Por: Alexandre Barbosa*, do Rio de Janeiro, RJ
O dia 15 de março ficará como um exemplo para os ativistas brasileiros. Greves, atrasos, corte de estradas e grandes atos marcaram esse dia. Avaliações apontam para quase 1 milhão de participantes em atos por todo o país. Uma vitória que anima a todos e nos traz as condições de perceber que é possível lutar. Esse dia de luta só foi possível porque foi construído a partir de uma grande unidade envolvendo todas, ou quase todas, centrais sindicais, movimentos populares e a esquerda, em sentido amplo, do país.
Categorias importantes como educadores, metroviários, bancários, correios, metalúrgicos e servidores públicos foram vanguarda, animando a massa que tomou conta das ruas das cidades brasileiras. Sem dúvida, esta foi a maior ação coordenada que os movimentos sociais fizeram nesse século. Muito diferente de junho de 2013, que foi uma explosão popular de maiores dimensões, mas que não passou pela intervenção das categorias organizadas. Por isso podemos comemorar e precisamos preservar esse avanço como um passo fundamental para a acumulação de forças para a construção de uma greve geral.
Uma das lições importantes desse 15 de março é que podemos e devemos fazer unidade na ação, frente única e tudo que potencialize a mobilização de todas as forças sociais e políticas que se disponham a resistir ao desmonte de direitos da classe trabalhadora. Teremos que construir juntos comitês contra a reforma da previdência nos locais de estudo, trabalho e moradia. Entretanto, é necessário construir um polo classista e socialista dentro desse processo. Apesar de devermos seguir construindo uma ampla unidade para lutar, não podemos ser inocentes. As manifestações demonstraram também que o projeto lulista sobrevive e ainda é majoritário na esquerda. A ruptura da classe trabalhadora com o PT e Lula é incompleta.
O PT se desgastou muito com as denúncias de corrupção e as prisões de seus quadros. E por isso sofreu uma grande derrota nas eleições de 2016. Entretanto o PT vem conseguindo se manter como referência, especialmente a partir do nome de Lula, que segue sendo a maior referência de liderança popular para amplas parcelas da população, especialmente para aquela que esteve nas ruas nos dias 08 e 15 de março.
Essa questão se apresenta nos atos de duas formas: uma com a construção da candidatura Lula 2018. A outra é a reaglutinação dos movimentos subordinada ao projeto eleitoral lulista, via Frente Brasil Popular (FBP), totalmente comprometida com projeto eleitoral de Lula.
Não podemos fugir do debate sobre o que fazer nas eleições de 2018
Sobre o debate eleitoral não adianta fingirmos que ele não existe e repetir um mantra “vamos lutar contra as reformas”. Isso não resolve o problema e na prática facilita a vida daqueles que têm como estratégia a conciliação de classes. Passamos 3 mandatos e meio convivendo com e combatendo contra esse projeto no governo central do país. Algumas concessões à classe trabalhadora foram feitas, como o aumento do salário mínimo; de empregos com carteira assinada; com a implantação de políticas sociais focalizadas, como o bolsa família, ou de projetos que também são interessantes para o grande capital, como o Minha Casa Minha Vida, cuja maior parte dos financiamentos é absorvida pelas empreiteiras.
Enquanto a crise capitalista teve sua repercussão no país contrabalançada pelas exportações para a China e a elevação do poder de consumo dos setores mais pauperizados (em razão daquelas políticas sociais e da elevação, pequena, mas real, do salário mínimo), foi mais fácil apresentar a face “popular” daqueles governos. Porém, quem mais ganhou foram os grandes empresários. A burguesia desse país não teve do que reclamar, como Lula aliás sempre repete, com certo orgulho, pois nunca ganhou tanto dinheiro. Não podemos esquecer que o PT também fez uma reforma da previdência, não tão cruel como esta, mas fez. Dilma já tinha apontado para a “necessidade” de um plano de ajustes que jogaria a crise nas costas dos trabalhadores/as e ainda em seu mandato iniciou os estudos sobre a reforma da previdência. Temer leva isso adiante com maior profundidade e, até aqui, rapidez. Então não há nada que nos leve a crer que o projeto do campo lulista mudou.
