Por: Gabriel Santos, de Marechal Deodoro, AL
A greve da Polícia Militar, no Espírito Santo, a paralisação da mesma no Rio e a participação desta em atos contra o governo Pezão, fez com que o debate sobre a desmilitarização da PM voltasse à tona, não só nos fechados círculos da esquerda socialista. Mas, diante destas greves e paralisações, como a esquerda deve atuar? Devemos apoiar as greves? Ser contrários às mesmas? E, afinal, a que classe pertencem os soldados da PM?
Dentro da esquerda, companheiros lembram a posição tradicional do marxismo revolucionário em relação às forças armadas, que constitui em separar os comandantes de alta patente dos subordinados, trazendo os soldados para o lado das massas. Outros companheiros, afirmam que a PM não pode ser igualada ao exército, logo, são uma força meramente repressora e não devemos apoiar suas demandas corporativas.
Acho que aqui cabe fazer mais perguntas. A estratégia dos revolucionários do século passado para as forças armadas ainda se mantém atual para o século XXI? A política para as forças armadas é a mesma para as forças policias?
Policial militar é membro da classe trabalhadora?
Não acho que nenhum companheiro seja qual for sua posição, tenha ilusões no caráter da PM. Na verdade pesquisas mostraram que mais de 70% da população não confia nesta instituição. Mas é preciso iniciar o debate demarcando uma primeira posição, e na minha opinião, os policiais militares são agentes da repressão. Os policias militares não são parte da classe trabalhadora. Pois, eles não contribuem direta ou indiretamente para a reprodução do capital, essa é a questão. Não é porque recebem um salário do Estado e são servidores públicos que podem ser considerados parte da classe trabalhadora. Os professores e médicos, por exemplo, cumprem papeis sociais necessários para a acumulação capitalista, diferente de um soldado da PM.
A função social da Polícia Militar é reprimir, é especificamente essa. São agentes da burguesia contra os trabalhadores. Sua posição faz lembrar a de um capitão de mato. Isto apesar de receberem salários baixos e terem condições ruins de emprego. Apesar de conviverem diariamente com os trabalhadores, já que muitos policias militares vivem ou vieram da periferia. Apesar disto tudo, não podem ser considerados como trabalhadores, porque não criam ou reproduzem lucro para a acumulação de capital. Esta é a condição essencial, indo além do assalariamento, para considerar determinada profissão como trabalho no sentido marxista do termo.
Qual política frente a uma manifestação de Policias Militares?
Minha posição é que os policiais militares não são membros da classe trabalhadora. Então como fazer diante de suas mobilizações por melhores condições de trabalho e por melhores salários? Manifestações que se chocam com o desejo de aplicar um ajuste fiscal de governos.
Antes de partir para o caso especifico da greve da PM, é importante colocar que não são todas as mobilizações de massas ou dos trabalhadores que são progressivas. Muitas vezes mobilizações multitudinárias ocorrem com caráter reacionário. Caso dos atos pelo impeachment de Dilma. A classe trabalhadora também pode ser ganha para mobilizações com caráter regressivo. O que determina se devemos apoiar ou não uma manifestação são suas pautas, sua direção e a saída que esta mobilização aponta para a questão apontada.
No caso especifico da greve da PM, setores da esquerda apontam que é necessário apoiar a greve dos policias militares por esta se chocar com o governo, enfraquecendo o mesmo e até gerando divisões nas tropas. Infelizmente as coisas não são tão simplistas assim. O governo pode até chegar a se enfraquecer com a greve de policiais militares, mas a pergunta é, quem se fortalece? As forças reacionárias à direita ou a esquerda socialista? O que tem de progressivo em enfraquecer o governo e entoar cânticos em apoio a Bolsonaro e a Ditadura militar, como chegou a ocorrer no Rio no início do ano?
As tropas podem ser enfraquecidas, mas o que não garante que surgirão grupos de policias que passarão a atuar enquanto milícias? No caso do Espírito Santo, a greve da PM fez com que o Exército e a Força Nacional fossem chamados para conter a crise. A população clamava para que a greve da PM acabasse logo e assim “a segurança fosse retomada”. Sem falar com que o Exército foi aplaudido nas ruas da capital capixaba. Com a reivindicação atendida e melhores condições de trabalho, o que fará os policiais militares? Significa dizer que agora estes têm melhores condições para continuar a reprimir e a exterminar a juventude negra. Agora têm melhores motos, carros, armas, para fazer sua função social: reprimir.
Esta é minha posição. Não devemos apoiar estas mobilizações da Polícia Militar. Elas são meramente corporativistas. Não colocam em xeque a ordem militar da instituição, elas não falam em desmilitarização.
O século XXI e a atualização do programa
Os revolucionários do século XXI ainda têm muito a provar. A teoria marxista e o programa das organizações socialistas precisam dá respostas as novas questões que surgem na realidade. Não adianta repetir como um versículo bíblico citações dos nossos mestres em situações extremamente diferentes das que eles vivenciaram. Precisamos atualizar a nossa estratégia para a atuação nas forças armadas e nas forças policias.
Hoje por hoje, a atuação revolucionária nas forças repressoras do Estado é uma situação meramente hipotética e uma discussão teórica. Ainda mais porque a atuação da esquerda socialista, infelizmente ainda se encontra restrita aos muros das universidades. As instituições da burguesia e de seu Estado, como parlamento, o Exército, Marinha e Polícia Militar, ainda não estão em disputa.
Sabemos, por meio das experiências históricas, que a tomada do poder por parte do proletário e seu Partido, não acontecem sem um momento de duplo poder. Neste momento, que ainda não está no horizonte, a divisão das forças do exercito, ou a constituição de um Exército Popular, são questões fundamentais. Como faremos isto são perguntas que não sei como responder aqui.
Foto: Reprodução TV Globo
OBS : O texto representa as posições do autor e não a linha editorial do site Esquerda Online. Somos uma publicação aberta às opiniões e polêmicas da esquerda socialista.
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