Luta de classes e eleição


Publicado em: 13 de junho de 2022

Brasil

Fábio José de Queiroz, de Fortaleza, CE

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Brasil

Fábio José de Queiroz, de Fortaleza, CE

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Compartilhe:

Ouça agora a Notícia:

O jornal Folha de S. Paulo (12/06/2022) ressalta o apoio a Lula nas “camadas populares”, destacando, por outro lado, que Bolsonaro “agrega fatias privilegiadas”, o que leva a matéria a falar de “dois brasis” que se opõem. O que diríamos a esse respeito, meu caro, a não ser: bem-vindo à luta de classes! 

Aqui, se pode cometer dois tipos de erros rigorosamente simétricos. O primeiro é achar que a luta de classes se reflete, tal como ela é, numa disputa eleitoral. O outro é achar que luta de classes e eleição não guardam entre si qualquer grau de conexidade. Compreendemos, então, que, de modo mediado, a luta entre as classes assume, durante os embates eleitorais, uma forma particular de expressão. 

Assim, as pesquisas de opinião têm refletido esse aspecto com notória evidência. Sabemos que a luta de classes aparece distorcida na eleição. Sabemos que as pesquisas de opinião não são – e nunca foram – o exemplo de uma matemática perfeita (tipo 2+2=4). Mas isso não é um fator impeditivo no sentido de constatar como a velha toupeira não deixa de marcar a sua ilustre presença no santuário da democracia burguesa. Portanto, luta de classes e processo eleitoral constituem uma variável relevante em qualquer ângulo de análise, desde que a abordagem seja séria e não despreze essa “coisinha” chamada realidade. 

Jair Bolsonaro mantém competitividade eleitoral porque tem apoio nas fatias privilegiadas da sociedade brasileira, e essa é bastante complexa, comportando uma base burguesa nitidamente consistente e setores médios suficientemente numerosos. Lula é apoiado pela imensa maioria da classe trabalhadora, notadamente pelos seus estratos mais empobrecidos. Quem tem “uma renda” de até dois salários-mínimos prefere o Lula. Quem dispõe de “uma renda” de mais de 10 salários-mínimos se acha um rei, afinal “em terra de cego quem tem um olho é rei”. E esse rei prefere a alternativa fascista a uma que tenha certo charme popular. 

Lula da Silva é a candidatura dos desvalidos em um país em que 33 milhões de pessoas passam fome, literalmente.

Lula da Silva é a candidatura dos desvalidos em um país em que 33 milhões de pessoas passam fome, literalmente. Bolsonaro é a candidatura de homens majoritariamente brancos, que podendo pagar 50 reais nas barbearias modernas, atendidos por profissionais vestidos a caráter, acham-se no dever de reproduzir uma situação na qual, supostamente, eles não figurariam no time dos explorados pelo capital. Nasce daí a “terrível” polarização, tão combatida pelos apóstolos da “terceira via”, que preservam o discurso do mercado no mesmo momento em que esse fabrica legiões de novos deserdados. São esses deserdados que buscam – entusiasmados – uma alternativa ao mercado, seja na versão “democrática”, seja na versão do barrete frígio. Eles não sabem que é contra o tal mercado que eles lutam. Como diria o outro: eles não sabem, mas fazem. 

Lula é absolutamente majoritário nos que mais sofrem os efeitos das contrarreformas tão defendidas pelos ideólogos burgueses: política de preços da Petrobrás, lei do teto dos gastos, reforma trabalhista, reforma da previdência etc. Daí a sua vantagem contundente nos setores mais sofridos da classe trabalhadora: as mulheres, os negros, os nordestinos, os segmentos mais espoliados da classe operária e do campesinato. São essas camadas populares, incluindo a ampla maioria dos servidores públicos, que podem conduzir à vitória eleitoral de Lula, apesar da fúria das fatias privilegiadas, que dormem e acordam todo santo dia, perguntando-se: “Onde foi que erramos? Moro, lava-jato, prisão do Lula, contrarreformas aprovadas, o país entregue à sanha do capital e, agora, o povo quer mudar o script da novela?” 

Pois é, um sujeito social chamado classe trabalhadora, precarizada nos locais de trabalho ou desvalida nas periferias e/ou em situação de rua, parece disposta a tocar o sol com as mãos, parece disposta a mudar o curso da situação política. Os próximos meses serão decisivos. Sabe-se que o fascismo pode ser derrotado nas urnas, mas, diferentemente de outras frações da burguesia, também precisa ser derrotado nas ruas. É uma tarefa de milhões e, hoje, esses milhões apoiam Lula. Seremos capazes de vencer? Essa é a tarefa que nos move. Eleger Lula é apenas o primeiro passo de uma jornada noite adentro.


Contribua com a Esquerda Online

Faça a sua contribuição