Por Betto de la Santa, Colunista do Blog Esquerda Online
Para além do Capital, a investigação sobre a Teoria da Alienação e a obra sobre Sartre são até hoje uma inspiração. É um daqueles autores que se passa a ler sistemática e metodicamente, de perto e em conjunto. Não poderia deixar de ser assim após os grupos de estudos, cátedras livres e seminários de pesquisa conduzidos por Maria Orlanda Pinassi na Faculdade de Ciências e Letras da UNESP. Foram jornadas intensas, apaixonadas, de descoberta intelectual e desafio político.
Mais recentemente, já sob orientação de Marcos del Roio, foi possível conhecê-lo pessoalmente, em uma série de novos lançamentos, seus, e de Lukács, um de seus mestres mais bem-quistos. Nas atividades no campus da UNESP encontrei uma personalidade simples e afável, que falava um italiano bastante musical apesar de se expressar em um inglês notavelmente magyar. (E, como os mediterrâneos, falava com as mãos.) Detestava deferências, paparicos ou convescotes. Uma humanidade ímpar. Surpreendente.
A influência que legou, no Brasil, não deixa de ser algo difícil de explicar. Um país com índices de pauperismo e analfabetismo record que produziu best-sellers de alta filosofia, alta política e alta historiografia de um filósofo húngaro que pensava em alemão e escrevia em inglês. Aliás, uma prosa rigorosa, densa, difícil. E poderosa. Deixo cá um abraço forte a meus muitos amigos meszarianos, a meu ver, o melhor dos discípulos de Lukács. Hoje me somo a vocês e, com vossa licença poético-afetiva, sou eu um pouquinho, também, feito vocês. Ou um trotskista gramsciano que respeita e admira profunda e extensamente vosso trabalho, a valer. Va bene?
Sua relação com os movimentos sociais do trabalho, sua irrefreável perspectiva antirreformista / anticonciliatória, a crítica crítica das experiências social-democrata e stalinista no Séc.20, sua paixão vigorosa pelo gênero humano — das belas artes à vida cotidiana– e sobretudo sua convicção inabalável na capacidade de se constituir um antagonista coletivo ao sistema do capital, sua alma profundamente anticapitalista e socialista não deixam lugar a dúvidas. Perdemos um intelectual revolucionário. Não conheci a figura humana, nem de longe, mas sei já de seus escritos, como a palma das mãos. | Mészáros, presente.
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