A volta do jingle Lula Lá: esperança na esquerda e pesadelo dos militares


Publicado em: 9 de maio de 2022

Brasil

Gibran Jordão, do Rio de Janeiro, RJ

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

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A pré-campanha de Lula à Presidência foi lançada nesse sábado, 07, em um evento em São Paulo que contou com a militância, artistas, representantes dos movimentos sociais e dos partidos da coligação. Na abertura do evento a apresentadora fez questão de destacar que ali não estava sendo lançada uma candidatura em respeito ao calendário eleitoral, mas sim um movimento, o “Vamos Juntos Pelo Brasil”.

O que chamou mais atenção nesse evento de quase duas horas e que viralizou nas redes sociais foi a nova versão do famoso jingle “Lula Lá!” que contou com a voz de vários artistas de peso da nova e da velha geração: Pablo Vittar, Duda Beat, Martinho da Vila, Odair José, Lenine, Maria Rita, Paulo Miklos… Já na abertura do clipe, uma garotinha com uma linda voz começa a música – trata-se de Flor Gil, neta de Gilberto Gil.

A composição original é de Hilton Acioli, um potiguar, parceiro de várias músicas com Geraldo Vandré, e que fez parte da safra de compositores que fizeram canções que não se perderam na história e ficaram para sempre. E, no caso em questão, compositores que tiveram a virtude de enfrentar a ditadura militar. Hilton compôs Lula Lá para a campanha de 1989, a primeira eleição direta com a participação do povo após a ditadura militar. Muito provavelmente esse jingle é o mais lembrado e cantado da história das eleições no Brasil… A música na época fez parte da campanha de Lula com um coro com diversos artistas como Chico Buarque, Djavan, Beth Carvalho, Marieta Severo, Malu Mader…

A letra e a melodia emocionam, deixam a militância a flor da pele e criam no imaginário das pessoas a sensação de que há esperança de dias melhores. O Brasil na década de 1980 vivia o fim de um ciclo de trevas, vinte anos de horrores de ditadura militar, inflação, extrema pobreza e uma nova geração que surgia em meio a uma onda de greves operárias que enfrentava com muita coragem os generais e que gestava novas lideranças e referências políticas, com Lula à frente. O velho morria e o novo estava nascendo…

Enfrentar Bolsonaro é hoje uma espécie de segundo round contra os generais entreguistas e torturadores de 1964. O general Heleno, que hoje compõe a cúpula estratégica do atual governo, com o GSI, foi assessor na equipe do general Sylvio Frota, ministro do Exército no governo do presidente Ernesto Geisel no regime militar. Em 1977, Frota chegou a fazer movimentações e articulações contra as pretensões de Geisel e Golbery em fazer uma “abertura, lenta, gradual” e segura do regime militar. Frota e Heleno eram da fração militar que se opunha a reabertura democrática e estavam a favor de endurecer e ampliar por décadas o controle militar no poder do país.

No caso de Heleno, a única musiquinha que ele mesmo diz ter cantado pela primeira vez na vida foi: “se gritar pega centrão, não fica um meu irmão…” em evento político de apoio a Bolsonaro. Hoje, a hipocrisia no governo Bolsonaro fala mais alto, generais e políticos corruptos do centrão estão juntinhos e misturados numa farra com picanha, viagra e whisky enquanto o povo brasileiro está na fila do osso. A superioridade moral que esses conservadores da extrema direita dizem ter é pura propaganda enganosa para tentar esconder a aberração e o perigo que esses senhores significam para o povo brasileiro.

A nova versão do jingle “Lula Lá!” é atual, engaja e emociona! Por que dialoga e dá esperança para a velha e a nova geração sobre o momento perigoso em que vivemos. Estamos diante de um governo golpista que celebra 1964, o povo brasileiro está sendo castigado pelo desemprego e pela inflação enquanto bilionários confraternizam com generais hipócritas. Não há dúvida que a eleição de Lula seria uma derrota importante para os planos da extrema direita no Brasil e é exatamente por isso que a canção de Hilton Acioli é uma arma poderosa para a esquerda e também um pesadelo para os generais que, relembrando Renato Russo, devem estar nesse momento “atrás da mesa com o c. na mão”.

A música sofreu ajustes e a nova letra fala da trajetória recente de Lula: “Há uma voz que tentaram calar / mas essa estrela não vai se apagar/ e o brilho ilumina a esperança, com fé num futuro melhor eu vou / sem medo de ser feliz, quero ver chegar / Lula lá, brilha nossa estrela / Lula lá, renasce a esperança, o Brasil criança na alegria / de se abraçar”.

Ao mesmo tempo em que se emocionar com o jingle “Lula lá!” é um momento de catarse necessário para gerar uma energia que nos coloca vivos para o combate deve ser também, para toda a esquerda, um momento de reflexão, pois a esperança de dias melhores não pode acontecer de fato se repetirmos os erros do passado, com alianças com inimigos que querem destruir nossos sonhos e conservar tudo como está para manter seus privilégios históricos.

O general Augusto Heleno, do GSI de Bolsonaro, foi o comandante da “missão de paz”, a Minustah, liderada pelo Brasil no Haiti, cometendo atrocidades e covardias contra o povo haitiano, que se deu em 2005, no primeiro governo Lula. Um dos episódios mais sombrios da participação brasileira no cenário internacional, em uma intervenção a serviço da ONU, e exemplo de violência racista.

Para o Brasil ser feliz de novo, muita coisa vai ter que ser diferente. Precisamos acreditar na mobilização popular e não depender da colaboração e de alianças com aqueles que nunca tiveram compromisso com os interesses do povo brasileiro.


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