Quando completados 30 dias de governo, Fábio Mitidieri veio a público apresentar a sua avaliação do início do seu governo. Como de praxe, sobraram avaliações positivas e um tom de que o governo está trabalhando muito. Trabalhando para quem? Para o povo sergipano ou para os grandes empresários e latifundiários? Tudo bem que não dá para esperar grande coisa de um governo que reivindica ser continuidade de Belivaldo, ou que “está com lulistas e bolsonaristas, desde que defendam Sergipe”, um discurso tão falso, quanto oportunista. Porém, o começo do governo foi ainda pior que o esperado.

Primeiro, indicou bolsonaristas e homofóbicos como “Pastor Jetter” para a FAPITEC, que representa exatamente o incentivo à ciência e tecnologia em Sergipe, e o “Capitão Samuel” para ser o responsável pela fundação Renascer, que trata da recuperação de jovens em conflito com a lei. Como uma pessoa preconceituosa, contrário à ciência vai gerir a Fundação de Apoio à Pesquisa Científica? Como alguém que defende uma política de violência e redução da maioridade penal vai cuidar da nossa juventude?

Segundo, o governador é um grande entusiasta das privatizações. O governador tem silenciado sobre o escandaloso crime ambiental ocorrido durante a transição da Petrobrás para as empresas privadas desde o ano de 2022. Com o processo de venda da empresa, piorou a manutenção e a tubulação se rompeu, poluindo a bacia do Japaratuba, atingindo diversos municípios sergipanos. Até o presente momento, silêncio diante dessa questão tão urgente e cumplicidade com o dano ambiental.

Terceiro, anunciou a parceria público-privada (PPP) da DESO. PPP é a mesma coisa que privatização. A Deso precisa de mais investimentos com certeza, mas investimentos públicos, fortalecendo a participação dos trabalhadores no controle da empresa que é um patrimônio sergipano. A empresa que vai assumir estará interessada no lucro e não no bem-estar da população mais pobre. Todos sabemos que a consequência da privatização é o aumento do preço da tarifa de água e piora nas condições trabalhistas. Não queremos isso! A Deso é empresa pública e não pode ser entregue pelo governador, devemos realizar uma consulta com toda sociedade sergipana.

Em quarto lugar, segue a reclamação da juventude e dos moradores de comunidades em relação ao tratamento da polícia, que continua violento, especialmente nas periferias e contra pessoas negras. O discurso de uma polícia “forte”, onde “bandido não se cria”, não pode servir para aumentar ainda mais a criminalização e a violência contra pessoas pobres, negras e vulneráveis.

Finalmente, até os caranguejos de Sergipe sabem que o governo Mitidieri é tutelado por um conjunto de empresários e políticos conservadores, tendo como maior expoente a figura de André Moura, seu bloco de deputados e prefeitos. André Moura é condenado por corrupção, e, por conta disso, recentemente foi impedido de ser candidato e de assumir como secretário de estado no Rio de Janeiro. É revoltante saber que pessoas como essas estejam nos bastidores do comando do nosso querido estado de Sergipe.

A esquerda sergipana e o papel do PSOL

Depois de 16 anos o PT é oposição ao governo do estado. Desde 2006 com a eleição de Déda isso não acontecia. Assim, a oposição que vinha sendo organizada basicamente pelos sindicatos de servidores públicos e o PSOL, deve se fortalecer no próximo período. Nesse sentido, é muito estranho a nomeação do neto de Lula pelo governo Mitidieri ou ainda acenos de Márcio Macedo e de petistas para voltarem a ser parceiros do governo do estado, como fizeram com Belivaldo e Jackson. Seria um grave erro setores da esquerda integrarem o governo de direita de Mitidieri.

Na verdade, a esquerda precisa se unificar ainda mais. Devemos superar as diferenças das últimas eleições e seguir em frente. O PT errou quando mais uma vez subestimou a força da militância do PSOL, preferindo o PSB de Valadares e acabou perdendo o governo e o senado. Com isso também diminuiu sua força na Assembleia legislativa, restando apenas um mandato. O PSOL manteve sua posição, com a eleição de Linda Brasil e por uma injustiça do sistema eleitoral não alcançou o segundo mandato com o professor Iran Barbosa. A partir das referências parlamentares do PT e do PSOL na ALESE, temos condições de virar a página, nos mantermos unidos, liderando uma firme oposição de esquerda, sem se confundir com a direita oportunista.

Todavia, sabemos dos limites da luta institucional, ainda mais numa assembleia legislativa cada vez mais conservadora. Por isso, a luta no parlamento deve refletir uma intensa e permanente mobilização de base. Nesse sentido, a política do PSOL deve ser impulsionar todos os sindicatos, movimentos sociais do campo e da cidade, comunidades quilombolas, extrativistas, pescadores, catadoras e marisqueiras, a juventude, enfim, o conjunto da classe trabalhadora sergipana para resistir ao desmonte do nosso patrimônio, ao avanço do agronegócio, à violência e o desemprego. Precisamos organizar uma forte oposição de esquerda em Sergipe, por meio da apresentação de um programa e uma agenda de lutas. Apresentamos abaixo algumas propostas e conclamamos todas e todos para fortalecer essa unidade nas ruas, seguindo o exemplo do ultimo 08 de março, dia internacional de luta das mulheres!

Em defesa da PETROBRÁS, CORREIOS, DESO e BANESE 100% públicos!

Plano de obras públicas para gerar emprego e construir equipamentos sociais!

Em defesa de mais investimentos públicos na saúde e educação públicas!

Currículos que incluam a diversidade de gênero e raça, com e inclusão digital!

Realização de concurso público pra toda as carreiras do estado!

Desenvolver o turismo de base comunitária, respeitando o ambiente e as comunidades!

Investimento em energias limpas e produção orgânica dos trabalhadores rurais!

Recuperação do Rio São Francisco e criação de Reservas Extrativistas – RESEX!

Câmeras nos uniformes policiais e fim da criminalização da juventude negra!

Criação de uma casa de parto e assistência à saúde específica para as LGBT’s!

Doação de terrenos e construção de casas populares para moradores de ocupação!

Pela ampla unidade da esquerda sergipana em um Fórum permanente de lutas!

março de 2023, Coordenação da Resistência/PSOL Sergipe