Neste domingo (29), a convenção eleitoral do Partido dos Trabalhadores realizada em Maceió teve como ponto alto o apoio a pré-candidatura do atual governador Renan Filho, do MDB, as de Renan Calheiros, do MDB, e Maurício Quintela, do PR, para o Senado. Ambos os candidatos ao Senado apoiaram o golpe parlamentar que retirou Dilma Rousseff da Presidência em 2016.
O PT lançou 35 deputados estaduais, um federal e, em nome da aliança com o MDB, não lançará ninguém para o Senado. A aliança entre PT e PMDB dos Calheiros foi notícia nos principais jornais do País.
A noticia já era esperada. Para muitos, era somente uma questão de tempo. Durante os últimos quatro anos, a relação entre PT e PMDB em Alagoas passou por idas e vindas. Nas eleições de 2014, há quatro anos, o PT de Alagoas apoiou Fernando Collor (PTB) para o Senado, e Renan Filho (PMDB) para o governo do estado. O apoio a estes políticos tradicionais do estado se deu em troca do apoio que ambos dariam a eleição de Paulão, da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), como deputado federal e na campanha presidencial para reeleger Dilma. Após a votação do impeachment da presidenta Dilma, que teve apoio de Renan Calheiros, o PT saiu do governo de Renan Filho, entregando todos seus cargos um semana depois, com a acusação de que o MDB local havia apoiado o golpe.
No último dia de outubro passado, uma reunião extraordinária da Comissão Executiva Estadual acabou por aprovar a volta do PT/AL ao governo Renan. Algo que após a caravana de Lula pelo Nordeste era apenas uma questão de tempo. Tanto Renan pai, quanto Filho estiveram ao lado de Lula quando o ex-presidente visitou Maceió. O governador foi responsável também por bancar a maior parte da estrutura da passagem da caravana pelo estado.
Na época, o próprio Lula teria dado a benção para que os dois partidos reatassem os laços. O presidente estadual do PT, Ricardo Barbosa, da CNB, falou na reunião da CEE que ocorreu, que a volta do PT/AL a base de Renan era “para melhor conseguir apoio as candidaturas petistas”. A CNB é maioria do diretório e, apesar da posição contrária das outras correntes, a decisão foi aprovada, com 9 votos contra 6. A Democracia Socialista (DS); Esquerda Popular Socialista (EPS); Diálogo e Ação Petista (DAP), grupo formado por O Trabalho e dissidentes da CNB; e a Articulação de Esquerda (AE) foram os grupos contrários. Diversos fizeram notas públicas contrárias à volta ao governo do estado, o DAP chegou a impulsionar um manifesto com mais de cem assinaturas.
Agora, a convenção eleitoral do PT/AL somente confirmou o que todos esperávamos, Renan Calheiros e Renan Filho são candidatos do PT ao governo e ao Senado. Na oportunidade, os petistas aprovaram também uma resolução que estabelece candidatura prioritária do partido no estado a única a deputado federal, tentando a reeleição de Paulão, buscando aliança com outros partidos que fazem parte da base do governo estadual, como o PCdoB.
A votação sobre a tática eleitoral do PT/AL se deu por meio de blocos. Primeiro se votou os candidatos estaduais, depois o apoio a candidatura única de Paulão para federal, e no Senado e governo do estado, o PT não apresentou cargos e o apoio seria aos candidatos que apoiassem Lula presidente.
Renan Calheiros tem sido uma voz crítica ao governo Temer no Senado. Colocando crise em seu próprio partido. O senador alagoano tem criticado a postura econômica do MDB e a decisão do partido em lançar a candidatura de Henrique Meirelles, chamando a mesma de um “peso nocivo”. Renan se recusa a chamar o MDB pelo novo nome, sempre se referindo ao partido como PMDB. A disputa entre Renan e Temer é antiga, vem desde 2006, quando o atual presidente defendeu que o partido lançasse candidatura própria para a Presidência, o nome apoiado era o de Anthony Garotinho. Porém, Renan venceu a disputa.
