Notas sobre Cyril Lionel Robert James e seu legado para o internacionalismo negro


Publicado em: 31 de maio de 2024

Marxismo

Por Elber, do ABC Paulista (SP)

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Marxismo

Por Elber, do ABC Paulista (SP)

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Compartilhe:

Ouça agora a Notícia:

Neste dia 31 de maio completaram-se 35 anos da morte de C.L.R. James, militante comunista, historiador, pan-africanista e internacionalista. Trouxe ao mundo a grande obra “Jacobinos Negros” que mostrou a centralidade da Revolução que libertou o Haiti do escravismo para o fim do mesmo em todo o mundo e nas revoluções burguesas da época, com observando a totalidade através do desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo.

Foi amigo e colaborador intelectual de outras figuras como Kwame Nkrumah, primeiro-ministro de Gana que foi o primeiro país a se tornar independente da metrópole colonizadora em África no século passado, Eric Williams, escritor da elementar obra “Capitalismo e Escravidão” e primeiro-ministro de Trinidad e Tobago, com o qual teve sério conflito após o mesmo persegui-lo em período posterior, chegando a prendê-lo. Na obra “Uma História da Revolta Pan-Africana”, lançada pela primeira vez no mesmo ano que “Jacobinos Negros”, 1938, James estabelece especial diálogo com as concepções de determinadas vertentes do pan-africanismo e assevera a necessidade de romper com a dominação imperialista para além da independência política.

James e seus posicionamentos pan-africanistas foram amplamente influenciados por outros militantes, como a jamaicana Amy Ashwood Garvey, com a qual organizou solidariedade internacional à Etiópia que havia sido ocupada por tropas do exército fascista italiano. James, durante toda sua vida e obra não deixou de ser comunista e pan-africanista, articulando as duas visões numa construção crítica e inovadora, o que gera um aporte poderoso para a compreensão do capitalismo, do colonialismo e do imperialismo em sua história e nos dias atuais.

James não era um intelectual academicista. Sua busca por um profundo estudo e compreensão da realidade africana e caribenha, do capitalismo e do racismo em todo o mundo, e até mesmo do críquete, esporte do qual era fã, estava articulada com a construção das lutas da classe trabalhadora internacional, em suas mais diversas expressões. Além da já mencionada campanha de solidariedade à Etiópia, organizou congressos pan-africanistas nos quais possuiu papel destacado e dirigente, foi membro fundador da IVª Internacional ao lado de Leon Trotski, com a qual acumulou divergências posteriores relacionadas à questão negra e o SWP (partido da IVª atuante nos EUA) e à caracterização da URSS, levando o mesmo à organização de um agrupamento e posterior ruptura ao lado de Raya Dunayevskaya. James, durante boa parte deste período militou clandestinamente. Em 1952, chegou a ser preso nos EUA por “atividades antiamericanas”. Mesmo no início de sua atividade intelectual, James já dava atenção à luta dos trabalhadores ao escrever a biografia de uma das lideranças das greves petroleiras de Trinidad, André Cipriani, publicada em 1932. Ao final, permaneceu buscando aprofundar sua relação com o proletariado através da League of Revolutionary Black workers, fundada em Detroit em 1969.

Muito mais poderia ser escrito sobre a vida e obra de C.L.R. James, que permaneceu comunista e pan-africanista até os últimos anos de sua vida militante, articulando sua robustez teórica à sua seriedade prática. Para a militância de esquerda e movimento negro brasileiro é interessante o destaque à importância que o mesmo dava à questão deste país, ao solicitar a organização de painéis temáticos nos congressos que organizava, ao estudar a obra da escritora Carolina Maria de Jesus e ao intercâmbio que estabeleceu com pensadores como Abdias do Nascimento que participou de alguns congressos em que James esteve na articulação. Seu legado de promoção de um internacionalismo negro é essencial como referência teórica e militante para a construção de um universalismo concreto e emancipatório, assim como o da Revolução Haitiana de 1804 que fez tremer os escravistas no mundo todo, inclusive no Brasil.

Referências:
Farias, Marcio. C.L.R. James na Mira do Brasil: o Internacionalismo negro na luta contra o Capital. In: Revista Fim do Mundo, nº 8, jul/dez 2022
Mattos, Pablo de Oliveira de. George Padmore e C.L.R. James: A invasão da Etiópia, pan-africanismo e uma opinião africana internacional. In: Revista de Teoria da História — Volume 22, Número 02, Dezembro de 2019 Universidade Federal de Goiás — ISSN: 2175 – 5892
Zanin, Valter. Introdução à obra e à vida de C.L.R. James, ou da atualidade da revolução como realização do indivíduo social. In: Lugar Comum n.58 Rio de Janeiro: agosto 2020. ISSN: 1415 8604. 195-225

Top 5 da semana

Contribua com a Esquerda Online

Faça a sua contribuição