Erros de finalização custam caro e seleção marroquina não tem mais chances de chegar às oitavas de final
Quem assistiu a primeira rodada do grupo B deve ter tido a impressão, ao assistir ao jogo Portugal e Marrocos, de que estava tendo um dejavu do confronto dos gajos com os espanhóis e dos africanos contra o Irã. Tudo parece acontecer de forma muito semelhante. Cristiano Ronaldo é novamente decisivo logo no início, marcando aos 4 minutos, novamente fruto de uma bola parada, um escanteio que o português aproveita a falha de marcação do zagueiro Da Costa, repetindo o erro de Marrocos no gol do Irã, nos acréscimos.
Mas, chama a atenção é que o jogo português mesmo com CR7 em campo praticamente se limita ao gol, e uma segunda finalização de Guedes com passe do melhor do mundo, desperdiçando de frente para o gol. Quem esperava ver mais um show de Cristiano Ronaldo, acaba assistindo a seleção de Marrocos dominar toda a partida, envolvendo os europeus com passes rápidos e curtos na transição do meio para o ataque. Os dominados africanos dominam seus dominadores europeus, acuam a seleção portuguesa em seu campo, impondo-a defender em muitos momentos com 10 jogadores postados na intermediária do seu campo de defesa.
Portugal se mostrou incapaz de gerar contra ataques e manter o domínio de bola, por isso CR7 e Bernardo Silva pouco apareceram. Parece ser um time que vive de um só jogador e um lance isolado. Sua sorte é que Marrocos, apesar da qualidade da equipe nem de longe tem a capacidade de finalização da Espanha. A equipe rondou a entrada da área sem conseguir um último passe preciso para criar lances de finalização. Jogando insistentemente pelos lados, com Ziyech (Ajax-Hol) pela esquerda e El Ahmadi (Feyenoord Rotterdam) pela direita, pouco conseguiram produzir de efetivo no ataque para a finalização de Belhanda (Galatasaray-TUR), que joga pelo meio, ou para o centroavante Boutaib (Yeni Malatyaspor-TUR), pouco eficiente dentro da área.
As melhores chances são novamente em bola parada, em particular uma cabeçada dentro da área do camisa 10 Belhanda, para grande defesa de Rui Patricio, lembrando Gordon Banks contra Pelé em 70. Para a ironia do destino, as melhores chances caem nos pés do astro da seleção marroquina, Benatia (Juventus-ITA), em duas bolas paradas a pelota sobra dentro da área na sua perna esquerda, o zagueiro mostra que finalização não é o forte de Marrocos e manda as duas para o alto.
Por fim, dois fatos chamam a atenção, primeiro, a capacidade de decisão e competitividade de Portugal, mesmo apresentando um futebol coletivo muito abaixo das principais seleções da copa, CR7 vem decidindo as partidas. O jogo se restringe a construir um lance para definição do seu gênio, sem dominar as partidas. Em 2016, Portugal conquistou a Europa, desse modo, de gol em gol de CR7. Praticamente classificada para a segunda fase, a incógnita é até onde o gajo pode chegar no torneio.
O segundo fato a destacar é sobre o total desconhecimento por parte dos narradores e comentaristas da Globo sobre a equipe africana, inclusive se mostraram totalmente surpresos pelo seu domínio do jogo contra Portugal. Essa surpresa só demonstra como os meios dominantes de comunicação tem total desinteresse sobre tudo que se refere à Àfrica, inclusive futebol. O rendimento de Marrocos não deveria ser novidade para especialistas, uma vez que seu resultado nas Eliminatórias Africanas foi impecável, se classificando invicta com três vitorias, três empates, onze gols marcados e nenhum gol sofrido em um grupo com Costa do Marfim, Gabão e Mali.
Mas, a principal informação relatada durante a transmissão é a composição da seleção marroquina em sua maioria por atletas nascidos fora de Marrocos (oito franceses, cinco holandeses, dois espanhóis, um belga e um canadense). Esse fato emblemático demonstra como futebol e política não se separam. A dita melhor seleção da história de Marrocos, é composta em sua maioria por filhos e netos de imigrantes que saíram de seu país nas diversas diásporas africanas. Obrigados a deixar seu país pela história de opressão e exploração do continente africano pelos colonizadores europeus. É simbólico que esses jovens e promissores atletas escolheram defender as cores da seleção marroquina, é um retorno à mãe áfrica, um resgate de suas raízes, é um gesto político importante em um momento em que a intolerância, o racismo e a xenofobia se ampliam na Europa. O futebol não é isento ao racismo e a exploração, assim como, também não é aos atos de resistência, não é por acaso que Holanda esteja fora da copa e a Marrocos classificada.
Mais sobre a cobertura da Copa do Mundo na Rússia no Lateral Esquerda: http://esquerdaonline.com.br/a-lateral-esquerda
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