Hoje, Renan parece mais enfraquecido. Ele defende que o MDB não tenha candidatura própria e que cada estado esteja livre para apoiar o candidato que quiser. O mesmo é defensor do nome de Lula, encampando o direito democrático do ex-presidente concorrer as eleições e criticando a prisão do atual líder nas pesquisas eleitorais.
Em troca do apoio eleitoral do PT/AL, o MDB do estado irá apoiar a candidatura de Paulão para federal e de Lula para a Presidência da República.
Ao lado de lideranças petistas, os dois membros da família Calheiros, o atual governador e o senador, estavam presente no evento. Ao lado do candidato a deputado federal Paulão, e da candidata a deputada estadual e Secretária de Juventude do PT no estado, Thati Nicassio, o governador Renan Filho prezou pela unidade.
Quando Renan Calheiros foi falar, um setor de militantes ligados à corrente O Trabalho vaiou o senador e entoou cânticos de golpistas. Deixando constrangidos parte da direção petista presente. Paulão, que também é dirigente da CNB, pegou o microfone e se dirigiu a militância, pedindo o fim das vaias e criticando a atitude, para logo em seguida defender a aliança com os Calheiros.
A corrente O Trabalho foi a única que votou contra a aliança com os Calheiros. A CNB, de Paulão que conteve 50% dos delegados para a conferencia de tática eleitoral, saiu vitoriosa graças a um divisão em outras correntes de oposição. A Democracia Socialista (DS), Articulação de Esquerda e EPS, que juntos constroem o campo MUDA PT, iriam votar contra a tática proposta pela direção, porém, nas três correntes houve divergências. A DS do estado entrou assim em uma forte crise, com parte de seus quadros e dirigentes podendo migrar para a CNB.
No estado o partido passa por sérios problemas financeiros. O da capital conta com recursos muito escassos. O partido possui apenas duas Prefeituras, dos 102 municípios do estado. E conta com cerca de 40 diretórios municipais, a maioria não funciona regularmente. Até as eleições de 2014, o partido nunca havia eleito um deputado federal – Paulão foi o primeiro. Em 2002, Alagoas foi o único estado em que o PT perdeu, e a capital, Maceió, é a única capital do país na qual Lula nunca venceu uma eleição.
As correntes de oposição no estado fazem duras criticas a majoritária, dizendo que o grupo dirigente não respeitam as instâncias partidárias, as executivas, e plenárias, fazendo política de acordo com a vontade do grupo dirigente.
Alianças com golpistas Brasil afora
O papel de Lula ao negociar a aliança com o MDB em Alagoas não pode ser ignorado. O ex-presidente esteve articulando e incentivando o PT a reatar antigas alianças. A frase de que era preciso “perdoar os golpistas”, está se caminhando no terreno da política.
Em outros estados como no Piauí o PT desistiu da reeleição da senadora Regina Souza para apoiar Marcelo Castro, do MDB, e Ciro Nogueira, do PP, líder do centrão, que responde a treze processos e é um dos articuladores do chamado baixo clero. Em troca, estes partidos apoiam a reeleição do governador petista Wellignton Dias.
No Ceará o PT aprovou em sua convenção estadual o apoio a eleição de Eunício Oliveira ao Senado, retirando o candidato petista. Em troca o MDB do estado apoiaria a reeleição de Camillo Santana para governador. A presidente nacional do partido Gleise Hoffmann afirmou que o PT no estado não apoiará o candidato do MDB para o Senado.
Alianças com partidos que estão na base de Temer e que votaram pelo impeachment também ocorrem no Mato Grosso e no Amapá, e até o final do período de coligações estaduais podem se multiplicar em outros locais do país.
O discurso que estas alianças regionais ocorrem por uma escolha política ou erro exclusivamente das direções estudais do PT nos parece errado. Estas alianças não são fatos isolados, mas fruto de uma política nacional de trocar apoio em nome de uma governabilidade, ou apoio de partidos burgueses para assim conseguir mais tempo de TV e recursos financeiros para campanhas de petistas. Estas alianças buscam repetir nos estados as práticas feitas por Lula nacionalmente. Tanto eleitoralmente, quando ao assumir governos, tentando governar para todos.
