Entenda os planos de Bolsonaro e Guedes para acabar com a correção do salário mínimo e aposentadorias pela inflação

Ministro da Economia prepara plano que piora a vida da maioria dos trabalhadores, de aposentados e pensionistas


Publicado em: 21 de outubro de 2022

Brasil

Henrique Canary, de São Paulo, SP

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Brasil

Henrique Canary, de São Paulo, SP

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Compartilhe:

Ouça agora a Notícia:

O velho sonho de Paulo Guedes de desobrigar cada vez mais o Estado de suas atribuições sociais pode estar prestes a se concretizar, caso Bolsonaro vença as eleições. A Folha de S. Paulo publicou ontem matérias que revelam a proposta do ministro da Economia de acabar com a correção do salário mínimo e aposentadorias pela inflação passada. O tema foi denunciado inicialmente em vídeo do deputado federal André Janones (PSD-MG), que atingiu 3,2 milhões de pessoas, apenas no TikTok. O plano de Guedes, apelidado jocosamente no governo de “Plano 3D” (desvincular, desindexar e desobrigar), mudaria a atual regra constitucional segundo a qual o salário mínimo e as aposentadorias devem necessariamente ser corrigidos anualmente segundo a inflação, para recuperar seu poder de compra.

Segundo a regra que vale hoje, os salários e aposentadorias são corrigidos segundo o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor). Esse índice mede a inflação para as famílias mais pobres, de até 5 salários mínimos, pois leva em consideração o maior peso da cesta básica no gasto mensal. Já o governo estuda duas possibilidades de mudança.

A primeira seria trocar o INPC pelo IPCA. Parece até uma mera mudança de sigla, mas não é. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) avalia a inflação de famílias de até 40 salários mínimos, ou seja, é um índice que não reflete em nada a realidade do povo mais pobre.

A outra possibilidade seria corrigir os salários e aposentadorias segundo a meta de inflação, ou seja, a previsão de inflação futura. Como isso se reflete na realidade? Façamos as contas. Em 2021, o INPC (atual índice) foi de 10,23%, o que levou o salário mínimo aos atuais R$ 1.212,00. Já o IPCA (índice proposto) foi de apenas 5,03%, ou seja, menos da metade, porque neste índice pesa muito mais a inflação dos serviços, que foi muito menor que a inflação dos produtos alimentícios. Se esse índice tivesse sido aplicado ao salário mínimo, o atual valor do benefício seria de R$ 1.155,33. Já a meta de inflação foi de ridículos 3,5%, o que acabou muito distante da realidade. Se a aplicássemos ao salário mínimo, o atual valor seria de meros R$ 1.138,50. Ou seja, o que Paulo Guedes planeja é um verdadeiro confisco de salários e aposentadorias para equilibrar as contas do governo. É um novo estelionato eleitoral digno de Fernando Collor de Mello.

Como dito anteriormente, o atual mecanismo de reajuste está previsto na Constituição, o que exigiria uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) para ser modificado. Mas o preocupante dessa questão é justamente o fato de que o Congresso Nacional eleito pode muito bem oferecer a Bolsonaro maioria constitucional, a depender do comportamento de certos partidos.

Em reação ao escândalo, Guedes admitiu ontem à noite que o governo realiza estudos para modificar as regras do teto de gastos, mas negou que pretenda acabar com o reajuste de salários e aposentadorias pela inflação. No entanto, na mesma declaração, admitiu que os estudos em andamento visam corrigir os desequilíbrios causados pelo pagamento do Auxílio Brasil e diminuir a dívida pública. Ou seja, caso seja eleito, Bolsonaro pode até manter o Auxilio Brasil, mas isso será feito às custas do salário e da aposentadoria dos mais pobres.

Segundo o apurado pela Folha, Guedes pretende apresentar o plano ainda esse ano, logo depois da divulgação do resultado eleitoral.

Vale a pena lembrar que o salário mínimo e as aposentadorias já estão há quatro anos sem aumento real, apenas com a reposição da inflação, o que tem sido constantemente denunciado por Lula em sua campanha. Além disso, o orçamento de 2023 apresentado pelo governo novamente não prevê ganho real, o que significa que a miséria continuará sendo repartida pelos mais pobres, enquanto a riqueza será apropriada pelos mais ricos.


Contribua com a Esquerda Online

Faça a sua contribuição