumas mentiras. Vejamos as três mais descaradas:
“Eu não sabia que ele tinha problema [sobre Eduardo Cunha]”
Ao ser perguntado sobre sua relação com o ex-deputado federal que hoje está na cadeia Eduardo Cunha, Bolsonaro foi contraditório. Em um primeiro momento ele disse que “queria estar mais perto dele”. Depois quando questionado sobre os vários casos de corrupção envolvendo Cunha, desconversou e disse que “não sabia” que ele era corrupto.
Na verdade, Eduardo Cunha já tinha um longo histórico de corrupção antes de ser aliado de Bolsonaro. Foi tesoureiro da campanha de Fernando Collor de Melo nos anos 90. Indicado para presidente da Telerj, se envolveu em superfaturamento. Em 2000 foi afastado da Companhia Estadual de Habitação do Rio por denúncias de contratos sem licitação. Bolsonaro, como o país todo, sempre soube que Cunha tinha problema.
“Participei da luta armada [fazendo referência à caçada ao guerrilheiro Carlos Lamarca]”
Na entrevista, o deputado tentou exibir seus dotes militares dizendo que participou da operação que matou o guerrilheiro Carlos Lamarca. Lamarca foi morto em 1971, quando Jair Bolsonaro tinha 16 anos. O exército brasileiro nunca aceitou menores de idade em suas operações. Bolsonaro só se formou na Academia Militar dos Agulhas Negras em 1977, aos 22 anos.
“Não Procede” sobre defender a greve dos policiais do Espírito Santo
Bolsonaro chegou a negar a existência de um vídeo que ele mesmo fez em apoio à greve dos policiais. Quando se trata de apoio a movimentos de trabalhadores, ele é um verdadeiro sabonete e diz o que é conveniente.
*Esse artigo representa as posições do autor e não necessariamente a opinião do Portal Esquerda Online. Somos uma publicação aberta ao debate e polêmicas da esquerda socialista
Imagem: Agência Brasil
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