O PT sofreu um golpe e isso é evidente na nossa opinião. A queda de Dilma está ligada a dois motivos centrais: O primeiro é que a crise do capitalismo aberta em 2008 exige das empresas imperialistas que, para sobreviverem, tomem fatias do mercado conquistado pelas empresas de países como o Brasil. Não podemos esquecer que a Petrobras e as empreiteiras expandiram muito seus negócios pelo mundo (especialmente na América Latina e África, mas não só). Por isso o ataque tão violento à Petrobras e as empreiteiras. A burguesia internacional para se preservar vai retomando o controle total sobre esses mercados. Seja quebrando uma ou outra empresa nacional, seja privatizando a Petrobras. O segundo motivo é que a burguesia precisa das reformas para tentar preservar seus lucros e fazer com que os trabalhadores/as paguem pela crise.
O PT, depois de junho de 2013, não teve mais condições políticas de implementar esses ataques, ao menos não no ritmo e profundidade exigidos pela burguesia. Se a burocracia não consegue mais garantir os planos da classe dominante e a “paz social” ela perde sua utilidade no governo. E a burguesia precisa de um governo que consiga impor seu plano. Por isso, essa grande unidade em torno de um governo impopular como Temer. Para derrubar o PT a direita mobilizou a classe média e impôs uma pauta reacionária. Consumando o golpe, impôs uma mudança na situação política do país. Ou seja, piorou a situação para os trabalhadores/as.
Nesse sentido, a Frente Brasil Popular trabalha na construção de uma grande unidade em torno do projeto Lula 2018, impondo assim fortes pressões sobre a Frente Povo Sem Medo, que tem no seu interior alguns setores vinculados ao projeto democrático popular de conciliação de classes, como a CUT por exemplo, que foi base de apoio dos governos petista. Também pressiona muito parte do PSOL e demais setores do movimento social organizado que até o momento não apresentaram uma alternativa a Lula. Isso quer dizer que não devemos fazer unidade com eles nas lutas reais, como o combate às reformas? Claro que NÃO. Esse alerta é para que não tenhamos ilusões. Já conhecemos onde o projeto de conciliação de classes do PT deságua. A esquerda socialista não pode cair nessa armadilha outra vez.
Diante disso, é urgente construir o terceiro campo. A Frente de Esquerda Socialista (FES) é uma necessidade de nossa classe. Ter um pólo que tenha uma política independente é a única saída para avançarmos numa política classista. Isso se dá por dois caminhos: o primeiro na intervenção nas lutas concretas. Organizando conjuntamente greves, passeatas e demais ações diretas contra a retirada de direitos. E o segundo com a construção de uma candidatura à presidência. Nessa parte cabe a aliança eleitoral com o MTST, se tivermos acordo em apresentar um programa de enfrentamento ao capital. Não há espaço para nenhuma aliança eleitoral com o PT, PCdoB e nem com os partidos burgueses. Assim é urgente a formação dessa unidade da esquerda socialista numa frente única.
Nessa proposta não há como ter uma postura sectária ou autoproclamatória. Somos minoritários e a conjuntura exige unidade para resistir aos ataques, mas precisamos avançar na construção dessa alternativa.
A Nova Organização Socialista, desde sua formação, teve nessa política uma de suas bandeiras centrais e hoje, com a volta das velhas direções às ruas, a proposta de formação da FES é ainda mais atual e fundamental. Ou seja, a Frente de Esquerda é a condição essencial para que possamos participar das ações unitárias contra o governo Temer e as reformas com peso suficiente para nos diferenciarmos do projeto lulista e apresentarmos uma alternativa à esquerda.
Só um processo de mobilização social que leve à construção de um programa de governo que expresse a ruptura com capital poderá apontar soluções reais para os problemas de nossa classe. Mas isso dependerá da unidade da esquerda socialista, para que tenhamos a possibilidade de acumular forças no combate à burguesia.
*da Nova Organização Socialista (NOS)
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