O processo do impeachment não serviu para Lula fazer uma autocrítica da política de aliança que o PT teve. Ao contrário da vontade de radicalizar e enfrentar os golpistas que existe em muitos militantes petistas, Lula orienta no sentido inverso. A governabilidade lulista prega que não há nenhum problema em apoiar os partidos de direita e que apoiaram o golpe, em troca de alianças regionais.
Uma alternativa de esquerda em Alagoas é possível
Esta forma de fazer política e negociações, pouco se difere da feita por partidos burgueses tradicionais e os partidos fisiológicos. Alguns petistas podem dizer que estas alianças são justificadas para eleger os candidatos do partido. Esse argumento é valido para um partido que coloca a atuação parlamentar no centro de sua vida. A atuação parlamentar é muito importante, mas não é o central. O parlamento e as eleições é uma grande chance para ganhar o maior número de pessoas para nossas ideias, mas o central é colocar as pessoas em movimento em torno da ideia de que é possível e preciso mudar a sociedade. Assim, se fazemos a atuação parlamentar com as mesmas ações dos partidos burgueses, acabamos por jogar de acordo com as regras deles. Não iremos conseguir mudar a sociedade e convencer pessoas de que esse sistema precisa ser transformado se terminamos por atuar da mesma forma daqueles que criticamos. Como disse Trotsky, os fins justificam os meios se os meios justificarem os fins.
Ao se distanciar da base eleitoral formada por movimentos sociais que muitas vezes se confrontam com os governos e partidos que o PT declara aliança, o partido joga uma contradição para esta base, que aos poucos perde confiança e apreço na direção do partido. Dessa forma, um espaço para reorganização da esquerda, que conta com estes militantes contrários a estas alianças, ganha terreno.
Construir uma alternativa à esquerda num estado como Alagoas, dominado por oligarquias, é uma tarefa difícil. Ao longo dos anos, foram poucas as tentativas de projetos mais à esquerda que conseguiram se sagrar vitoriosas. Podemos citar aqui o ano de 1992, quando Ronaldo Lessa ainda era uma figura progressista e foi eleito prefeito da capital pelo PSB, tendo Heloísa Helena vice-prefeita, pelo PT. Anos depois Lessa trocaria de legenda, indo para o PDT e se tornando governador do estado, Heloisa se tornou senadora pelo partido, antes de ser expulsa e impulsionar a construção do PSOL.
Hoje a aliança que PT e PCdoB fazem com a família Calheiros impede a construção de uma nova Alagoas e uma alternativa verdadeiramente de esquerda. O encarceramento em massa e a violência policial com que sofrem os jovens negros da periferia, as altas taxas de feminícidio, o assassinato de LGBT´s, o descaso com a educação e a falta de concursos públicos, a privatização de unidades de saúde e serviços básicos, tudo isto será mantido e sem solução diante do governo de Renan Filho.
Porém, em Alagoas também se apresenta uma importante aliança entre movimentos sociais e partidos que pode ter um bom resultado a longo prazo. A candidatura de Basile Christoupolos pelo PSOL, em uma frente de esquerda com o PCB, MTST e apoio de setores da CPT (Central Pastoral da Terra) e outros movimentos do campo e de luta por moradia, é a única que até agora se apresentou para tentar impedir uma reeleição de Renan Filho. Essa Frente pode ter um bom desempenho eleitoral, só que além disso, ela será crucial para dar um passo adiante na reorganização da esquerda no estado.
Construir uma alternativa verdadeiramente de esquerda não pode ser feita com base em velhas alianças, que servem para alimentar a atual ordem social do estado, que é de uma elite oligárquica violenta e sedenta por lucro e poder. Velhas práticas e velhas alianças servem à atrasada elite que temos. É preciso pensar o novo, porque ele sempre vem.
Aos militantes petistas e do PCdoB que estão insatisfeitos com as alianças de seus partidos, fica o convite para a construção conjunta de uma programa de esquerda e anti-oligárquico para Alagoas. É preciso acreditar que é possível mudar e fazer uma Alagoas diferente.
FOTO: Lula com Renan Calheiros e Renan Filho, durante a caravana pelo Nordeste. Foto Divulgação/Ricardo Stuckert
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